sábado, 5 de setembro de 2009

A memória comediante.

Tenho um relógio de parede na minha sala com a inscrição "do not forget". E eu não me esqueço, mas gostava. Apesar de ter uma memória selectiva e conseguir eliminar completamente episódios que pouco ou nada me dizem, há muitos outros que se mantêm e me condicionam nas minhas acções. Claro que a memória é talvez o elemento humano que mais partidas nos prega. Não há uma única que tenha sido exactamente como nós a recordamos. Elas mudam-se e adaptam-se como plasticina nos cantos mais recônditos da nossa mente. As memórias vestem diferentes cores de acordo com os nossos estados de espírito. Se umas vezes nos parecem dramáticos os momentos vividos outras vezes são nos quase indiferentes. A memória é assim uma comediante. Há pessoas que distorcem completamente as memórias, ou pela imaginação fértil ou por uso intempestivo de prozac. Esse grande atentado contra a criatividade. As memórias assim pura e simplesmente não existem. Os registos fotográficos ajudam-nos a situar-nos em momentos envelhecidos mas aquilo que dali advém pouco ou nada teve a ver com a realidade passada. Isto leva-me a concluir que não existe uma verdadeira realidade. Esta é tão distorcida como o som do meu velho walkman em que revivo em cassete o mítico Leonard Cohen. Doesn´t matter who broke my heart. But it hurts.

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