quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

as pessoas só nos fazem falta quando já partiram

Nunca fui um homem de acreditar em verdades absolutas. Oponho-me completamente aos dogmas indesmentíveis. Talvez por isso as religiões nunca me seduziram. Mas quando dou por mim a pensar na Vida em geral consigo identificar duas ou três situações que ano após ano, geração após geração, não mudam. Um delas é que, fruto do egoísmo humano, as pessoas só nos fazem falta quando já partiram. Os portugueses conseguiram criar uma palavra para isso - Saudade. E de facto saudade é algo que surge quando menos se espera, quando estamos mais sensíveis, mas sobretudo quando sabemos que não voltaremos a ver a pessoa que perdemos. Ou por que morreu, ou porque desapareceu da nossa vida. A Morte é de facto irrerversível, mas uma relação fracturada, teoricamente, teria sempre hipóteses de recomeçar. Esquecemos-nos de um facto importante, é que após a ruptura, dificilmente as feridas que a ocasionaram sarão. E no nosso modo de vida actual, o ritmo que nos impomos a nós próprios, é contraproducente e as pessoas não perdoam e dificilmente aceitam ser perdoadas. O orgulho, se lhe quiserem chamar, mantêm viva a angústia, o mau génio e de uma forma inesperada a Saudade. As pessoas na realidade fazem-nos falta quando sabemos que nunca mais as iremos ter. Isso aplica-se aos familiares, aos amigos, às namoradas, às esposas, aos colegas... Acontece quando as pessoas se zangam por diversas razões, mas também quando, por circunstâncias da vida, vão viver para outro bairro, outra cidade, outro país. As saudades corroiem por dentro e demora muito tempo a que desapareçam. Normalmente nunca chegam a desaparecer completamente, estando sempre prontas a inflamar-se inesperadamente. Quantos de nós, com um copo a mais, não reviramos as nossas memórias e temos vontade de telefonar a alguém a meio da noite, só para ouvirmos a voz que perdemos no nosso ouvido. O estúpido é que quando temos as pessoas ao nosso lado, fruto das vidas rotineirazinhas, achamos que são dados adquiridos. Mas não são. Se não alimentarmos uma relação, seja ela qual fôr, mais cedo ou mais tarde aparece alguém com a frescura da novidade que coloca tudo em causa.  E o pior é que, ao contrário do que seria de esperar para pessoas inteligentes, não se vai aprendendo com os erros. Já errei, já fui vítima de erros, invariavelmente quando as pessoas supostamente amadas e amantes se separam deve-se sempre a erros bicefálicos. Muito raramente as pessoas conseguem voltar a reunir-se. Para isso seria precisa verdadeira sinceridade e amor-próprio. Talvez um dia...

(listening to: Don´t Give Up, Peter Gabriel)

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