quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Um beijo

O beijo é transversal a todos as espécies animais. Vejo os meus agarponis em amena troca de carícias com os bicos e apercebo-me que não há nada de mais intimista do que um simples beijo. Um simples acto de afecto que pode ir desde a demonstração do amor que se tem por um filho, por um amigo até à luxúria da paixão desenfreada. O beijo implica tantos sentimentos - aproximação, respeito, contacto, desejo, amor, amizade, paixão, compaixão... Recordo os primeiros beijos e a emoção que eles trazem. Quando se começa a gostar de alguém e o desejo de sentir os seus lábios surge é difícil disfarçar, lambemos os nossos próprios lábios, humedecemo-los para que fiquem receptivos e quentes aqueles dos quais não conseguimos tirar os olhos. Há beijos e beijos... Há aqueles beijos disfarçados no canto dos lábios quando ainda não investimos ou temos medo de não sermos recebidos. Existem aqueles beijos de loucura numa noite mais quente e etilizada. Mas um beijo nunca é um simples beijos. Não existem simples beijos, mesmo quando na exploração da adolescência eles surgem, têm sempre algum significado. Não conseguimos beijar pessoas pelas quais não sentimos absolutamente nada. O beijo não pode, nem deve, ser destituído de emoções. Podem não passar de meros impulsos carnais mas são normalmente o início de um cada vez maior grau de intimidade. Não nos podemos convencer que é um simples beijo, porque um beijo nunca é simples. 

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

noisy nights

É a terceira vez esta semana que acordo repentinamente a meio da noite. Estou a sonhar, daqueles em que sentimos, cheiramos, falamos e vivemos como se de uma segunda vida se tratasse, e de repente algo me desperta repentinamente do meu sonho. O barulho de algum objecto a cair, o telefone do quarto a tocar acordando-me de repente. Há duas noites por volta das 5 da manhã saí do meu sonho para atender o telefone. Alguém ligou e desligou, mas sem registo de chamadas. Há medida que escrevo isto tenha uma estranha sensação de deja vu, como se já me tivesse ocorrrido e eu tivesses escrito aqui acerca do mesmo. Aliás tenho que pesquisar as entradas deste blogue para ter a certeza se se trata realmente de um deja vu ou então de uma sensação já vivida. Não consegui voltar a dormir. Fui trabalhar com 4 horas de sono. Hoje de madrugada, acordei do meu sonho por volta das 3 das manhã com o barulho de um objecto estrondoso a cair. Desactivei o alarme, percorri todas as divisões da casa, espreitei pelo óculo da porta, nada, nem vivalma, nenhum objecto suficientemente barulhento tinha caído ao ponto de me despertar. Só me ocorre dizer - foda-se agora já nem sonhar posso.


terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Loves me. Loves me not. Loves me. Loves me not. Loves...

O mais difícil é sermos coerentes com aquilo que acreditamos. As palavras fluem e desaparecem no ar. São uma espécie de nevoeiro, uma espécie de pequena nuvem que se desfaz ao toque. E de facto o mais difícil é agirmos de acordo com aquilo que pensamos e dizemos. Isso sim, é uma prova. Podemos dizer, falar, escrever, pintar, filmar, fotografar, desenhar muita coisa e depois agir de forma diferente daquilo que defendemos. E eu até acredito que acreditamos. A coerência nas atitudes é talvez a maior prova de humanismo e amor que se pode dar. E sim, a presença no espírito de alguém, mantêm-o vivo para além das memórias terrenas. As pessoas podem estar longe vivendo e trabalhando a meia-dúzia de quilómetros. A vantagem de se viver numa cidade grande transforma-se por vez em desvantagem. À medida que nos vamos afastando do olhar também o coração parte na direcção oposta. Já senti as consequências da distância física. Uma pessoa não come, não dorme, não respira, acorda a meia da noite, sai das sessões de cinema a meio na ânsia de que o Skype esteja ligado. É curioso porque a necessidade tão grande que eu tinha de fazer chamadas internacionais era suplantada pelo respeito e pelo receio de ser possessivo, quando fui tudo menos possessivo. Quando alguém ama confia cegamente. Um amigo meu disse-me que ninguém, nem o próprio, pode ter cem por cento de confiança. Eu discordei. Loves me. Loves me not. Loves... E fica no ar a dúvida eterna.

