segunda-feira, 28 de dezembro de 2009
Inseguranças
Esta será certamente a minha última entrada do ano. Como humano e ser simples que sou olho para trás e faço um balanço destes últimos 362 dias. Foi um ano intenso, emocional, de vitórias e fracassos. Fiz opções das quais me arrependo e outras das quais me orgulho. Sofri com algumas e fiz sofrer com outras. A velocidade que me imponho a mim mesmo não me deixa respirar. Não há nada nesta existência que não tenha consequências. Já aqui escrevi sobre a teoria do Chaos, que de resto se aplica a tudo na vida. As inseguranças que me atormentam dão me alento para continuar e lutar pelo mais básico dos direitos humanos: a felicidade. Sou uma pessoa mais simples do que há um ano atrás. Não obstante, sou mais intolerante e intransigente contra a mesquinhez e sentimentos negativos como inveja, ciúme e hipocrisia. Mas as inseguranças inundam o meu espírito de algum sofrimento que tento combater. Por vezes sinto que me estou a enganar a mim mesmo. Por vezes mergulho a cabeça na areia e quando olho de frente não vejo a realidade que se me apresenta. O meu grande medo: a desilusão. Já fui demasiadas vezes enganado para não temer o desamor. As inseguranças são transversais a tudo: vida profissional, pessoal e sentimental... Quem se afirmar completamente seguro de tudo só poderá ser um Deus ou o seu egocentrismo tornou-se patológico. Olho para trás e vejo o iceberg onde naveguei no último ano. Alguns fragmentos desprenderam-se de mim para sempre, deixando no entanto a sua imagem negativa de puzzle imperfeito. Como nos "coristas" não há acção sem reaccção e tudo o que nos fazemos e infligimos aos outros acaba sempre por se reflectir em nós. Desejo uma excelente passagem de ano a todos. A minha será a trabalhar. Mas não me importo... Ou então sim.
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
Feliz Natal
Aproveito estes momentos em que a familia ainda não está toda reunida para escrever estas breves palavras. Desejo um feliz Natal a todos os que por aqui se passeiam. E fiquem com este pensamento, enquanto estiverem no quentinho da vossa sala, a trocar presentes, a encher o estômago até à exaustão de comidas e bebidas, alguém no mundo está debaixo de uma caixa de cartão ao relento e à fome... Por isso, parem para reflectir sobre aquilo que todos nós fazemos desta sociedade miserável e egoísta. Bom Natal.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Fragmentos
Os momentos vão-se sucedendo sem fio condutor. Os erros cometidos não podem ser apagados. Precisava de uma ligação-terra que descarregasse o excesso de energia que me tolda a vista e me prende a voz. Não consigo falar perante as evidências. Não sei o que procuro e insisto em afastar tudo o que se possa assemelhar ao amor. Tudo é facilmente confundível quando se ama. A amizade torna-se obrigação, a presença metamorfoseia-se em estagnação e a liberdade esfuma-se entre os dedos. Quando nos desprendemos de alguém isso nunca acontece na totalidade. Por muito que não se queira o sofrimento que se inflige acaba sempre por se virar contra nós mais cedo ou mais tarde. Todas as energias negativas têm o oposto positivo por aí algures. Podemos passar uma vida inteira sem as encontrarmos enquanto outros as açambarcam. As relações sucedem-se como se de camisas se tratassem numa busca desesperada pela felicidade. E eu já a tive... duas ou três mas já a tive. E foram essas as duas ou três frustrações que minaram cirurgicamente os pilares da estabilidade, como bombas terroristas que quando menos se espera dilaceram tudo e todos. A última relação parece ser sempre para vida mas isso nunca acontece. Quando olho para os meus pais, tios e avós vejo uma realidade que desapareceu da nossa existência. As relações eram para a vida, não sei com que custos ou ganhos secundários - ou melhor até sei, mas não quero disso falar. Agora tudo é volátil e de curta duração. O romantismo da viuvez desapareceu pela imponência do divórcio e da separação. Sempre que de amor falámos nenhum de nós se compreendeu na realidade. Se ele existisse terias sabido esperar e compreendido que mesmo quando não se está a mente acompanha-nos, envolve-nos e surge a saudade. A crueldade dos teus actos fragmentou tudo aquilo que poderia ter existido. A saudade deu lugar ao ressentimento e implorei a partida. Apesar de ti nada saber as tuas marcas continuam por aqui espalhadas. Embora não saiba já quem tu sejas ou se alguma vez soube. Tudo são fragmentos da minha existência onde as várias peças do puzzle deixaram de se encaixar. E tudo se repete mais uma vez. Mudam as personagem, mudam os cenários mas os sentimentos são os mesmos e dor salpica tudo com a mesma roquidão que o choro nos habituou.
domingo, 29 de novembro de 2009
domingo, 15 de novembro de 2009
I choose to forget.
Perco-me na linha do horizonte. Várias vezes me confrontei com esta defesa mágica que é o esquecimento. Consigo com destreza libertar-me de todas as memórias más. Deixam de existir. Mudo assim as vivências ao sabor da minha vontade. Na realidade a nossa memória é algo de muito pouco fiável. As nossas lembranças têm sempre, antes e depois, várias camadas arenosas que só as carregam de subjectividade. Cada vez que evocamos uma memória esta poderá ter diversas cores dependendo do nosso estado de espírito actual. Escolhi apagar-te da minha memória como se nunca tivesses existido. Cada vez que olho para as velhas fotos onde tu apareces não te reconheço. Relembro as minhas viagens pelo mundo islâmico e sei que me acompanhaste, embora a tua presença esteja desfocada e não passes de uma imagem abstracta na minha mente. Contigo as memórias boas e más misturaram-se de tal forma que foi de todo impossível filtrar o que deveria guardar. Os momentos negros de algumas intersecções nos nossos caminhos foram demasiado corrosivos para a nossa própria existência. Naquele dois de Março a tua existência para mim deixou de fazer sentido. Abandonaste tudo aquilo em que eu acreditava. E eu decidi esquecer-te. Por momentos pensei que tudo poderia ter sido diferente. Mas nesse par de anos que resisti as peças foram-se desmoronando e o puzzle perdendo a sua essência. Agora é que como se nunca nos tivéssemos conhecido. Vejo-te nas minhas fotos e não te reconheço não sei quem és e surpreendo-me por ter a tua presença constante ao meu lado.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Disney Store
Entrei a semana passada na Disney Store do Colombo com o intuito de comprar uns pijamas engraçados aos meus rebentos. Saí de lá com cuecas, meias, uma almofada do Jack e não mais porque consegui resistir à colaboradora disney que literalmente não me largava a roupa interior. A simpatia pré-fabricada que os colaboradores de certas superfícies exercem sobre os clientes são uma náusea. A maioria das empresas, sobretudo americanas, dão formação e instruções claras aos seus colaboradores como leva-los a consumir mais e mais e mais. Às vezes os colaboradores lêem demasiado à letra as suas guidelines e tornam-se insuportáveis. Por razões óbvias não vou sequer descrever a pessoa em questão... Mas se forem à Disney Store do Colombo e derem de caras com a colaboradora em questão depressa se irão recordar deste texto. Confesso que acabei por consumir e consumir só para a mulher me desamparar a loja e me deixar a ver as coisas em liberdade... Não há coisa mais irritante do que estar a ver coisas com calma e ter sempre alguém ao meu lado a perguntar se preciso de ajuda, de conselhos, a aconselhar outros produtos que não me dizem absolutamente nada... etc etc etc. A minha vontade foi não voltar a entrar naquela loja... Mas a porra é que é a única que conheço em Lisboa com os produtos encomendados pelos rebentos. Foi só um desabafo. Mas há pessoas que não se aguentam. A conta dela deixei 98€ em meia-dúzia de porcarias. Até na caixa quando fui pagar por azar ela trocou com a coleguita e foi-me atender... Queria-me impingir uma bola de neve dos 7 anões... Chiça.
