domingo, 14 de junho de 2009

Best Parents you can get



Estas mini-férias em Lagos chegaram ao fim. E com ele a depressão pós-mini-férias. Não obstante estar quase de férias outra vez o dia cinzento foi um exemplo crasso do meu estado de espírito. Tendo há bem pouco tempo destruído o meu carro contra um eléctrico foi de carro de substituição que me rumei ao Algarve. O regresso, numa vã tentativa de fugir ao trânsito cada vez pior da A2, pautou-se pelo interior do sudoeste algarvio e alentejano e com ele as memórias de outros tempos. Recordei as viagens intermináveis entre Lisboa e Lagos pelas curvas de Odemira, Odeceixe e Aljezur. Não havia uma única viagem em que, ou eu ou a minha irmã, não nos vomitássemos todos. A era dos telemóveis era uma miragem do espaço 1999 e se alguma coisa acontecesse por aquelas estradas bem podíamos esperar que alguém com boas intenções aparecesse. Não havia alternativa. Recordo nas minhas memórias mais ancestrais o genérico, a voz doce do João Chaves e as músicas calmas do Oceano Pacífico. Ainda hoje quando viajo à noite é o único programa que me dá um prazer intrínseco ouvir. Eram realmente outros tempos onde viajávamos numa Toyota Sprinter 1300, um dos poucos objectos que o meu pai conseguiu trazer de Luanda, sem cadeirinhas de bebé ou cintos de segurança que fossem. Dormíamos ao Deus dará nos bancos de napa de trás. E estamos vivos. Fruto do acaso ou não... Hoje em dia somos cada vez mais histéricos com as seguranças mas as ______ acontecem na mesma. As viagens entre Lisboa/Lagos, pelas suas 5 ou 6 horas de duração permitiam que os meus pais percorressem todos os estados de espírito - desde a alegria, cantarolices, anedotas até às discussões, mau humor etc etc etc. Pelo menos, a família tradicional mantinha-se... 10 20 30 anos. Neste meu regresso a Lisboa, tendo feito meu itinerário ancestral recordei e projectei algo que os meus filhos nunca irão vivenciar, fruto de um divórcio relativamente precoce. Aliás, algo que é regra entre os meus amigos e conhecidos. Incrível não é, como se mudam os valores e os limites do que é ou não tolerável.
Nunca irão brincar na rua, como eu brinquei, por medo dos raptos, pedófilos e criminosos. Nunca irão sentir o que é jogar ZX Spectrum em grupo porque só os mais ricos tinham hipótese de dar quase 50 contos por uma máquina, hoje das cavernas... Como tudo mudou em 30 anos. Como eu, sem dar conta, vou envelhecendo com a solidão próprias dos velhos... As minhas avós que morreram quase com 100 anos contavam-me as suas solidões... F___-se, mas elas eram centenárias. Não sei se gosto deste mundo em que vivemos, as coisas começam a acontecer depressa demais e a paciência esgota-se.

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