Fiz centenas de kilómetros para ir ao teu encontro. Não importava. Nada mais importava. Faria muitos mais. Conheci-te de forma inesperada. Desenhei no meu espírito que seria para toda a eternidade. Ao fim do dia ansiava por te ter nos meus braços. Ansiava por sentir o cheiro da tua pele. A textura dos teus lábios. Ansiava perder-me no teu olhar rasgado. Tudo era secundário. Passei um ano a correr de um lado para o outro só para contigo estar. Um par de horas. E no fim do dia aquilo que contava era somente o amor em que eu piamente acreditava. Era sempre um esforço a despedida matutina. Não queria sair. Queria-te ter ao meu lado. De facto quando existe paixão tudo o resto é relativo. Ficamos cegos perante o amor. E eu fiquei. Talvez a dor da minha frustração só se deva ao amor desmesurado que por ti sentia. Confrontar-me com... Foram setas envenenadas que me trespassaram enquanto de braços abertos corria para te abraçar. Ajoelhei-me perante a evidência de nunca te ter tido verdadeiramente. Revejo com vil tristeza a eloquência do meu amor desmesurado. Na realidade não me correspondeste na mesma amplitude. Embora também tu tenhas mudado a tua vida por uma paixão em que querias acreditar, as tuas atitudes foram antagónicas com as palavras que ias proferindo. Foste-me perdendo a pouco e pouco. E eu a ti. Nada mais me prendia aqui. Podia ter, simplesmente, sido desertor e fugir para Paris afirmando a minha natureza burguesa. Não quis. Embarquei no dia seguinte para combater numa luta em que não acreditava, na esperança de ser abatido. Nada mais importava. Não pensei que se pudesse morrer de amor. Fechei os olhos e deixei o nome marcado ao lado de milhares de nomes que morreram sem razão de ser. A última imagem que de ti guardo, olhavas para mim naquele cafézito adormecido durante um século, que encontrámos por acaso. Podia ter sido tudo tão diferente.
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