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
(Sem título)
Há textos que padecem de títulos. Os rótulos, essa tendência universal da actualidade, só servem para guardar em caixinhas as nossas próprias frustrações. Continuo sem perceber essa necessidade humana de arquivar e rotular emoções, comportamentos, vivências, opiniões e atitudes, como se fossem estanques e não se interceptassem. Na maioria das vezes o que se passa mesmo é uma amálgama de intersecções. Não há branco ou preto, certo ou errado, feio ou bonito etc ou etc. As coisas misturam-se e dependem da luz e hora com que as confrontamos. Cada vez mais combato-me a mim mesmo essa necessidade de rotular e organizar no meu pensamento aquilo que se me depara. É a minha luta contra a mesquinhez. Tudo é um grande tutti-frutti. Que se fodam os rótulos e os títulos, que só servem para, numa atitude adolescente, continuarmos-nos a comportar em grupinhos e a discriminar tudo aquilo que não se encaixa nos valores preconceituosos pré-concebidos... E uso este pleonasmo só para dar força às misturas. A vida é uma orgia.
PS: Continuo a ficar impressionado pelo facto da maioria das pessoas que aqui caiem venham à procura das mamocas da Diana Chaves que são as palavras-chaves mais prevalentes na estatística deste blog. É a prova viva que o engodo sexual continua a atrair pessoas para esta teia. O que também comprova que a maioria das pessoas que navega serão homens à procura das mamas da Diana Chaves. É universal, por alguma razão a viúva negra tem tanto sucesso em atrair vítimas...
sábado, 5 de setembro de 2009
A memória comediante.
Tenho um relógio de parede na minha sala com a inscrição "do not forget". E eu não me esqueço, mas gostava. Apesar de ter uma memória selectiva e conseguir eliminar completamente episódios que pouco ou nada me dizem, há muitos outros que se mantêm e me condicionam nas minhas acções. Claro que a memória é talvez o elemento humano que mais partidas nos prega. Não há uma única que tenha sido exactamente como nós a recordamos. Elas mudam-se e adaptam-se como plasticina nos cantos mais recônditos da nossa mente. As memórias vestem diferentes cores de acordo com os nossos estados de espírito. Se umas vezes nos parecem dramáticos os momentos vividos outras vezes são nos quase indiferentes. A memória é assim uma comediante. Há pessoas que distorcem completamente as memórias, ou pela imaginação fértil ou por uso intempestivo de prozac. Esse grande atentado contra a criatividade. As memórias assim pura e simplesmente não existem. Os registos fotográficos ajudam-nos a situar-nos em momentos envelhecidos mas aquilo que dali advém pouco ou nada teve a ver com a realidade passada. Isto leva-me a concluir que não existe uma verdadeira realidade. Esta é tão distorcida como o som do meu velho walkman em que revivo em cassete o mítico Leonard Cohen. Doesn´t matter who broke my heart. But it hurts.
ironias
Fui à tarde a um dos parques infantis aqui da zona. Os meus filhos ansiavam pelos escorregas e baloiços prometidos desde que acordaram às 7.00 da manhã a um sábado. Quando chegámos estavam 6 ou 7 miúdos, negros, alguns de cuecas a divirtirem-se com guerra de balões de água. Os meus filhos continuaram a brincar sem dramas ou medos infundados, ou não, já que aquelas crianças eram todas oriundas do famigerado bairro da Cova da Moura que de vez em quando migram até estas redondezas. Rapidamente me lembrei da "cidade de Deus". Podiam ser perfeitamente intérpretes dessa realidade crua e dura. Os miúdos continuavam a divertir-se com os balões de água. Entretanto vejo um senhor de telemóvel em punho sem criança por perto. Achei estranho mas continuei a minha leitura do "expresso" enquanto vigiava os meus rebentos. Um dos miúdos tinham um ar perfeitamente "mafioso", mas em ponto pequeno, crista na carapinha e as sobrancelhas com vários cortes. Outro apresentavam um polegar completamente destruído com várias cicatrizes de corte. Confesso que aquele grupo me causou algum desconforto e um pequeno medo interior infundado, ou não, já que os miúdos são da Cova da Moura e não raramente responsáveis em grupo por assaltos, vandalismo e mesmo agressões a adultos e recordei a "cidade de Deus". Os meus filhos continuaram alegremente a brincar. Entretanto ouço um dos miúdos a gritar para os outros - "Vem aí a polícia." Olhei para o pequeno "mafioso" e disse-lhe: "Não tens nada a temer" "Se não estão a fazer asneiras a polícia não vos importunará". Perguntou-me se era proibido atirar balões. Respondi-lhe que logo que fosse entre eles que não. Não podiam era atirar a outras pessoas. De repente no meio do parque infantil sobem dois polícias, um pai de telemóvel em punho, uma mãe de sotaque brasileiro e 4 ou 5 miúdos brancos que eu chamaria há 20 atrás - que grupo de betinhos. Os polícias perguntaram aos miúdos se eles ontem tinham roubado um fio de ouro! Ao que responderam que não. A brasileira pergunta a um dos miúdos betinhos se era algum daqueles - ao qual o miúdo de 8 ou 9 anos responde em alto e bom som que eram muito parecidos, não eram estes, mas que também eles eram todos iguais! Os polícias continuaram por ali e o meu sentimento de medo e insegurança só aumentou! A brasileira gritava com sotaque brasileiro que deviam era ser todos expatriados! - pasme-se. Que se fosse nos Estates eram todos repatriados. - pasme-se a Brasileira e os polícias e o pai de telemóvel em punho e os betinhos que andam de fios de ouro no meio dos parques infantis... Perante tudo isto eu agarrei nos meus filhos e vim-me embora antes que vomitasse para cima de alguém.
É triste verificar que os racismos, estigmas e discriminações se iniciam nas mentes bem imaturas. Ó mãe: o que é expatriados?
