sábado, 20 de junho de 2009

A cegonha

(Lagos, 12 de Junho de 2009, Mao Mao, cegonha no cima da chaminé junto ao novo edifício da CML. Constou-me que durante o seu transporte integral a mesma nunca abandonou o seu ninho. A firmeza, força e protecção do seu espaço são motivantes e adequados para ilustrar o pequeno texto que acabei de expelir)

São 5.13 da madrugada e eu desperto. Sinto um cansaço de morte e no entanto acordo. O calor da noite não me deixa dormir. Não me recordo de deixar o iTunes ligado, mas acordo desconfortável ao som de antony & the jonhsons. A insónia é um acto cruel que cometemos sobre nós mesmos. Um acto de punição ou censura porque tudo nos preocupa. Nas últimas semanas sinto-me cansado de tudo. Cansado de me dar às causas e nos momentos seguintes ser atraiçoado. Cansado das pessoas que não me merecem. Cansado de não merecer as pessoas. Cansado em última instância do egoísmo humano. Desperto de madrugada sem vontade de voltar a falar novamente com os seres vis que por vezes me rodeiam. A Bjork irrompe de rompante no meu iTunes à medida que debito estas palavras no calor da noite urbana, na solidão do meu lar, despido de emoções e indignado com os sentimentos que sinto. O meu ponto de ebulição é fragilmente baixo, especialmente quando deparo com injustiças. Como já aqui referi sou do género de viver intensamente e também reagir intensamente às adversidades. Falta uma semana para as minhas férias e continuo sem destino. Sintomático da minha vida: sem destino. A anarquia emocional que vivo nos últimos tempos é sintomático das minhas intolerâncias perante a mesquinhez e o egoísmo do ser humano. Raras são as vezes que conhecemos pessoas puras na sociedade actual. E quando isso acontece batemos-lhes com toda a força porque temos medo. Medo da pureza. Essa é a história da nossa humanidade. Há 1976 anos foi crucificado, cuspido e apedrejado o último dos puros. E nisso reside a nossa fragilidade humana. O calor que se faz sentir no meu quarto ofusca-me a mente e o olhar. A insónia tolda-me a linearidade do meu pensamento. A Bjork lança-me no abismo emocional com a sonoridade cristalina da sua voz. Quero adormecer e não consigo. O povo chama-lhe esgotamento. Eu chamo-lhe tristeza.

1 comentário:

  1. Vamos tomar um café Rui. Não sou "pura" ... mas podemos conversar como gente impura que somos, na eterna busca de "purificação".
    Um beijinho e o sono há-de cgehar;) chega sempre

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