Recordo aquela noite fria de Inverno, no à margem, a olhar a nossa ponte sobre o Tejo e a pensar em ti a pensar em mim. A lua cheia espreitava-me por cima do ombro. Desejei poder projectar-me e de repente viajar até Trastever, aquela cave perfumada de bellissima pasta. Ficam as memórias dos pensamentos das memórias. 


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Eladio CLIMAX


Born Deeply Inside Me

Faz amanhã 27 anos que te conheci. Nem um dia a mais nem um dia a menos. Nasceste sem avisares, frágil e desprotegida. Nasceste como uma flor tropical de tons esverdeados que me feriram a vista quando cruzámos os olhares. Faz amanhã 27 anos que entraste na minha vida sem que tu soubesses. No início ignorei-te numa defesa ultrapassada e bacoca. Acompanhei cada passo teu, as tuas primeiras palavras, as cuspidelas da papa Cerelac que teimavas em não engolir, as primeiras letras, as primeiras leituras, vi as tuas expressões faciais quando começaste a apreciar boa música, acompanhei-te quando terminaste o liceu, quando choravas emocionada no cinema, que tu tanto aprecias, quando entraste na faculdade, nos teus momentos de felicidade no final dos exames. Recordo-me como se fosse ontem a tua formatura, a tua benção das pastas, a tua ida para fora em Erasmus, as tuas viagens por essa Europa fora quando nos encontravamos por aí nesses aeroportos espalhados. Ainda hoje vejo o teu sorriso quando cheguei a Buenos Aires à tua procura. Lembro-me das tuas lágrimas de tristeza e alegria quando acabavas com os teus namorados, quando iniciavas uma nova relação. Senti a tua liberdade quando o teu olhar se perdia no horizonte na baía de Guanabara, quando te passeavas pelos canais de Veneza, quando alguém te seduzia em Roma e Verona. Vejo-te ao longe do bar, dançando aquela música quente, com refrões sem sentido, enquanto bebo aquela mistura de álcool e ervas aromáticas. Pensei em aproximar-me de ti, mas já alguém tinha tomado essa iniciativa. Faz amanhã 27 anos que te conheci e no entanto passei 24 a ganhar coragem para declarar o meu amor por ti. 

and we know who you are. and we know where you lives. and we know there´s no need to forgive. again.

And we know who you are. And we know where you lives. And we know there´s no need to forgive. Again. 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

23 de Fevereiro de 2013

Boa noite 23 de Fevereiro de 2013. Espero que estejas contente por estarmos todos cheios de frio. Hoje foi um dia e noite em cheio. Vou-me deitar agora e sonhar com o Sr. Piscine, Pi para os amigos. Adorei o filme, dos melhores que já vi ultimamente. Em uníssono estou viciado no último disco de Nick Cave & The Bad Seeds. Estou também a ler se isto é um homem, de Primo Levi. A ler a passo de caracol, já que não é um livro fácil. À medida que vou avançando no livro vou vendo os locais em Auschwitz-Birkenau por onde passei. Muito duro. Well, vou-me deitar que são 3 da manhã e não tenho nada de muito importante para contar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

se me amas porque não me amas?

Se me amas porque não me amas,
Se me amas como deixaste que me esquecesse de ti,
Se me amas porque me apagaste da tua memória,
Se me amas porque partiste sem avisar,
Se me amas o que te levou a soprar a vela da chama eterna,
Se me amas porque fechaste os olhos aos meus,
Se me amas porque afastaste os teus lábios e negaste-me o beijo da reconciliação,
Se me amas porque rasgaste o diário da nossa paixão,
Se me amas porque apagaste as fotos das nossas memórias,
Se me amas porque não resististe às tempestades que nos queriam levar,
Se me amas porque deixaste de ouvir as nossas músicas,
Se me amas o que te leva a desejar que eu não te ame,
Se me amaste porque não me amas mais,
Se me amas porque não me amas?




