sábado, 31 de março de 2012

weird dreams

O tipo do Jeep riscou-me novamente o carro na garagem. Nas minhas barbas. Fui atrás dele e disse-lhe que aquela falta de cuidado era inadmissível. Ia acompanhado pela mãe. Disse-me que não que não tinha riscado coisa nenhuma. Quando eu próprio o acabara de ver. Estava ao pé do carro. Disse-me que o sistema de videovigilância que tinha instalado na garagem o ia provar e começou-me a mostrar uma série de filmes que incidiam somente sobre o lugar de garagem dele. Respondi-lhe que nem sequer se via o meu carro daquele ângulo. Começou a ripostar que deveria ter comprado um carro novo e não um usado. Que se queria ter um porsche que o comprasse novo. Mas que disparate. Eu nem sequer tenho um porsche. E o carro que ele tinha riscado era azul. Olhámos os dois para o meu lugar de garagem e de repente estava lá um porsche 1967, branco, sem rodas, sobre quatro tijolos, sem portas e todo desmantelado. A parede suja de manchas de óleo. Perguntei-lhe o que tinha feito ao meu carro. Tendo-me respondido que isso não era nada com ele. Entretanto chegou a minha vizinha num híbrido metade carro, metade barco, também branco, tendo-me que me desviar quase sendo atropelado. Recordo-me de um carro igual na minha infância, este vermelho, que chegava à praia e entrava mar adentro para o deleite de todas as crianças que se encontravam na praia. Carro bizarro aquele. Quem é que compra uma coisa metade carro metade barco. Há ideias inatingíveis. De repente encontro-me a conduzir montanha acima e fico sem os travões, atrás um tipo gordo conduzia acompanhado pelo filho. Sinto o meu carro a descair e acabo por lhe acertar. Os travões do meu carro não funcionavam de todo.Inverti a marcha ao mesmo tempo que os outro senhores e vejo-as a irem rua abaixo, sairem da estrada e cairem com o carro ao lago gelado, onde boaiavam vários carros. Fiquei aflitissimo e fui atrás. A família gritava de horror e eu sem conseguir ajudá-los. Entretanto aparecem, molhados, que nem um pinto e eu pedis-lhe imensas desculpas! e perguntei-lhes pelo carro - Que se foda o carro responderam-me. Num ápice estou a fazer amor com a filha do casal. Nao lhe vejo a face. Mas eras tu. Há sonhos muito bizarros... Christ.

Insatisfações

Tudo se resume.

quinta-feira, 29 de março de 2012

anã branca

Tudo tem um fim. Por muito que queiramos ele surge às vezes inesperadamente outras vezes expectável. Os prenúncios do fim são intensos e ferem-nas a vista. Tento olhar para o Sol e as lágrimas escorrem-me pela face. As estrelas, no seu final de vida expandem-se e no final contraiem-se dando origem às anãs brancas. Pequenas mas brilhantes, concentrando toda a energia das imensas estrelas que alguma vez foram. Olho para o céu e vejo imagens do passado. Recordo o céu estrelado no Sahara e o silêncio só interrompido pela nossa respiração. Cada estrela cadente é um desejo que não se realizou. E que ansiei. Os projectos ficam pelo caminho. Ficam sempre pelo caminho. Há passagens que não podem ser transpostas. Caminhos que não podem ser trilhados. Tudo tem realmente um fim. Mesmo que seja o início de um novo ciclo. E que se repita quânticamente até à perfeição inatingível. Descobri a Birdy por acaso mas deliciado com doçura da sua voz e que me têm acompanhado nas minhas viagens. Há bandas sonoras para tudo na minha vida. Para o início - Temper Trap. Para o meio - Florence & The Machine. Termino com Birdy porque sim. Porque me faz lembrar Bird Girhl de Antony & The Johnsons com que te brindei nas nossas conversas intermináveis até o Sol raiar e arrastar-me de manhã para o trabalho. Mas preenchido por dentro. Amado. Vivo. Era um Sol radiante no auge da sua vida. Da esperança. Dos projectos que queria alimentar com todos os raios quentes que pudesse emanar. Fui crescendo até ser uma Gigante Vermelha e de repente o Universo fechou-se sobre mim. Uma epifania da realidade espelhada. E encolhi. Minimizei-me. Reduzi-me à minha insignificância de anã branca que sou. Mais brilhante que todas as estrelas juntas à espera de um novo ciclo. Tudo tem um fim. Ou é só o início.

