sábado, 2 de maio de 2009

pequeno ensaio sobre o moralismo


Moral, do latim mores, relativo aos costumes, conjunto de regras de condutas consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada.

Desde tenra idade sempre tive alguma relutância em aceitar as dicotomias certo/errado, branco/preto, verdade/mentira, sagrado/profano etc/etc. De facto existe um meio termo... aliás, é somente o que existe na maioria das vezes.
 Para desconforto da família não cheguei a completar a catequese nem a realizar a primeira comunhão. Em certo medida desiludi-os um pouco, embora nem eles saibam bem o porquê, já que nunca fomos realmente praticantes de qualquer tipo de religião no seio familiar. Católicos sim mas não praticantes... Definição estranha esta - como é que se pode ser algo que não se pratica. A afirmação de que sou atleta de decatlo mas não praticante é uma verdade semelhante. Seja como fôr, a verdadeira razão de ter abandonado a catequese prendeu-se com o facto de, já nessa altura, me tentarem enfiar à força na cabeça os conceitos dicotómicos atrás referidos. Algo que sempre me fez pouco ou nenhum sentido. Nem sempre as pessoas são genuinamente más ou boas. Ninguém é assim...ok, excepto os psicopatas. Mas na maioria das vezes há sempre algum grau de virtude e defeito. Naturalmente, há quem tenda mais para um lado do que para o outro.
O conceito de moral surge assim como forma de simplificar e bipartir a nossa complexidade humana. Na realidade, a moral e ética são essenciais para a nossa existência enquanto sociedade. Não obstante, não há conceitos mais plásticos e moldáveis, variando ao longo do tempo e do espaço como um cubo mágico com os seus cubículozinhos coloridos. Em última instância a moral é a tentativa  de um grupo ou  indivíduo levarem os outros a actuarem pelos seus princípios arrogantemente tidos como correctos. O objectivo maior na maioria das vezes, ainda que inconsciente, é tornar os outros infelizes e com sentimentos de culpa quando as regras não são cumpridas. Tendo em conta que as mesmas mudam ao longo do tempo e do espaço, não há nada mais cruel do que permitir que uma moral se possa atravessar na felicidade individual de cada um. Claro que a moral até pode ser superficialmente ignorada... mas sem que nos apercebamos é frequentemente um elemento gerador de mau estar. Nesse sentido é uma arma cruel que tem sido usada ao longo dos séculos pelos defensores das doutrinas morais. Na realidade, a influência que o catolicismo tem na nossa formação, com ideias enraizadas desde tenra idade, mesmo que não nos façam sentido hoje em dia, deixam sempre alguma sensação de mal-estar quando algum dos princípios morais é violado... muitas vezes sem gravidade nenhuma, excepto aos olhos daqueles que os produzem.

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