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Sempre pensei que não gostasses de praia
Sempre pensei que não gostasses de praia. Desde que te conheci, ou não, desdenhaste os pés na areia, a água fria da nossa costa atlântica, os gritos das crianças correndo, os pregões das bolas sem creme, que a ASAE anda à coca e os mirones nos altos das falésias, sentados nas suas famel à espera do desmoronamento fatal. Sempre te ouvi tecer mil argumentos a favor das piscinas num resort qualquer por aí perdido. Eu a olhar para ti e para o teu cabelo eriçado pela humidade da maresia que tu também desprezavas. Eras capaz de estar duas horas em minimalismo repetitivo a queixares-te que pela minha manipulação metereológica estavas com um cabelo num estado miserável. E eu gostava do teu cabelo num estado puro e miserável. Sempre pensei que não gostasses de apanhar boleias. Sempre demonstraste a tua independência (e muito bem) e o gosto mais que justificado para teres o teu carro sempre a teu lado para abandonares os sítios sempre que te apetecesse. E eu gostava dessa tua faceta auto-suficiente, mesmo quando te queixavas dos 200 km que fazias diariamente. Sempre pensei que não apreciasses turismo independente, perdida por ruas e vielas num qualquer país distante, sujo, imundo, habitado por pessoas com hábitos e visões diferentes dos nossos. Mas surpreendeste-me no meio daquele caos que nós vivemos.... e reclamavas reclamavas até à exaustão e eu achava-te graça, mesmo quando deixava de te achar graça. Sempre pensei muitas coisas... algumas acertei outras nem por isso. Afinal aprecias boleias e espantosamente gostas de praia. E sempre acabaste por fazer turismo independente. Nunca se conhece ninguém na realidade. :)
terça-feira, 1 de setembro de 2009
o meu baú de velhas memórias
É sempre presunçoso escrever sobre memórias quando só conto com pouco mais de 3 décadas de vida. No entanto as memórias dependem da intensidade de quem as viveu. E apesar de tudo já guardo em mim muitas alegrias, tristezas, viagens, asneiras, maldades, bondades... Sempre tive dificuldade em entender o tempo como uma realidade contínua. Tenho imensa dificuldade em conseguir situar-me perante a relatividade do tempo. Talvez por isso sempre tenha tido as teorias einsteinianas como favoritas. Há um canal novo na minha grelha de canais novos que aprecio muito: Nat Geo Music. Ainda hoje mesmo, depois de uma tarde devotada à adolescência, onde passei metade da tarde a dormir e a outra metade a jogar Batman: Arkham Asylum resolvi ligar a TV, coisa que raramente faço, e deparei-me com música dominicana e depressa me transportei para as memórias da minha viagem solitária e independente por toda a costa norte da ilha. Recordei todas as introspecções feitas até então. Tinha-me acabado de divorciar há pouco tempo e a ferida ainda estava aberta e purgativa. Na realidade ainda está. E se querem mesmo saber a verdade, penso que irá estar até ao dia em que fechar os olhos e partir definitivamente para o desconhecido. Essas minhas férias foram as mais introspectivas que fiz até ao momento. Tive momentos de verdadeira reflexão auto-psicanalítica que se vai prolongando até aos dias de hoje. Ás vezes conhecemos pessoas nos momentos e lugares errados... Pessoas que gostamos e que deixamos partir porque temos que deixar partir. Porque há feridas que precisam de ser curadas primeiro. A minha grande dúvida é o que acontece se a ferida se mantiver sempre aberta... E isso é assustador.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
On Strike
Faz exactamente 1 mês desde as minhas últimas palavras escritas aqui. Na realidade não se tratou de nenhuma operação intelectualmente concertada. O único argumento que se me apraz é o de ter estado de greve intelectual. Os neurónios estiveram num estado quiescente e as sinapses não comunicantes. Tudo isto se resume às minhas férias, este ano totalmente dedicadas ao Algarve e dois dias um bocadinho mais para esquerda. Esta minha primeira semana de trabalho tem sido dolorosa, quer pela inércia a que nos habituamos quer pela falta de vontade em reiniciar neurotransmissões. Sinto-me como um sapo a quem alguém coloca um cigarro na boca à espera que expluda. Continuo com o estúpido ritmo de não dormir de noite e acordar cedo, algo a que os meus rebentos me habituaram nas duas últimas semanas. Agora compreendo a tortura do Sono. Na realidade já a tinha compreendido há 7 anos atrás quando o mais "velho" nasceu... Na altura, encontrei um livro de BD muito interessante intitulado o regresso dos mortos de sono que exemplificava brilhantemente o nascimento do segundo bebé de um casal. Deveria ter continuado de greve intelectual já que este texto é tudo menos interessante. A culpa foi dos Eristoff Black Label, Quintas da Pesseguina, Coronas, Grand Cafe, Sacha... etc etc etc. O meu lobo frontal ainda deve continuar a banhos lá por baixo.
terça-feira, 14 de julho de 2009
O viking, o velho e o casal
A praia é dele. Todos os anos refaz a escadaria de terra e tábuas envelhecidas pelo desfiladeiro abaixo. K.F.F Strand é a sua marca. Dos cinco pinheiros guardiões só restam três. Recordo as suas sombras de outros tempos marcados pela pronúncia doce do norte. O viking da praia dos pinheiros. A ele podemos agradecer o acesso a um dos últimos redutos escondidos neste cantinho algarvio. O silêncio é de ouro, só interrompido pelas gaivotas nos seus cânticos anunciando o suicídio das ondas nas rochas recortadas. Todos se parecem conhecer desde sempre. Os rochedos, as gaivotas, a areia grossa e todos os seus comensais. Deito-me estrategicamente no ponto mais afastado das falésias que me rodeiam. O meu medo ancestral materializa-se nos sinais aqui e ali avisando-nos para o perigo de derrocada. A tenda de verde camuflado esconde os segredos do amor vividos pela lua-de-mel do jovem casal. Beijam-se e tocam-se como se não existisse ninguém à sua volta. A sensualidade e feminilidade das duas contrasta com estereótipo habitual. O velho, co-proprietário, coxeando com dificuldade pelo areal, aproxima-se com o seu castelhano macarrónico e pergunta "Eh Chicas, manana estao por aqui...?". Abanando o seu hidrocelo como se de um relógio antigo de parede se tratasse ouviu como resposta "Donde se puede tomar un duche". O Sol esconde-se recortando o chão. Foi a primeira vez que o velho se manteve até tão tarde na sua praia. Talvez entusiasmado pelo amor demonstrado entre as duas chicas.
Hoje a praia voltou à sua normalidade. Sem tenda, mas com os comensais do costume.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Secret Spot
Há locais secretos que guardamos só para nós. Na maioria das vezes imaginários, embora por vezes a realidade se misture com a ficção. Chama-se a isso delírio. Eu tenho um local secreto de meditação. A única companhia são as gaivotas, o vento salgado na face e as ondas do mar no seu ritmo constante. Sento-me num círculo e deixo o meu pensamento flutuar até ao branco, ao vazio... A areia é grossa e magoa-me. Acordo sem nunca ter fechado os olhos. Leio os pensamentos daquela pessoa que se encontra a olhar para mim movendo os lábios numa língua imperceptível. Não estava ali quando tudo começou. Observo-a com atenção por detrás das minhas lentes cinzento-escuras. Parece reparar que estou a olhar para ela e continua naquela mímica labial. Tento-me abstrair daquela triste figura de costelas salientes e mamilos imponentes pelo Sol, que se esconde atrás das rochas. Reinicio "a minha andorinha" do MEC que me acompanhou até à minha praia. Donde raio apareceram estas pessoas no meu spot secreto. Um Argentino obeso, licenciado em Geografia, pede-me para fotografa-lo. Acedi, embora a sua presença estivesse a interromper o meu descanso. Queria-me fotografar com a desculpa de ver a sua imagem espelhada nos meus Prada cinzento-escuros. Naturalmente, recusei. Felizmente o tipo já estava em Portugal há cerca de 10 dias, ultrapassando o período de incubação do H1N1. Afastou-se do meu círculo tentando fotografar a italiana que se banhava nas águas gélidas e cristalinas. Bizarros hábitos estes. É assim que quando menos se espera aparecem fotografias por essa net fora sem que os seus protagonistas sonhem sequer.
