quarta-feira, 20 de junho de 2012

old photos 2





Gosto de fotografia como gosto de música. Já aqui escrevi várias vezes a presença constante na minha vida da música... e também de fotografia. As fotos trazem-me à memória momentos como se estivesse a reviver os mais marcantes. Afinal essa é a sua verdadeira função. Sempre com banda sonora. Tantas vezes conversámos acerca de envelhecermos juntos. De estarmos unidos para todo o sempre. Como seria estar novamente sentado naquele tronco na Terra del Fuego quando eu tivesse 100 anos e tu 89. Mal sabíamos que mentíamos um ao outro e a nós próprios. Guardo no meu espírito aquele abraço quente envolvido por uma paisagem que nunca mais esquecerei. E que que vivi contigo. Foi sem dúvida a viagem da minha vida. Não voltarei à Patagónia sem ti. Nunca mais voltarei. Tantas coisas ficaram por dizer e por fazer. Como não soubemos gerir as adversidades das nossas vidas que podiam ter sido perfeitas a dois. Errei e senti na pele os teus erros. Não soube ultrapassar aquelas memórias ácidas com que destruíste a imagem impoluta que de ti tinha. Como eu gostaria de voltar atrás no tempo e proferir as palavras que proferi mas ao contrário e receber-te da maneira que tu ansiavas. Errei e nada posso fazer para o remediar porque estás longe. Gosto das fotos velhas embora nunca seremos fotografados de mão dada como gostávamos de andar Chiado acima eu de bengala e chapéu e tu de sobretudo negro. Foram 2 anos intensos em que vivemos sofregamente com momentos inesquecíveis. Para o bem e para o mal. Tudo o que fazíamos fazíamos intensamente. E como um fósforo que timidamente inicia a sua combustão explode em mil cores e apaga-se num cizento queimado, também nós vivemos a nossa relação. Choro. Choro muito e repito mais um ciclo de vida. Mais um ciclo de escritas. Mais um ciclo de desilusão. Por ti e por mim. Recordo aquela noite mágica na Confeteria Ideal em Buenos Aires. Apesar de não dançarmos um passo de Tango sentimos a paixão vivida por aquelas pessoas, nossas avós, que se amavam para a eternidade. Também nós jurámos amor eterno. Leio as tuas cartas e perco-me na fragilidade em que transformámos a nossa relação. Orgulho desmensurado. Dos dois. Argumentavas que a vida não são só viagens. Mas de facto os melhores momentos da minha vida vivi-os contigo em viagem. Talvez por estarmos os dois distantes desta realidade mesquinha que nos oprime. Se abrires o teu espírito verás que tenho razão. Ontem sonhei que estávamos novamente em Marrocos, recordei a explosão do Argana que só por sorte não nos levou a vida, recordei o medo imenso que tinha de te perder na Medina de Marrakeche, um pronúncio do medo imenso que sempre tive de te perder... em certa medida promovi a perda. Um espécie de eutanásia emocional. Desde há já algum tempo que aquele sentimento de "para a eternidade" se tinha perdido. Sentia de ti um distância atroz, sempre perdida na mágoa da tua outra esfera. Permitiste que interferisse na nossa vida pessoal. Apoiei-te sempre que pediste mas a pouco e pouco tornou-se insuportável. Não aceitavas nada que fosse contra o teu pensamento pré-estabelecido. Promovi uma morte que já há muito se vinha anunciando. Uma eutanásia verdadeiramente sentimental. Sabia exactamente qual seria a tua reacção às minhas palavras. No meu íntimo sabia que desaparecias para todo o sempre. E tu também o sabias. Esperei a janela para te ver chegar. Adormeci e quando acordei o teu carro já lá não estava. Até hoje.

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