quinta-feira, 3 de maio de 2018

Grande Muro.

Encontrei o Grande Muro. Após anos de pesquisa bibliográfica consegui definir as coordenadas. Demorei cerca de um ano e meio até me confrontar com o Grande Muro. Não era nem bonito nem feio. Nem velho nem novo. Era um muro igual a outros tantos com as suas brechas, com os seus pedaços de estuque podres e enrugados. Dois ou três graffitis de mau gosto decoravam as suas paredes. Chamava-se de Grande Muro mas não nos enchia a vista. O Grande Muro não passava de duas palavras. Na realidade não era nem Grande nem Muro. Era simplesmente um amontoado de calhaus que para ali estavam. Um marketing desolador de uma estrutura que nem sequer estava bem construída. Imaginei-o perfeito e imaculado. Gradualmente inteirei-me da sua natureza tosca e inacabada. Auto-intitulado de Grande Muro, quando a definição que melhor lhe assentava seria de Grande Fiasco. E pensar que demorei um ano de pesquisa bibliográfica para conseguir definir as coordenadas da desilusão. 




terça-feira, 1 de maio de 2018

Dark Shadows

Acabo de fechar a porta. Sinto os olhos inchados. A cabeça vagueia. Olho em redor e envolvo-me nas sombras que me asfixiam. Don´t overthink  digo para mim mesmo. É mais forte que eu. Não suporto sentir areia nos olhos. Ouço Alt-J. A noite cai enquanto espero. Espero sempre de mais. Dou sempre mais do que recebo. Sempre foi assim. Fico amargurado pela injustiça. Não quero ser um Calimero. Mas não me sinto mais do que um actor secundário. Qual quê? Um figurante. Passo despercebido na multidão de pessoas que vagueiam na Via de Corso. Sou um figurante em mais um filme desta antiga Roma. (draft on friday).

O fim-de-semana foi pacífico e envolvente. Senti-me anestesiado perante o que aí vinha. Não posso meter a cabeça na areia. Não posso tapar o Sol com a peneira. Estive em paz. Estivemos em paz. Como se não nos tratássemos das mesmas pessoas.

Ontem, véspera de feriado, namorámos, passeámos, rimos, estivemos em comunhão aparente. Aparente digo eu. Tapo o Sol com a peneira. Enfio a cabeça na areia.

Hoje, dia do trabalhador. O pequeno-almoço, o último pequeno almoço, de papas de aveia e abacaxi por mim cortado. O ciclo de vida teve o seu final. Tudo tem. Tirei a cabeça da areia. Confrontei-me com a ficção que fui vivendo. That´s all Folks.