Estava deitado no sofá, onde praticamente passei metade do meu fim-de-semana, dei comigo a pensar nos pequenos prazeres que me preenchem. Um deles é a fotografia. Adoro fotografar mas sobretudo ver fotografias, da minha autoria mas não só. Continuo a comprar anualmente a especial amadores da Photo, hábito esse que absorvi de um velho amigo que não vejo há anos. As fotografias para mim são as traduções das memórias estáticas dos momentos que me marcaram. O meu estilo favorito é, sem sombra de dúvida, o retrato. Á medida que deambulo em locais aglomeradores de pessoas desejo sempre ter uma máquina por perto. Na sexta-feira, depois de um jantar com colegas, resolvi dar um salto ao Lux, a minha disco de sempre. Como ninguém me quis acompanhar lá me dirigi sozinho. Sem saber havia uma festa organizada pelos Bloc Party. Pela primeira vez paguei para lá entrar. Não havia como fugir a um bilhete. Gostei do som, gostei do ambiente, sobretudo gostei da música e encharquei-me de Vodka Redbull. É curioso, que á medida que vamos bebendo, as pessoas vão-se metamorfoseando. Desejei fotografa-las em tons de cinzento. Sozinho, recordei momentos em que desejei auto-retratos. As fotos são assim pinturas reais de momentos da nossa vida. E tenho tantos. Nunca me perturbou estar sozinho. Consigo viajar, ir ao cinema, dançar, sair à noite sozinho sem conversar, só ouvindo, observando e pensando sobre os que me rodeiam. Tiro fotografias mentais que mantenho em pequenas molduras penduradas na memória. Apesar de não parecer sou um lobo solitário, embora consiga viver em alcateia, mas não me acanho quando os outros preferem ficar na zona de conforto. Eu vou onde as coisas acontecem. Mas deitado no sofá, estava a pensar nos milhares de fotografias que me invadem diariamente através das molduras digitais espalhadas pela casa. Em tempos tive que apagar pedaços da minha memória porque as fotos que lá estavam magoavam quem por cá passou. Como se a vida das pessoas se resumisse a esses momentos estáticos. Acedi, porque apesar de me serem indiferentes, compreendi que isso a pudesse magoar. Não obstante, as fotos dela continuam ainda por cá. Passo por elas e recordo tantos momentos bons que ficaram imortalizados. Foram tantos os locais, os momentos, os minutos captados através das objectivas das nossas máquinas. O meu gosto pela fotografia é tanto que achei que oferecer-lhe uma máquina para substituir aquela que ela destruiu nos anos seria um presente com significado. Um dia terei que apagar essas fotos se alguém que venha cá a casa se melindre com esses momentos que estando ou não entrando pelos olhos dentro farão parte do meu passado, das minhas vivências. A vida é cíclica, mesmo para um lobo solitário. Dentro de 10 minutos irá começar a última temporada de Spartacus. Vou voltar ao sofá, não sem antes fumar um Marlboro Light.
PS: Á medida que escrevi estas palavras Mogwai (Mr. Beast) invadiu-me o silêncio da noite.
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