De repente o meu secret spot parecia uma reunião da ONU. Felizmente, com o esconder do Sol, rapidamente se puseram a milhas ficando eu novamente com a sua hegemonia.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Black Vodka
O Vodka preto da nossa relação. A primeira vez que o bebi foi num terraço decorado com motivos cubanos num Agosto quente de 2000 e picos. Recordo esse momento longínquo em que fomos apresentados. Anos mais tarde projecto-te nesses momentos com as tuas tranças adolescentes. Foi a última vez que bebi Vodka preto. O sabor blueberry não ultrapassa a desvantagem da língua petrolífera. Nunca pensei voltar a beber Vodka preto excepto quando te reencontrei. O café do desabafo que se tornou numa troca de olhares, nuns breves momentos em que as peles se tocaram e os calores se fundiram. Prolongamos a nossa conversa entre alcatifas, bolas espelhadas no tecto e Vodka preto. Nunca daí passou, nem poderia ter passado. Há relações que são sem nunca o terem sido. E a nossa foi assim. Uma amizade onde as retinas se cruzaram e os espíritos se envolveram. Sabíamos à partida que o futuro era tão negro como o Vodka que me atordoava o espírito. Encontramos-nos mais duas ou três vezes sem que o platonismo se transformasse no que quer que fosse. E ainda bem. Bebo mais um golo do Vodka Preto que enche metade do meu copo dos Simpsons. Ouço Rui Veloso e penso nas verdadeiras razões, nas tuas verdadeiras razões. Não consigo entender, ou entendo agora, a inteligência das nossas atitudes. De facto há relações que não passam de trocas de olhares. E a nossa foi assim. Porventura mais forte e intensa do que... Levantei-me e fui encher mais um copo de Vodka preto que começa agora a surtir os seus efeitos. Apetece-me telefonar-te mas resisto. Sempre resisti aos meus impulsos mais instintivos. Na realidade, a forma como tudo aconteceu dilacerou-me por dentro sem que tu ou eu tivéssemos sequer tido tempo para notar. São 3:50 e apetece-me sair de casa para me refrescar. Quero um cigarro...
terça-feira, 30 de junho de 2009
Berit Mila
O brio é algo de muito positivo em todos nós. Apesar de não me considerar especialmente materialista tenho alguns cuidados com os objectos materiais que colecciono à minha volta. A minha tia Nanda, essa sim materialista, costumava dizer que tinha cuidado com as coisas porque estas lhe tinham custado muito a ganhar. Os objectos adquiriam uma personalidade própria que nada tinha a ver com o dinheiro. O sofá italiano bordeaux teriam sido 2 meses de noites em branco na Clínica de São Lázaro (o nome pode estar enganado), o espelho barroco do corredor foram outros tantos domicílios geriátricos, o rádio am/fm com 60 anos um par de horas extras nos primórdios do Santa Maria... e assim por diante. De nada lhe serviu tanto trabalho em rodear-se de bens materiais recauchutados com primazia... O rádio am/fm com 60 anos jaz agora avariado no meu quarto trazendo-me à memória a minha tia Nanda e as suas filosofias mundanas. Todos os outros objectos foram distribuídos, mais ou menos aleatoriamente, pelos sobrinhos e irmãos. Serve de muito não usarmos as coisas em vida.
A última vez que estive no Algarve com os meus nenucos resolvi, por brio, ir lavar o carro alugado (o meu ainda estava no hospital dos carros após a colisão contra o eléctrico da Carris) a uma lavagem manual e mais barata. Lá encontrava-se o casal da foto, que à medida que o senhor ia chuveirando o carro, a esposa com o filho ao colo ia esfregando as jantes de liga leve munida de uma escova de dentes. Este é um exemplo de como a perfeição é sempre inatingível. A mim, apesar de adorar o meu carro, nunca me passaria pela cabeça andar com o meu filho ao colo esfregando as jantes com uma escova de dentes. Aliás, algo provavelmente premeditado, ninguém anda assim com escovas de dentes para trás e para à frente. Eu por caso tenho uma na minha mala de trabalho, mas não a levo para a estação de serviço, a não ser que premeditadamente eu resolva escovar os dentes à jante. Como sabemos, as jantes são a última das coisas a sujar-se 5 minutos após a lavagem, pelo que a sua lavagem nunca é inglória. Not. Naturalmente, isto não é uma crítica, cada qual esfrega o que bem entender e como bem entender. Mas achei que devia compartilhar convosco.
O título desta entrada não tem que ver com a prosa escrita anteriormente, mas sim com o Berit Mila que celebrei hoje em homenagem ao meu filhote. Lá teve que ser, quem sai aos seus não degenera. De qualquer maneira, ficou fantástica, mais estética e crescida. ;)
sábado, 27 de junho de 2009
inconsequências
É uma falácia a ideia de que os outros estão sempre lá. E eu estou do lado de cá. Alguém me disse que ando muito amargo. Eu diria que ando mais do tipo agridoce. Fartei-me do papelinho de aceitar tudo sem reagir. A condição humana demonstra muito pouca inteligência na maioria das vezes. Confude-se humor com falta de respeito. Não raras vezes as pessoas não se sabem situar. Rapidamente se abusa da confiança que se é dada. O velho provérbio dá-se a mão e querem logo o braço tem razão de existir. Uma frase sábia é: se nós permitirmos sobem por nós acima e fazem por nós abaixo. Isto para reflectir sobre a condição de que se vai suportanto muita coisa, mas há um momento em que um simples pingo faz tranbordar o copo. E aí, no que me diz respeito, não há volta atrás. Sempre achei (e continuo a achar) que as pessoas podem ter tudo de mim. Mas mesmo tudo. Quando gosto de alguém faço tudo por essa pessoa. Quando por alguma razão as pessoas deixam de me merecer confiança e respeito tornam-se indiferentes para mim. Não faço mal a ninguém, mas pura e simplesmente deixam de existir para mim numa certa condição de amizade. Esse sentimento é transversal, desde o amor até à amizade, passando pelos relações interpessoais em todas as suas vertentes. Infelizmente, vou engolindo muita coisa até ao momento do vómito final. Mas este por vezes surge... e aí, mea culpa, não consigo perdoar e voltar atrás. Chamem-lhe rancor chamem-lhe o que quiserem... Mas eu sou assim. Vou avisando, directamente, sob o olhar directo... E de repente passo-me para o outro lado e aí não retorno. Sempre fui assim directo e consequente. Quando assumimos comportamentos devemos assumi-los com as gónadas bem no sítio. Quer estejamos correctos ou errados. Temos que assumir as consequências dos nosso actos. Toda a acção tem uma reacção (in Coristas). Tenho uma personalidade nefasta por vezes, mas considero-me justo nas minhas avaliações e dou mais hipóteses do que a maioria das pessoas que cinicamente vão criticando e queimando os outros quando viram costas. E isso, eu sou incapaz de fazer, tudo o que eu digo digo pela frente. E assim durmo em paz perante as minhas intolerâncias.
terça-feira, 23 de junho de 2009
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Importâncias
Sempre ouvi dizer que a brincar se dizem algumas verdades. É talvez a forma mais cobarde de se revelarem os pensamentos. Fica sempre no ar um escape. É também a forma mais cruel, deixando o interlocutor na dúvida eterna sobre os reais pensamentos do seu censor. Todos nós fazemos isso ocasionalmente... já que todos nósm ocasionalmentem somos cobardes e cruéis. Esta reflexão serve em última instância como o meu mecanismo de auto-censura. É que, na realidade, cada vez menos digo as verdades a brincar... mas digo-as, literalmente, entrando na retina do interlocutor. Os dissabores surgem por vezes e as inimizades também. Mas como cada vez menos tenho paciência para gente pequenina e mesquinha não me importo. Porque essas pessoas rapidamente passam para a minha caixinha de indiferentes. Aqui incluo aquelas que me deixam de merecer respeito intelectual, quer pela falta de camaradagem, educação, intriguisses ou simplesmente estupidez . As pessoas realmente importantes ficam do nosso lado. Mesmo quando delas não precisamos. E essas são as realmente importantes... mesmo sem assinaturas.