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

cada vez que se perde alguém um universo inteiro desaparece

Cada vez que se perde alguém um universo inteiro desaparece. É uma verdade, daquelas absolutas para a morte mas também para as rupturas. O que é a morte se não o desaparecimento de alguém. O que é o desaparecimento de alguém se não a morte. Quando, num estilo novelesco, as pessoas se zangam e afirmam que nós morremos para elas, de facto é isso mesmo que se passa. Da mesma maneira que, quando morre alguém, ficam as memórias, quando alguém desaparece para sempre das nossas vidas, ficam as memórias e pessoa deixou de coexistir connosco. Assim morte e rupturas andam de braços dados. A única vantagem que uma tem sobre a outra é que para a morte não há remédio, que se saiba, e para as roturas sempre fica uma réstiazinha de esperança. Por muito pequenina que seja, sempre os caminhos se podem cruzar um dia e os erros cometidos no passado ficarem resolvidos. 
Mas, aquilo que se sente mesmo é que um universo inteiro desaparece. Desaparecem as vivências, as cumplicidades, os olhares confidentes, os abraços, os beijinhos, os gostos semelhantes. Desaparecem os jantares à luz da vela, desaparecem os almoços fugidios mas que sabiam tão antes de uma tarde de trabalho intensa. Desaparecem os comandos da televisão arremessados para dentro do alguidar. Desaparecem os livros discutidos, os filmes vistos, as viagens partilhadas. Desaparecem as idas às compras, desaparecem as pequenas discussões, as grandes discussões, desaparecem as reconciliações. Quando alguém desaparece da nossa vida o nosso universo treme até atingir novo equilíbrio. Ficamos perdidos no vodka, ou no martini bianco se agradar mais. Tudo desaparece, as viagens de camelo, de barco, as caminhadas, as viagens de comboio, as protecções mútuas. Desaparecem, ao som de Arcade Fire, os pés arremessados contra a barriga de alguém que tratou mal a pessoa amada. Desaparecem os gritos quando alguém tentou abrir a nossa mochila num prédio pestilento de Berlin.. Desaparecem as tardes de amor ao som de milhares de músicas apreciadas em silêncio. Desaparecem os pés vomitados por uma noite de excessos no Bairro Alto e as olheiras vidradas à porta do Lux. Desaparecem as loucuras do circolo del artisti. Os passeios na Via del Corso. A busca pela farmácia romana... Desaparecem as noites de Jazz nessa Madrid amada e os bolos de chocolate na Amsterdão gelada. Tudo desaparece sem que se tenha querido. Camden Town ficou longe e Londres afundou-se. Olha-se à volta e percebe-se que Gdansk, Warsow, Krakow e Auschiwtz-Birkenau desaparecem do mapa. As viagens podem ser fugas, mas as nossas não foram. Recordo o meu carro novo a passar por entre riachos ao encontro de Gaspar, o burro. Esse universo colorido ficou cinzento. Tudo desaparece menos as memórias, que se vão tornando sépia.
(ouço Nick Cave and the Bad Seeds)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

as pessoas só nos fazem falta quando já partiram

Nunca fui um homem de acreditar em verdades absolutas. Oponho-me completamente aos dogmas indesmentíveis. Talvez por isso as religiões nunca me seduziram. Mas quando dou por mim a pensar na Vida em geral consigo identificar duas ou três situações que ano após ano, geração após geração, não mudam. Um delas é que, fruto do egoísmo humano, as pessoas só nos fazem falta quando já partiram. Os portugueses conseguiram criar uma palavra para isso - Saudade. E de facto saudade é algo que surge quando menos se espera, quando estamos mais sensíveis, mas sobretudo quando sabemos que não voltaremos a ver a pessoa que perdemos. Ou por que morreu, ou porque desapareceu da nossa vida. A Morte é de facto irrerversível, mas uma relação fracturada, teoricamente, teria sempre hipóteses de recomeçar. Esquecemos-nos de um facto importante, é que após a ruptura, dificilmente as feridas que a ocasionaram sarão. E no nosso modo de vida actual, o ritmo que nos impomos a nós próprios, é contraproducente e as pessoas não perdoam e dificilmente aceitam ser perdoadas. O orgulho, se lhe quiserem chamar, mantêm viva a angústia, o mau génio e de uma forma inesperada a Saudade. As pessoas na realidade fazem-nos falta quando sabemos que nunca mais as iremos ter. Isso aplica-se aos familiares, aos amigos, às namoradas, às esposas, aos colegas... Acontece quando as pessoas se zangam por diversas razões, mas também quando, por circunstâncias da vida, vão viver para outro bairro, outra cidade, outro país. As saudades corroiem por dentro e demora muito tempo a que desapareçam. Normalmente nunca chegam a desaparecer completamente, estando sempre prontas a inflamar-se inesperadamente. Quantos de nós, com um copo a mais, não reviramos as nossas memórias e temos vontade de telefonar a alguém a meio da noite, só para ouvirmos a voz que perdemos no nosso ouvido. O estúpido é que quando temos as pessoas ao nosso lado, fruto das vidas rotineirazinhas, achamos que são dados adquiridos. Mas não são. Se não alimentarmos uma relação, seja ela qual fôr, mais cedo ou mais tarde aparece alguém com a frescura da novidade que coloca tudo em causa.  E o pior é que, ao contrário do que seria de esperar para pessoas inteligentes, não se vai aprendendo com os erros. Já errei, já fui vítima de erros, invariavelmente quando as pessoas supostamente amadas e amantes se separam deve-se sempre a erros bicefálicos. Muito raramente as pessoas conseguem voltar a reunir-se. Para isso seria precisa verdadeira sinceridade e amor-próprio. Talvez um dia...

