segunda-feira, 12 de março de 2018

Clonagem

Concordavamos em tudo. Desde que a conheci nunca houve uma simples contrariedade da minha parte. Nem da parte dela. Tinhamos a relação perfeita. Nunca uma simples discussão invadiu o nosso espaço, a nossa vida. Em comunhão as nossas opiniões eram fotocópias. Na cor das paredes, na música que ouvíamos, nos filmes que víamos, nos livros que liamos, nas coisas que comprávamos para a casa. Era impressionante como em tudo concordávamos. As opiniões acerca dos outros eram as mesmas. Quando algum de nós mudava de canal, parecia sempre que tinhamos lido o pensamento um do outro. Até nos destinos de férias nunca houve um desentendimento. Era a perfeição em forma de relação. Nunca um tom de voz mais exaltado ou uma resposta menos simpática saiu das nossas bocas. Era a relação perfeita. Olhei-me ao espelho e percebi tudo. De repente o canto rachado estendeu-se num ápice desfazendo-o em mil pedaços. E voltei à realidade. Não existem relações perfeitas. E se existirem não são relações. Como não existem pessoas perfeitas. Chega a ser assustador pensar nisso. Seria quase como comer diariamente sem tempero. A ausência de cheiro, de sabor, de tudo o que dá intensidade à vida é essencial para o nosso equilíbrio. Seria como viver com um clone. Um enfado. Mas existem relações assim. E que acabam. Porquê? Porque a a monotomia assim o determina. A vida é para se viver com intensidade. Ou estaríamos já mortos antes mesmo de nos finarmos. 







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