(inspirado por contactos circunstanciais... ou não. Estava a brincar.)
domingo, 21 de junho de 2009
Word Press Photo´09: My Selection
sábado, 20 de junho de 2009
A cegonha
(Lagos, 12 de Junho de 2009, Mao Mao, cegonha no cima da chaminé junto ao novo edifício da CML. Constou-me que durante o seu transporte integral a mesma nunca abandonou o seu ninho. A firmeza, força e protecção do seu espaço são motivantes e adequados para ilustrar o pequeno texto que acabei de expelir)
São 5.13 da madrugada e eu desperto. Sinto um cansaço de morte e no entanto acordo. O calor da noite não me deixa dormir. Não me recordo de deixar o iTunes ligado, mas acordo desconfortável ao som de antony & the jonhsons. A insónia é um acto cruel que cometemos sobre nós mesmos. Um acto de punição ou censura porque tudo nos preocupa. Nas últimas semanas sinto-me cansado de tudo. Cansado de me dar às causas e nos momentos seguintes ser atraiçoado. Cansado das pessoas que não me merecem. Cansado de não merecer as pessoas. Cansado em última instância do egoísmo humano. Desperto de madrugada sem vontade de voltar a falar novamente com os seres vis que por vezes me rodeiam. A Bjork irrompe de rompante no meu iTunes à medida que debito estas palavras no calor da noite urbana, na solidão do meu lar, despido de emoções e indignado com os sentimentos que sinto. O meu ponto de ebulição é fragilmente baixo, especialmente quando deparo com injustiças. Como já aqui referi sou do género de viver intensamente e também reagir intensamente às adversidades. Falta uma semana para as minhas férias e continuo sem destino. Sintomático da minha vida: sem destino. A anarquia emocional que vivo nos últimos tempos é sintomático das minhas intolerâncias perante a mesquinhez e o egoísmo do ser humano. Raras são as vezes que conhecemos pessoas puras na sociedade actual. E quando isso acontece batemos-lhes com toda a força porque temos medo. Medo da pureza. Essa é a história da nossa humanidade. Há 1976 anos foi crucificado, cuspido e apedrejado o último dos puros. E nisso reside a nossa fragilidade humana. O calor que se faz sentir no meu quarto ofusca-me a mente e o olhar. A insónia tolda-me a linearidade do meu pensamento. A Bjork lança-me no abismo emocional com a sonoridade cristalina da sua voz. Quero adormecer e não consigo. O povo chama-lhe esgotamento. Eu chamo-lhe tristeza.
domingo, 14 de junho de 2009
Best Parents you can get
Estas mini-férias em Lagos chegaram ao fim. E com ele a depressão pós-mini-férias. Não obstante estar quase de férias outra vez o dia cinzento foi um exemplo crasso do meu estado de espírito. Tendo há bem pouco tempo destruído o meu carro contra um eléctrico foi de carro de substituição que me rumei ao Algarve. O regresso, numa vã tentativa de fugir ao trânsito cada vez pior da A2, pautou-se pelo interior do sudoeste algarvio e alentejano e com ele as memórias de outros tempos. Recordei as viagens intermináveis entre Lisboa e Lagos pelas curvas de Odemira, Odeceixe e Aljezur. Não havia uma única viagem em que, ou eu ou a minha irmã, não nos vomitássemos todos. A era dos telemóveis era uma miragem do espaço 1999 e se alguma coisa acontecesse por aquelas estradas bem podíamos esperar que alguém com boas intenções aparecesse. Não havia alternativa. Recordo nas minhas memórias mais ancestrais o genérico, a voz doce do João Chaves e as músicas calmas do Oceano Pacífico. Ainda hoje quando viajo à noite é o único programa que me dá um prazer intrínseco ouvir. Eram realmente outros tempos onde viajávamos numa Toyota Sprinter 1300, um dos poucos objectos que o meu pai conseguiu trazer de Luanda, sem cadeirinhas de bebé ou cintos de segurança que fossem. Dormíamos ao Deus dará nos bancos de napa de trás. E estamos vivos. Fruto do acaso ou não... Hoje em dia somos cada vez mais histéricos com as seguranças mas as ______ acontecem na mesma. As viagens entre Lisboa/Lagos, pelas suas 5 ou 6 horas de duração permitiam que os meus pais percorressem todos os estados de espírito - desde a alegria, cantarolices, anedotas até às discussões, mau humor etc etc etc. Pelo menos, a família tradicional mantinha-se... 10 20 30 anos. Neste meu regresso a Lisboa, tendo feito meu itinerário ancestral recordei e projectei algo que os meus filhos nunca irão vivenciar, fruto de um divórcio relativamente precoce. Aliás, algo que é regra entre os meus amigos e conhecidos. Incrível não é, como se mudam os valores e os limites do que é ou não tolerável.
Nunca irão brincar na rua, como eu brinquei, por medo dos raptos, pedófilos e criminosos. Nunca irão sentir o que é jogar ZX Spectrum em grupo porque só os mais ricos tinham hipótese de dar quase 50 contos por uma máquina, hoje das cavernas... Como tudo mudou em 30 anos. Como eu, sem dar conta, vou envelhecendo com a solidão próprias dos velhos... As minhas avós que morreram quase com 100 anos contavam-me as suas solidões... F___-se, mas elas eram centenárias. Não sei se gosto deste mundo em que vivemos, as coisas começam a acontecer depressa demais e a paciência esgota-se.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
5º dimensão
Pertencemos a dimensões diferentes. Não vemos os objectos com os mesmo formatos nem com as mesma cores. Talvez por isso nos tenhamos afastado apesar daquilo que nos aproxima ser muito forte. Não nos toleramos mutuamente. Há pequenas coisas que se transformam em grandes coisas e grandes coisas que se transformam em pequenas coisas. Aquilo que para ti é importante para mim não tem o mais pequeno significado e vice-versa. As dimensões em que nos movemos estão nas antípodas. Tu és excêntrica como eu sou excêntrico numa perspectiva completamente diferente. Tu percorres caminhos cinzentos onde o meu cérebro tenta deslindar as cores psicadélicas da tua mente sórdida e complexa. Os teus períodos REM de olhos abertos abanam a minha existência colocando-me num mundo fechado e absorto daquilo que me envolve. Os nossos mundos são diferentes apesar de se interceptarem. As tuas vivências lançam-me em caminhos obscuros que não vivo conscientemente. As horas de sono que me abstenho deixam-me anestesiado perante toda a realidade consciente ou inconsciente que me envolve. Deixo de conseguir equilibrar o tabuleiro deixando todas as peças em auto-gestão. A tua imaginação obsessiva há muito perdeu os limites do razoável. Não és mais do que um fantasma vagueante numa dimensão paralela à minha. Sinto-te a percorrer cada veia, vénula, artéria e arteríola do meu corpo como se cada eritrócito estivesse infectado pela negação da tua existência. Na realidade pertencemos a dimensões diferentes e assim vamos continuar. Há mundos que não se trespassam. Os minutos megalómanos do nosso relógio intemporal assumem-se na sua fragilidade. A relatividade do tempo é tal perante a selectividade da minha memória que os momentos deixam de fazer sentido. Sinto-me como se padecesse do Síndrome de Alice no País das Maravilhas. No entanto são as portas ogres do Inferno que se abrem para a minha negra existência. Desligo a televisão TeleFunken a preto e branco e abandono ao seu destino as personagens paralisadas e intemporais da Twilight Zone. Percorro com o olhar resquícios de oculto nas paredes do meu quarto almofadado e escondo-me debaixo no negro manto que me protege de ti... Embora tenhas sido tu a lança-lo sobre o meu leito de descanso.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Lagos, Allgarve
Lagos ou Zawaia (para os amigos) sempre foi considerada por muitos como uma das mais belas cidades do Algarve. Essa beleza acentuou-se com a crescente destruição que se verificou por esse Algarve fora nos últimos anos. O expoente máximo do vómito urbanístico é na minha opinião a Praia da Rocha, embora Armação de Pêra e Quarteira não lhe fiquem atrás. Durante muitos anos, verificou-se alguma protecção ambiental e organização municipal na arquitectura lacobrigense. De facto, a paz que se sentia na Meia-Praia e Porto-de-Mós comparada com as restantes praias algarvias era a grande mais-valia de Lagos, já que a água e o clima são comparativamente mais inóspitos. Neste sentido guardo com prazer os Verões quentes (mas ventosos e de água gelada) de uma Lagos com um turismo muito peculiar e dos passeios pelo campo junto à Ponta da Piedade e Porto-de-Mós.
