segunda-feira, 2 de março de 2009

Memorias


No fim-de-semana fui a casa da tia Nanda esvaziar-lhe a alma. Nada mais deprimente do que dividir entre os vivos os pertences daqueles que já partiram. Sem testamento oficial, tão somente um folha branca com uns dizeres que até na hora da sua morte me fizeram esboçar um sorriso. O senso de humor da minha tia era interessante. Aliás, é uma característica que acho transversal à minha família. Temos todos a mania que somos engraçadinhos. Mas de facto, alguns de nós até somos e senso de humor não nos falta. Tentei resistir a entrar naquela casa... Mas não foi mais possível. Foi o desejo da minha tia que não houvessem brigas, algo que acontece com grande frequência entre os vivos quando os mortos já estão a curtir o prato à distância por uma simples divisão de tarecos. Trouxe duas ou três coisas: Um radio antigo com cerca de 60 anos que me despertava frequentemente ao som da RR e do António Sala nas minhas temporadas em Benfica na casa da minha Tia e Madrinha... o que eu ouvi ralhar quando mexia na "#"$$%#$$#$ dos botões e a desviava do António Sala e o "programa Despertar". Trouxe uma máscara de Lourenço Marques que o Tio Fernando tinha trazido também para aí há 50 anos - sempre tive medo daquela coisa e agora tenho-a pregada na parede da minha casa. Trouxe uma louça das caldas Rafael Bordalo Pinheiro "um bracinho do menino". Trouxe a colecção de carros antigos do Filipe, namorado da minha tia, 30 anos mais novo, que fez a proeza de partir primeiro com um adenocarcinoma... É fodido não é? A caricatura que aqui ponho é minha, foi no meu 5º ano de Medicina e descobria-a entre as coisas da Tia Nanda. Ficam as memórias.

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