(listening to: Don´t Give Up, Peter Gabriel)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

apneia

Não consigo respirar. Acordo a meio da noite, molhado, a tremer de frio, depois de um mergulho em águas profundas e gélidas. Acordo sem conseguir respirar. Olho para o tecto, onde a hora projectada me diz que devia continuar a dormir. Não consigo. Levanto-me e acendo um cigarro. Apetece-me ouvir música. Ligo o sistema e ouço Franz Ferdinand. Não é muito adequado para as 4 da manhã. Já por vezes acordei a meia da noite com estes pesadelos, com esta sensação de ansiedade que me consome. De todas as vezes que isto aconteceu constatei mais tarde que eram sensações premonitórias. Existem sempre razões para sairmos da nossa outra dimensão. Umas somos nós os responsáveis, mas nem sempre. De todas as vezes que o meu amor foi adulterado acordei a meio da noite. De manhã sinto-me cansado. Não consigo dormir de uma forma reconfortante. Sinto-me em apneia constante e no entanto consigo respirar. Olho-me ao espelho, tenho os lábios cinzentos, os olhos vermelhos e o aspecto de quem não dormiu. Nem um duche quente me reconfortou. Os pássaros na cozinha abanam as asas ao ritmo do meu desespero. Assustei-me. A última vez que eles fizeram isso passados uns minutos o prédio abanou. Malditos tremores de terra. Tu de carro, de regresso à tua casa, nem deste por nada. Mas o meu mundo tremeu. Estou em apneia e o meu pensamento vagueia à tua volta. Cada dia que passa me vou esquecendo da tua face, do teu cabelo, do teu cheiro, do teu tom de voz, das tuas cores, das tuas botas perdidas na carpete preta quando nos envolvíamos ainda antes do elevador chegar ao seu destino. As peças de roupa iam sendo projectadas. Quando chegávamos à cama desfeita, era-mos um só. A meio da noite acordava molhado, mas desta vez não tremia de frio. A apneia era em uníssono, partilhada à medida que sentia a tua respiração ofegante no pescoço. Ouvíamos Sigur Ros. Mas à medida que os dias passam me vou esquecendo de ti. Não esqueço os momentos e as emoções, só a pessoa. Acordo em apneia. Hoje comentei que achava que tinha apneia de sono. Sinto-me cansado. Não consigo respirar. Na realidade nem quero. De facto, as pessoa quando desaparecem parecem desenhadas a lápis, cinzento, fraquinho, cujo o desenho se vai esbatendo no tempo. Adormeci novamente a pensar num filme que vimos uma vez, 9 Songs. À medida que os episódios se sucediam ao ritmo de cada concerto, a minha mente anteviu o nosso futuro. Que ao contrário de tudo o que vendemos ao outro, o nosso futuro a dois tinha os dias contados. Apesar dos muitos pontos de interesecção os nossos mundos diferentes e opostos colocaram-nos a caminhar nas antípodas um do outro. Sem esforço para invertermos a trajectória ela invariavelmente afastou-nos para sempre. Somos a viva prova que afinal a terra não é redonda e não nos voltamos a encontrar. (Ouço Fallen Empires, Snow Patrol) Acordo e deito-me em apneia. Preciso de oxigénio.