A tristeza que senti neste fim-de-semana em que fui a Lagos com as minhas crias não tem precedentes. É impressionante como se consegue destruir uma cidade em meia dúzia de meses. O Porto-de-Mós, especialmente a sua área campestre está completamente urbanizada de uma forma anárquica. As falésias, que pensava eu serem protegidas, estão carregadas de moradias, algumas de estética duvidosa. Os mamarrachos de betão parecem ter sido transplantados directamente da Praia-da-Rocha para a belissíma praia do Porto-de-Mós. A vista ao longo da Meia-Praia é outra desilusão. Conseguiu-se transformar num verdadeiro aborto uma baia que poderia ser, urbanizada sim, mas de uma forma inteligente e apelativa... Para piorar a minha opinião sobre as mentes pensantes e líderes ouvi dizer que foi autorizado uma Hotel na zona da Ponta da Piedade, o último dos redutos do Barvalento Algarvio. Posto isto, agradeço à autarquia de Lagos e seus colaboradores a destruição a que votaram a mais bela cidade do Barlavento Algarvio, senão de toda a região... Conseguiram-na transformar num Aborto Urbanístico.
P.S: Fui informado, não sei se é verdade, que estão a construir um parque subterrâneo na Avenida dos Descobrimentos... Eu pergunto-me se ninguém vos informou que é incomparavelmente mais barato, sobretudo em Lagos, criar parques de estacionamento em altura e não debaixo de terra...
P.SII: A destruição do Jardim da Constituição para dar lugar a lagos artificiais é outra ideia digna de um génio... Então numa cidade à beira-mar gastam-se milhares de euros a construir lagos artificiais... ??? Espero que não se lembrem de construir montanhas de neve artificial na Serra da Estrela ou jardins tropicais na República Dominicana...
Parabéns, Lagos agora faz mesmo parte do Allgarve.
domingo, 24 de maio de 2009
Intolerâncias
A intolerância por si só é de repudiar. Talvez por isso quando sinto intolerância em relação ao que quer que seja fico com um sabor estranho na boca e uma sensação desagradável no estômago. É um sentimento que não gosto de experimentar, embora por vezes ocorra. Mesmo que as minhas intolerâncias sejam por mim largamente justificadas e até hipoteticamente correctas não deixam de ser fruto do meu extremismo intelectual, algo que também me deixa mal-disposto. Na realidade sinto intolerância pelos intolerantes e apesar, de na minha moral ser justificável, não deixa de ser em si também uma atitude intolerante e atentória da liberdade de quem pretende e é intolerante. Todos, mas todos mesmo, temos o direito intelectual à intolerância, ao extremismo, ao radicalismo, mesmo que isso possa contrariar a postura da maioria social e os torne de alguma forma marginais. Apesar de não concordar com a maioria das ideias dos intolerantes e de eu próprio ser intolerante contra eles, tenho que concordar que nutro um sentimento nocivo e criticável... Passo a explicar, há determinado tipo de ideias que me dão vómitos: racismo, xenofobia, homofobia, discriminação sexual, penalização de tudo o que foge ao mediano da curva de Gauss etc etc etc... Apesar de tudo, quando eu me torno intolerante contra estes indivíduos padeço do mesmo mal. Assim, tenho que respeitar que hajam pessoas com estas ideias, apesar de as considerar profundamente anormais. Algo que se calhar também sou considerado nesses meios. Tudo se resume à liberdade intelectual e mesmo que as ideias sejam bizarras, anencéfalas e injustas, deverão ser respeitadas. Embora esta postura seja perigosa e permita que ideias radicais possam se transformar em agressões perante os outros e isso sim é condenável. Apesar de tudo continuo a sentir intolerância pelos comportamentos que põem em causa a integridade emocional dos outros e por vezes de mim próprio. Estranho este texto. E mais estranho ainda o porquê de eu reflectir sobre isto, quando na realidade aparentemente não tem nenhuma relação. Mas tudo se iniciou com um comportamento que acho profundamente injusto de quem eu sempre ajudei e isso causa-me intolerância.
domingo, 17 de maio de 2009
Sebastião Salgado
Não me apetece escrever. Ponto final. Mas deixo aqui algumas fotos fabulosas de Sebastião Salgado. Como eu gostava de conseguir captar a realidade assim nas lentes da minha reflex. Por muito que o Mundo feche os olhos à miséria humana alguém há-de gritar mais alto e agitar 1 mm que seja as nossas mentes comodistas ocidentais.
terça-feira, 12 de maio de 2009
MySpace.Mao
Estou em casa. Hoje, excepcionalmente, não trabalhei à tarde. Almocei num restaurante aqui perto e assim que pude enfiei-me na falsa protecção do meu lar. Nunca estamos protegidos de nós mesmos. Raramente posso envolver-me pelo silêncio negro do alto da minha torre. Ao longe vejo os carros em correrias lentas nas grandes circulares que me envolvem. Sinto-me em paz comigo mesmo, mas vazio... Como este lar que se foi esvaziando ao longo destes últimos anos. As memórias ficam e as os registos fotográficos de outros tempos e vivências transportam-me para as alegrias que aqui já vivi. Queimo óleo de Jasmim. Tudo tem um fim. As pessoas morrem, as famílias desmoronam-se, os amigos partem, os namoros dilaceram-se e tudo aquilo que nós temos desaparece quando finalmente também nós partirmos. Sempre tive uma má relação com a morte. Na realidade temo-a embora afirme o contrário. Não a minha mas a dos outros. Temo a solidão e no entanto aprecio-a numa atitude masoquista. Quero ser feliz como se esse fosse o objectivo primordial das nossas vidas mesquinhas. Mas não consigo. Não assim, não afastando tudo e todos aqueles que tentam trespassar a barreira do superficial. Adsorvo as essências de Jasmim que me transportam para outros lugares. Em mim tudo corre como se não existisse amanhã. Sou emotivo em tudo o que faço. Vivo intensamente tudo o que se depara à minha volta. E só consigo ser desagradável para as pessoas de quem eu realmente gosto. Não tendo que me esconder atrás da boa-educação factual. Raras são as vezes que nos apercebemos disso. E isso magoa. A tendência é a solidão. O meu espaço é meu. Como já aqui escrevi. Quero continuar a dormir na diagonal e afasto do da minha intimidade quem se quer interpor. Ouço Sigur Ros sem perceber uma palavra que seja, fecho os olhos e vejo quem realmente sou. O meu pesadelo recorrente em que me liberto... fica para a próxima vez.
sábado, 2 de maio de 2009
pequeno ensaio sobre o moralismo
Moral, do latim mores, relativo aos costumes, conjunto de regras de condutas consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada.