quarta-feira, 28 de março de 2012

pedras de sal

A lâmpada fundiu-se e a escuridão invadiu o pequeno quarto. As pedras de sal libertavam uma luz doce e alaranjada que se esfumou lentamente. Levantei-me e procurei imediatamente uma que a substituisse. Um processo difícil, encontrar uma lâmpada com o casquilho e a voltagem adequados para manter vivas as imagens que guardo a minha volta. Ás escuras e às apalpadelas lá encontrei. Esgueirei-me até à base das pedras de sal, e uma a uma amontei-as no chão com a gratidão merecida. Encontrei um cabelo teu no meio das pequenas pedras e recordei-te... e recordo-te noutros tempos em te passeavas por este pequeno quarto. Tenho marcado o teu semblante, perfil iluminado em recortes suaves na parede branca por baixo dos budas. Começou a tocar Joga da Bjork. Todos os meus textos têm banda sonora. Ajudam-me a escrever e explorar sentimentos, porque as músicas estão frequentemente associadas aos momentos da minha vida. Recordo Bjork com melancolia, por essa estrada fora, contigo a dormir a meu lado e a chuva abrindo-se a nossa frente. Vejo o teu semblante recortado pelos pingos de chuva que te escorrem pela face projectando-se no chão brilhante. Como o teu olhar. Apanho o teu cabelo guardado entre as pedras e recordo-te no tecto, queixando-te do poliéster que te marcava as rótulas. Sorri perante essa imagem. Abro a janela e fumo um cigarro enquanto me agarras pela cintura. O céu estrelado e iluminado pelas pedras de sal chora por solidariedade. Eu sou o conjunto de pessoas que já conheci. Embora não me consiga encontrar. Perdido vejo marcas por esta casa que já foi nossa, embora nunca a quisesses sentir como tal. Nunca te encontraste. Magoas-me quando queres partir afirmando que nada te prende aqui. E talvez por isso a nossa linha condutora tenha sido como foi. Provei uma pedra de sal e não a acho salgada. Talvez nos Himalaias donde elas viajaram até mim. A sua base encontra-se corroída pela sal oculto. Vejo nisso uma previdência para a minha alma.

sábado, 24 de março de 2012

Deep Inside.

O dia está cinzento e chuvoso. Gosto. Vejo o mar ao fundo pela minha janela enquanto escrevo estas palavras. Adoro a vista deste sitio só meu. Ouço Snow Patrol e revejo-me. Há poucas pessoas a marcarem-me, mas essas quando existem têm-me para a vida. Detesto injustiças, falsidades, falsos moralismos, favoritismos, petulâncias, arrogâncias, sentimentos de superioridade, sentimentos de inferioridade, artimanhas e o diabo a quatro. Cada vez mais esses sentimentos negativos rodeiam-me trazendo-me a náusea. Olho para as pessoas e vejo-as transparentes sem sequer conseguirem disfarçar tudo aquilo que as faz cheirar mal. E cheiram muito mal. Este ambiente derrotista que se instalou no país parece trazer ao de cima tudo aquilo que as pessoas têm de mau. Cada vez menos se faz algo sem objectivos calculistas pré-definidos, somente para proveitos próprios. O médico em cima do burro a caminhar por esses montes fora não existe. Morreu... A sua alma corroída se olhasse de frente para aquilo que parte da classe médica se transformou. É triste. No outro dia, uma aluna minha disse-me que iria para fora realizar o seu internato complementar. A principal razão é que a classe médica a desiludiu em Portugal. De facto, é triste, mas em parte é verdade. As inúmeras vezes que ouvimos colegas a denegrirem a imagem dos seus pares só porque sim, é de facto impressionante... Raras vezes a crítica se prende a vida profissional. O mais frequente é a dissecação da vida pessoal dos outros, quando na maioria das vezes o rol de atrocidades que se diz são de tal forma falsos que só com metoclopramida se consegue ouvir essas conversas. Mas de facto, e sem querer generalizar, a classe médica está pejada de pessoas, que embora tecnicamente competentes - nem todas - aliás a impunidade que existe no nosso país é outra coisa linda de se ver - , são mal formadas de raiz. Não têm nem cultura nem educação mas julgam-se. E acreditem que se julgam mesmo. O desprestigio que desde ha uns anos para ca tem vindo a poluir a minha classe profissional, em parte é culpa nossa. Porque, eu também - incógnito - já fui tratado por colegas como se de lixo se tratasse. E de facto, isso acontece mais vezes do que seria admissível. Não conseguimos ter empatia por todas as pessoas, antes de sermos médicos, somos pessoas, mas nunca na minha vida profissional, por mais desagradável que eu achasse alguém, a tratei de forma menos polida. Temos muito a aprender.