sexta-feira, 25 de setembro de 2009

(Sem título)

Há textos que padecem de títulos. Os rótulos, essa tendência universal da actualidade, só servem para guardar em caixinhas as nossas próprias frustrações. Continuo sem perceber essa necessidade humana de arquivar e rotular emoções, comportamentos, vivências, opiniões e atitudes, como se fossem estanques e não se interceptassem. Na maioria das vezes o que se passa mesmo é uma amálgama de intersecções. Não há branco ou preto, certo ou errado, feio ou bonito etc ou etc. As coisas misturam-se e dependem da luz e hora com que as confrontamos. Cada vez mais combato-me a mim mesmo essa necessidade de rotular e organizar no meu pensamento aquilo que se me depara. É a minha luta contra a mesquinhez. Tudo é um grande tutti-frutti. Que se fodam os rótulos e os títulos, que só servem para, numa atitude adolescente, continuarmos-nos a comportar em grupinhos e a discriminar tudo aquilo que não se encaixa nos valores preconceituosos pré-concebidos... E uso este pleonasmo só para dar força às misturas. A vida é uma orgia.
PS: Continuo a ficar impressionado pelo facto da maioria das pessoas que aqui caiem venham à procura das mamocas da Diana Chaves que são as palavras-chaves mais prevalentes na estatística deste blog. É a prova viva que o engodo sexual continua a atrair pessoas para esta teia. O que também comprova que a maioria das pessoas que navega serão homens à procura das mamas da Diana Chaves. É universal, por alguma razão a viúva negra tem tanto sucesso em atrair vítimas...

sábado, 5 de setembro de 2009

A memória comediante.

Tenho um relógio de parede na minha sala com a inscrição "do not forget". E eu não me esqueço, mas gostava. Apesar de ter uma memória selectiva e conseguir eliminar completamente episódios que pouco ou nada me dizem, há muitos outros que se mantêm e me condicionam nas minhas acções. Claro que a memória é talvez o elemento humano que mais partidas nos prega. Não há uma única que tenha sido exactamente como nós a recordamos. Elas mudam-se e adaptam-se como plasticina nos cantos mais recônditos da nossa mente. As memórias vestem diferentes cores de acordo com os nossos estados de espírito. Se umas vezes nos parecem dramáticos os momentos vividos outras vezes são nos quase indiferentes. A memória é assim uma comediante. Há pessoas que distorcem completamente as memórias, ou pela imaginação fértil ou por uso intempestivo de prozac. Esse grande atentado contra a criatividade. As memórias assim pura e simplesmente não existem. Os registos fotográficos ajudam-nos a situar-nos em momentos envelhecidos mas aquilo que dali advém pouco ou nada teve a ver com a realidade passada. Isto leva-me a concluir que não existe uma verdadeira realidade. Esta é tão distorcida como o som do meu velho walkman em que revivo em cassete o mítico Leonard Cohen. Doesn´t matter who broke my heart. But it hurts.

ironias

Fui à tarde a um dos parques infantis aqui da zona. Os meus filhos ansiavam pelos escorregas e baloiços prometidos desde que acordaram às 7.00 da manhã a um sábado. Quando chegámos estavam 6 ou 7 miúdos, negros, alguns de cuecas a divirtirem-se com guerra de balões de água. Os meus filhos continuaram a brincar sem dramas ou medos infundados, ou não, já que aquelas crianças eram todas oriundas do famigerado bairro da Cova da Moura que de vez em quando migram até estas redondezas. Rapidamente me lembrei da "cidade de Deus". Podiam ser perfeitamente intérpretes dessa realidade crua e dura. Os miúdos continuavam a divertir-se com os balões de água. Entretanto vejo um senhor de telemóvel em punho sem criança por perto. Achei estranho mas continuei a minha leitura do "expresso" enquanto vigiava os meus rebentos. Um dos miúdos tinham um ar perfeitamente "mafioso", mas em ponto pequeno, crista na carapinha e as sobrancelhas com vários cortes. Outro apresentavam um polegar completamente destruído com várias cicatrizes de corte. Confesso que aquele grupo me causou algum desconforto e um pequeno medo interior infundado, ou não, já que os miúdos são da Cova da Moura e não raramente responsáveis em grupo por assaltos, vandalismo e mesmo agressões a adultos e recordei a "cidade de Deus". Os meus filhos continuaram alegremente a brincar. Entretanto ouço um dos miúdos a gritar para os outros - "Vem aí a polícia." Olhei para o pequeno "mafioso" e disse-lhe: "Não tens nada a temer" "Se não estão a fazer asneiras a polícia não vos importunará". Perguntou-me se era proibido atirar balões. Respondi-lhe que logo que fosse entre eles que não. Não podiam era atirar a outras pessoas. De repente no meio do parque infantil sobem dois polícias, um pai de telemóvel em punho, uma mãe de sotaque brasileiro e 4 ou 5 miúdos brancos que eu chamaria há 20 atrás - que grupo de betinhos. Os polícias perguntaram aos miúdos se eles ontem tinham roubado um fio de ouro! Ao que responderam que não. A brasileira pergunta a um dos miúdos betinhos se era algum daqueles - ao qual o miúdo de 8 ou 9 anos responde em alto e bom som que eram muito parecidos, não eram estes, mas que também eles eram todos iguais! Os polícias continuaram por ali e o meu sentimento de medo e insegurança só aumentou! A brasileira gritava com sotaque brasileiro que deviam era ser todos expatriados! - pasme-se. Que se fosse nos Estates eram todos repatriados. - pasme-se a Brasileira e os polícias e o pai de telemóvel em punho e os betinhos que andam de fios de ouro no meio dos parques infantis... Perante tudo isto eu agarrei nos meus filhos e vim-me embora antes que vomitasse para cima de alguém.
É triste verificar que os racismos, estigmas e discriminações se iniciam nas mentes bem imaturas. Ó mãe: o que é expatriados?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Sempre pensei que não gostasses de praia