Desde tenra idade sempre tive alguma relutância em aceitar as dicotomias certo/errado, branco/preto, verdade/mentira, sagrado/profano etc/etc. De facto existe um meio termo... aliás, é somente o que existe na maioria das vezes.
Para desconforto da família não cheguei a completar a catequese nem a realizar a primeira comunhão. Em certo medida desiludi-os um pouco, embora nem eles saibam bem o porquê, já que nunca fomos realmente praticantes de qualquer tipo de religião no seio familiar. Católicos sim mas não praticantes... Definição estranha esta - como é que se pode ser algo que não se pratica. A afirmação de que sou atleta de decatlo mas não praticante é uma verdade semelhante. Seja como fôr, a verdadeira razão de ter abandonado a catequese prendeu-se com o facto de, já nessa altura, me tentarem enfiar à força na cabeça os conceitos dicotómicos atrás referidos. Algo que sempre me fez pouco ou nenhum sentido. Nem sempre as pessoas são genuinamente más ou boas. Ninguém é assim...ok, excepto os psicopatas. Mas na maioria das vezes há sempre algum grau de virtude e defeito. Naturalmente, há quem tenda mais para um lado do que para o outro.
O conceito de moral surge assim como forma de simplificar e bipartir a nossa complexidade humana. Na realidade, a moral e ética são essenciais para a nossa existência enquanto sociedade. Não obstante, não há conceitos mais plásticos e moldáveis, variando ao longo do tempo e do espaço como um cubo mágico com os seus cubículozinhos coloridos. Em última instância a moral é a tentativa de um grupo ou indivíduo levarem os outros a actuarem pelos seus princípios arrogantemente tidos como correctos. O objectivo maior na maioria das vezes, ainda que inconsciente, é tornar os outros infelizes e com sentimentos de culpa quando as regras não são cumpridas. Tendo em conta que as mesmas mudam ao longo do tempo e do espaço, não há nada mais cruel do que permitir que uma moral se possa atravessar na felicidade individual de cada um. Claro que a moral até pode ser superficialmente ignorada... mas sem que nos apercebamos é frequentemente um elemento gerador de mau estar. Nesse sentido é uma arma cruel que tem sido usada ao longo dos séculos pelos defensores das doutrinas morais. Na realidade, a influência que o catolicismo tem na nossa formação, com ideias enraizadas desde tenra idade, mesmo que não nos façam sentido hoje em dia, deixam sempre alguma sensação de mal-estar quando algum dos princípios morais é violado... muitas vezes sem gravidade nenhuma, excepto aos olhos daqueles que os produzem.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Quarentena
Estou de quarentena em casa desde 3ª feira. Febre, Mialgias, Artralgias, Odinofagia, Amigdalite eritemato-pultácea, Conjuntivite e uma estranha metaformose nas cordas vocais que me puseram a roncar e o nariz a ficar circular e com dois buracos tipo tomada de electricidade. Não me recordo de ter tido contacto directo com mexicanos... mas com estas incursões pelos aeroportos nunca se sabe... Em Madrid-Barajas viajam centenas de latino-americanos e dei de caras com alguns deles. Seja como fôr o diagnóstico está feito (por mim of course) já que não fui empatar os SU com casos não urgentes (algo que a população deveria aprender!): Amigdalite eritemato-pultácea! Bacteriana ou viral... who cares mas acho que contraí um EBV ou CMV... pelo menos tive reacção exantemática à amoxicilina, coisa que nunca me tinha acontecido antes... Pelo sim pelo não resolvi tomar Azitromicina... E apesar de estar um bocadinho melhor continuo muito asténico, o que me coloca na pista de Mononucleose... Ahmmm, aos 34 anos... Essa é que é essa. Nunca vi tanta televisão como nos últimos 5 dias. Aliás eu não vejo televisão.
domingo, 19 de abril de 2009
domingo, 12 de abril de 2009
L´amour
(Lepidoptera, vulgo Borboleta; captada nas lezírias de Santarém a 12/04/2009)
A saudade é uma palavra portuguesa. Talvez nós, pela carga genética enclausurada ao longo de gerações de descobrimentos e descobridores conseguimos ter saudades daqueles de quem amamos. Os outros chamam-lhe nostalgia... Para nós é saudade. E cantamo-la como ninguém. Eu tenho saudades de pessoas que já partiram e de pessoas que ainda não partiram mas é como se já tivessem partido. Tenho saudades das emoções que já senti e daquelas que precocemente morreram sem que tivesse tido tempo para as sentir de verdade. Mas a saudade existe. Penso em ti como penso em mim e deixo-me flutuar ao longo daquilo que não vivemos. Se calhar porque não poderíamos ter vivido. Mas fica a saudade de um morte anunciada. Entristeço-me quando penso em ti, pela forma como conduziste as nossas curtas intersecções de vidas cruzadas num ponto num lugar. Acendo um cigarro, que é coisa que já não fazia há uns meses e deleito-me perante a minha cobardia e quebra na força de vontade. Mas às vezes é tão difícil resistir às coisas boas da vida... Mesmo que contra tudo e contra todos. Mesmo que contra a nossa saúde. Nunca te cheguei a ler como gostaria e quando te leio as tuas palavras a mim já não se dirigem. Se é que alguma vez se dirigiram. Fazem-se opções, outras vezes são nos impostas. Sempre gostei de sentir nostalgia, de escrever com os olhos inchados, de sentir as agruras dos amores não correspondidos escorrerem pela face abaixo, deixando as almofadas de veludo castanhas marcadas pelo sofrimento do amor que é maior do que nós. Amamos sem nunca sabermos realmente amar. Chorarmos sem nunca realmente sabermos chorar. Usamos as palavras e a música como uma chave para a porta da eternidade. E num ápice tudo desaparece e ficamos no escuro, envolvidos pelo bréu... Como pelo bréu ficamos envolvidos. Quero voltar atrás mas não consigo. Quero apreender o amor, mas este não se ensina nos livros. Quero voltar aquele cinema e não olhar para ti. Quero voltar aquele café e não te fintar os olhos. Quero voltar aquela casa decorada nos anos 70 com alcatifas sujas e os candeeiros de luzes cintilantes e não te recordar... Quero tudo no mundo menos aquilo que alguma vez já tive.