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Photo Love

Estava deitado no sofá, onde praticamente passei metade do meu fim-de-semana, dei comigo a pensar nos pequenos prazeres que me preenchem. Um deles é a fotografia. Adoro fotografar mas sobretudo ver fotografias, da minha autoria mas não só. Continuo a comprar anualmente a especial amadores da Photo, hábito esse que absorvi de um velho amigo que não vejo há anos. As fotografias para mim são as traduções das memórias estáticas dos momentos que me marcaram. O meu estilo favorito é, sem sombra de dúvida, o retrato. Á medida que deambulo em locais aglomeradores de pessoas desejo sempre ter uma máquina por perto. Na sexta-feira, depois de um jantar com colegas, resolvi dar um salto ao Lux, a minha disco de sempre. Como ninguém me quis acompanhar lá me dirigi sozinho. Sem saber havia uma festa organizada pelos Bloc Party. Pela primeira vez paguei para lá entrar. Não havia como fugir a um bilhete. Gostei do som, gostei do ambiente, sobretudo gostei da música e encharquei-me de Vodka Redbull. É curioso, que á medida que vamos bebendo, as pessoas vão-se metamorfoseando. Desejei fotografa-las em tons de cinzento. Sozinho, recordei momentos em que desejei auto-retratos. As fotos são assim pinturas reais de momentos da nossa vida. E tenho tantos. Nunca me perturbou estar sozinho. Consigo viajar, ir ao cinema, dançar, sair à noite sozinho sem conversar, só ouvindo, observando e pensando sobre os que me rodeiam. Tiro fotografias mentais que mantenho em pequenas molduras penduradas na memória. Apesar de não parecer sou um lobo solitário, embora consiga viver em alcateia, mas não me acanho quando os outros preferem ficar na zona de conforto. Eu vou onde as coisas acontecem. Mas deitado no sofá, estava a pensar nos milhares de fotografias que me invadem diariamente através das molduras digitais espalhadas pela casa. Em tempos tive que apagar pedaços da minha memória porque as fotos que lá estavam magoavam quem por cá passou. Como se a vida das pessoas se resumisse a esses momentos estáticos. Acedi, porque apesar de me serem indiferentes, compreendi que isso a pudesse magoar. Não obstante, as fotos dela continuam ainda por cá. Passo por elas e recordo tantos momentos bons que ficaram imortalizados. Foram tantos os locais, os momentos, os minutos captados através das objectivas das nossas máquinas. O meu gosto pela fotografia é tanto que achei que oferecer-lhe uma máquina para substituir aquela que ela destruiu nos anos seria um presente com significado. Um dia terei que apagar essas fotos se alguém que venha cá a casa se melindre com esses momentos que estando ou não entrando pelos olhos dentro farão parte do meu passado, das minhas vivências. A vida é cíclica, mesmo para um lobo solitário. Dentro de 10 minutos irá começar a última temporada de Spartacus. Vou voltar ao sofá, não sem antes fumar um Marlboro Light.

PS: Á medida que escrevi estas palavras Mogwai (Mr. Beast) invadiu-me o silêncio da noite.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

:() blá blá blá blá blá... blá blá blá

blá blá blá... blá blá blá... e mais... blá blá blá... e ainda... blá blá blá. Há momentos em que nos cansamos de conversas repetitivas e desligamos de vez. Desliga-se porque não vale a pena, não é justificável ouvirmos sempre os mesmos argumentos dogmáticos em discursos espirais que não trazem mais do que sofrimento. No início custa, porque nos habituamos às pessoas com ou sem blás blás blás... depois vamos-nos habituando e quando damos por isso desligamos-nos definitivamente e tudo, mesmo tudo, não passa de uma memória distante. 


E vem-nos à memória uma frase batida: "Hoje é o primeiro dia do resto da tua Vida." Passar bem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Love Crash


Amanhã é dia fatídico. É dia de clausura. É um dia que artificialmente criado pode ser muito interessante ou verdadeiramente emetizante. Estou na segunda opção. Já tive dias de amanhã engraçados, outros verdadeiramente apaixonado, mas neste ano de 2013 mais valia que desaparecesse do calendário Gregoriano. E neste caso é verdadeiramente Gregoriano, já que só me dá vontade de ir a correr para a casa de banho e vomitar-me todo. Só de imaginar os casalinhos enamorados a trocar saliva e a fazer jantarinhos da treta à luz da vela e com musiquinhas da treta e ripas de bacalhau em cama de grêlos e batata a murro e sobremesas da treta hipercalóricas ficou com vontade de fugir. E isso tudo tem uma palavra: Inveja. Sim inveja e auto-comiseração... mas sinceramente não me apetece desenvolver o tema. Pelo menos este ano não gasto dinheiro em merdices de relógios da Swatch criados oportunisticamente. Bahhh.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