Sempre pensei que não gostasses de praia. Desde que te conheci, ou não, desdenhaste os pés na areia, a água fria da nossa costa atlântica, os gritos das crianças correndo, os pregões das bolas sem creme, que a ASAE anda à coca e os mirones nos altos das falésias, sentados nas suas famel à espera do desmoronamento fatal. Sempre te ouvi tecer mil argumentos a favor das piscinas num resort qualquer por aí perdido. Eu a olhar para ti e para o teu cabelo eriçado pela humidade da maresia que tu também desprezavas. Eras capaz de estar duas horas em minimalismo repetitivo a queixares-te que pela minha manipulação metereológica estavas com um cabelo num estado miserável. E eu gostava do teu cabelo num estado puro e miserável. Sempre pensei que não gostasses de apanhar boleias. Sempre demonstraste a tua independência (e muito bem) e o gosto mais que justificado para teres o teu carro sempre a teu lado para abandonares os sítios sempre que te apetecesse. E eu gostava dessa tua faceta auto-suficiente, mesmo quando te queixavas dos 200 km que fazias diariamente. Sempre pensei que não apreciasses turismo independente, perdida por ruas e vielas num qualquer país distante, sujo, imundo, habitado por pessoas com hábitos e visões diferentes dos nossos. Mas surpreendeste-me no meio daquele caos que nós vivemos.... e reclamavas reclamavas até à exaustão e eu achava-te graça, mesmo quando deixava de te achar graça. Sempre pensei muitas coisas... algumas acertei outras nem por isso. Afinal aprecias boleias e espantosamente gostas de praia. E sempre acabaste por fazer turismo independente. Nunca se conhece ninguém na realidade. :)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

o meu baú de velhas memórias

É sempre presunçoso escrever sobre memórias quando só conto com pouco mais de 3 décadas de vida. No entanto as memórias dependem da intensidade de quem as viveu. E apesar de tudo já guardo em mim muitas alegrias, tristezas, viagens, asneiras, maldades, bondades... Sempre tive dificuldade em entender o tempo como uma realidade contínua. Tenho imensa dificuldade em conseguir situar-me perante a relatividade do tempo. Talvez por isso sempre tenha tido as teorias einsteinianas como favoritas. Há um canal novo na minha grelha de canais novos que aprecio muito: Nat Geo Music. Ainda hoje mesmo, depois de uma tarde devotada à adolescência, onde passei metade da tarde a dormir e a outra metade a jogar Batman: Arkham Asylum resolvi ligar a TV, coisa que raramente faço, e deparei-me com música dominicana e depressa me transportei para as memórias da minha viagem solitária e independente por toda a costa norte da ilha. Recordei todas as introspecções feitas até então. Tinha-me acabado de divorciar há pouco tempo e a ferida ainda estava aberta e purgativa. Na realidade ainda está. E se querem mesmo saber a verdade, penso que irá estar até ao dia em que fechar os olhos e partir definitivamente para o desconhecido. Essas minhas férias foram as mais introspectivas que fiz até ao momento. Tive momentos de verdadeira reflexão auto-psicanalítica que se vai prolongando até aos dias de hoje. Ás vezes conhecemos pessoas nos momentos e lugares errados... Pessoas que gostamos e que deixamos partir porque temos que deixar partir. Porque há feridas que precisam de ser curadas primeiro. A minha grande dúvida é o que acontece se a ferida se mantiver sempre aberta... E isso é assustador.