A saudade é uma palavra portuguesa. Talvez nós, pela carga genética enclausurada ao longo de gerações de descobrimentos e descobridores conseguimos ter saudades daqueles de quem amamos. Os outros chamam-lhe nostalgia... Para nós é saudade. E cantamo-la como ninguém. Eu tenho saudades de pessoas que já partiram e de pessoas que ainda não partiram mas é como se já tivessem partido. Tenho saudades das emoções que já senti e daquelas que precocemente morreram sem que tivesse tido tempo para as sentir de verdade. Mas a saudade existe. Penso em ti como penso em mim e deixo-me flutuar ao longo daquilo que não vivemos. Se calhar porque não poderíamos ter vivido. Mas fica a saudade de um morte anunciada. Entristeço-me quando penso em ti, pela forma como conduziste as nossas curtas intersecções de vidas cruzadas num ponto num lugar. Acendo um cigarro, que é coisa que já não fazia há uns meses e deleito-me perante a minha cobardia e quebra na força de vontade. Mas às vezes é tão difícil resistir às coisas boas da vida... Mesmo que contra tudo e contra todos. Mesmo que contra a nossa saúde. Nunca te cheguei a ler como gostaria e quando te leio as tuas palavras a mim já não se dirigem. Se é que alguma vez se dirigiram. Fazem-se opções, outras vezes são nos impostas. Sempre gostei de sentir nostalgia, de escrever com os olhos inchados, de sentir as agruras dos amores não correspondidos escorrerem pela face abaixo, deixando as almofadas de veludo castanhas marcadas pelo sofrimento do amor que é maior do que nós. Amamos sem nunca sabermos realmente amar. Chorarmos sem nunca realmente sabermos chorar. Usamos as palavras e a música como uma chave para a porta da eternidade. E num ápice tudo desaparece e ficamos no escuro, envolvidos pelo bréu... Como pelo bréu ficamos envolvidos. Quero voltar atrás mas não consigo. Quero apreender o amor, mas este não se ensina nos livros. Quero voltar aquele cinema e não olhar para ti. Quero voltar aquele café e não te fintar os olhos. Quero voltar aquela casa decorada nos anos 70 com alcatifas sujas e os candeeiros de luzes cintilantes e não te recordar... Quero tudo no mundo menos aquilo que alguma vez já tive.
domingo, 5 de abril de 2009
escova de dentes
Quis-te emprestar a minha escova de dentes e tu recusaste. Há coisas que não se emprestam, dão-se. É curioso como se fabricam preconceitos que demonstram o quão estranhos e distantes estamos uns dos outros, mesmo que habitando os mesmos lençóis. Beijamos-nos na boca, trocamos saliva, envolvemos as nossas línguas uma na outra. Fazemos amor. Beijamos todos os centímetros corporais... e no fim não trocamos as nossas escovas de dentes porque é falta de higiene. E na realidade é... Tudo depende do contexto. Nos momentos de calor onde os corpos escorregadios deslizam em uníssono pensamos em tudo menos nas bactérias do outro lado da pele. Claro que é tudo pictórico. Na realidade não te quero emprestar a minha escova de dentes como não quero compartilhar mais do que estritamente necessário os lençóis que habitam debaixo do negro manto de veludo que cobre a minha cama. Habituei-me a gostar de dormir na diagonal. Neste momento a postura que mais se adapta a um sono relaxante e descansado. Durmo no meu leito como se estivesse ao longo de uma vista aérea de Barcelona - a minha cidade fetiche... Vou lavar os dentes e colocar-me na diagonal.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
riders on the storm
Riders on the storm
Riders on the storm
Into this house were born
Into this world were thrown
Like a dog without a bone
An actor out on a loan
Riders on the storm
(The Doors)
Há momentos que se vivem uma ou duas vezes na vida e recordar-se-ão cinquenta. As primeiras paixões, pela sua própria definição, são imortais. Se forem platónicas expandem-se a velocidade da luz. Quando olho para Vénus vejo as imagens do passado que se torna presente. Vejo imagens do passado, com segundos de intervalo, mas do passado... Quando há 17 anos me disseste que tinhas algo para me dizer, os meus olhos brilharam, o coração palpitou, a tensão baixou repentinamente e o ego envolveu-me com uma aura brilhante que só mais tarde viria a conhecer ser capaz de existir em mim. Disseste-me realmente que estavas apaixonada por alguém sem conseguires demonstrar como e eu ajudei-te, mesmo amando-te profundamente...
Passados 17 anos reencontrei-te inesperadamente. A nossa relação sempre se baseou em encontros ocasionais... Na realidade nunca fomos amigos nem nunca chegaremos a ser. Mas ajudei-te sempre que necessitaste. A última dessas ajudas será mais importante do que alguma vez pensarás ser. Desta vez não te amei profundamente e não consigo definir o sentimento que por ti alguma vez nutri. Na realidade senti-me envolvido por todo o caos que preenchia a tua mente. Ouvi-te nas tuas lamentações e deixei que me levasses pelos caminhos tortuosos do teu pensamento. Cruzámos várias vezes o olhar e a distância de segurança dos 50 cm foi algumas vezes ultrapassada. Enquanto subíamos em direcção ao céu naquelas escadas-rolantes cinzentas várias vezes tiveste vontade de me morder os lábios e eu senti-o... As emoções são aquilo que nos queremos sentir e não aquilo que sentimos verdadeiramente. Desta vez não foi a mim que disseste estar apaixonada e permitiste com isso transformar a tempestade numa manhã amena e soalheira como nos contos de fada. Continuei a minha caminhada por entre nuvens tempestuosas a procura da saída para o labirinto para onde me lançaste. Recordo a lenda oriental onde o escorpião pica a tartaruga que o ajuda atravessar o rio, mesmo sabendo que morreriam os dois, quando questionado respondeu ser essa a minha natureza. O meu iPod grita Stairway to Heaven de Led Zeppelin e afundo-me no puff cor-de-laranja a pensar na injustiça dos nossos sentimentos e na ingratidão das nossas atitudes, com a certeza de que nada acontece por acaso.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Teoria do Chaos
Def. A teoria do Caos é um modelo matemático que permite explicar certos sistemas dinâmicos, isto é, sistemas cujo estado evolui com o tempo. Há sistemas que são hipersensíveis a condições iniciais. O exemplo mais popular corresponde à determinação de como o bater de asas de uma borboleta pode desencadear um terramoto no outro lado do mundo. São sistemas randomizados e determinísticos.
Há situações inesperadas em que nos vemos colocados e que parecem ocorrer de uma forma randomizada. Há situações que não controlamos e que, como o bater de asas de uma borboleta, sem querer provocamos um tremor de terra, maremoto, furacão e provocamos caos e destruição para logo de seguida reinar a reconstrução. Este é um dos princípios fundamentais do hinduísmo. Há sentimentos e emoções reais ou fantasiosas que podem abanar todo um sistema dinâmico que evolui com o tempo. É curioso como a teoria do chaos se pode aplicar a tudo, especialmente às relações interpessoais. Há situações incompreensíveis tal como há pessoas incompreensíveis. A minha mente tenta processar determinadas ocorrências e só me ocorre que sem querer e de uma forma aleatória, de alguma forma, contribuí para o reencontro e reequilibrio emocional de outros mundos, de outras pessoas... Mesmo, crendo não ter sido intencional, não consigo deixar de pensar que mais uma vez a manipulação se tornou uma arma vil contra a minha existência, que usado como um instrumento cirúrgico de encontro ao coração que não o meu... Se em tempos a perturbação me atingiria em cheio, hoje fruto de muitas defesas adquiridas de processo auto-analíticos, considero que simplesmente contribuí para a paz alheia e mais uma vez comprovo que a melhor forma de defesa é encerrar-me num casulo autista e flutuar à espera que um raio de luz perdido me atinja e me oriente para longe daqueles que não nos merecerem... :(
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