rotinas

Há um dia em que chegamos a casa e paramos em frente à janela. Do meu quarto vejo a foz do Tejo. Na realidade este já morreu e envolveu-se com o Atlântico iluminado pelas luzes alternadas do Bugio. Nos dias de chuva intensa percebe-se, mesmo que ao longe, a mistura das águas barrentas com o azul profundo do mar frio e esbranquiçado pelas ondas que banham a baía de Cascais. Neste dia queremos acreditar que a nossa vida é especial e que somos iluminados pelo Sol incandescente que teima em manter-se acordado atrás da linha de prédios que rasgam o céu à nossa frente. Mas nem a nossa vida é especial nem nós deixaremos marcas numa humanidade que teima em esquecer-se das pessoas pequeninas e comuns. Dos milhões e milhões de pessoas que vão nascendo e morrendo diariamente neste planeta perdido no espaço só uma ínfima parte deixará marcas. Mas mesmo essas é só uma questão de tempo até serem varridas da memória. Há um dia em chegamos a casa e apercebemos-nos que a nossa vida não passa de uma rotina sem sentido. Que não somos verdadeiramente felizes, que mascaramos as nossas vivências com pequenos passatempos e que de um momento para o outro morremos e ninguém se lembrará de nós a não ser ocasionalmente em pequenas conversas melancólicas das que temos a recordar aqueles que já morreram, uns precocemente e outros nem por isso. Hoje cheguei a casa e defrontei-me em frente ao vidro acastanhado que me separa do vento frio e chuvoso que se faz sentir lá fora. Nesses minutos em que o cigarro ardia no cinzeiro o meu pensamento flutuou à minha volta. Pensei nas inúmeras asneiras que já fiz mas também nos momentos em que marquei a diferença pela positiva. No entanto se me perguntarem se sou feliz a resposta é NÃO. Os dias vão passando uns atrás dos outros e sinto falta de qualquer coisa que não sei definir. Vou aliviando a minha dor com música que é um dos meus grandes prazeres, vou adormecendo o sofrimento com leituras, encharco-me de analgésicos sem sucesso. A minha dor é espiritual e não encontro a resposta por mais que procure. Estou cansado desta vidinha rotineira que não traz nada de bom nem a mim nem aos que me rodeiam. Só me sinto bem a viajar e isso não é mais do que uma fuga à mesquinhez que me rodeia. Os amores vão aparecendo e desaparecendo até que nada sobra. Fico só com as minhas paredes cinzentas do fumo espiralado do tabaco, a minha companhia soturna e auto-destrutiva. Surge-me à memória aquele desenho de Quino que acompanha os meus pesadelos desde sempre. Recordo as leituras no sofá da tia Luisa em que me deleitava com este livro até aquele maldito cartoon que sempre me assustou, talvez por medo premonitório de traduzir a minha maneira de estar perante a vida. E desse sempre tive medo.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Banqueiro Sem-Abrigo.

A falta de sentido social de alguns indivíduos espantam-me. Fiz parte do grupo dos Médicos do Mundo que no ano 2000 em Lisboa iniciou apoio à população de sem-abrigos e contactei directamente com muitas pessoas que a vida negou os mais básicos elementos de dignidade. E afirmar que se os sem-abrigo aguentam porque é que nós não aguentamos é de uma falta de humanismo que me provoca vómitos. Sr. Dr. Ulrich, os sem-abrigo não aguentam, nem vivem, limitam-se a sobreviver. Muitos padecem de patologia psiquiátrica e muitos morrem em hipotermia e por inanição, palavras que provavelmente o senhor desconhece. Gostava que por uma semana, só uma, o senhor abandonasse o conforto do seu lar, do seu Mercedes, dos seus restaurantes de topo, das viagens em executiva e vivesse junto a uma das suas agências, à porta, debaixo de um cartão, comesse do lixo, não tomasse banho, fosse olhado com repugnância e muitas vezes mal-tratado por imbecis que também fazem afirmações como a que o senhor fez. Há certas franjas da nossa sociedade que me metem nojo. A sua é uma delas.

E hoje procurei Pablo Neruda...


Saudade

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Pablo Neruda