Chego a casa cansado de um dia de intensa labuta. Sai de casa na manhã ainda escura e no meio de intenso nevoeiro. Os miúdos ficaram no colégio. Regresso a casa quase às 22h sem eles. Pelo meio 200 km e umas quases duas dúzias de ecografias e consultas feitas. Dark Thursdays. Todas as semanas a mesma rotina. Passei por uma churrasqueira obscura na Buraca que tem os melhores frangos com piri-piri que conheço. As pessoas na fila olham-me de lado enquanto estaciono. Talvez não seja habitual. Corro o risco de ser assaltado em troca de um belo frango assado. A preguiça impede-me de cozinhar. Trago arroz de cantina como acompanhamento. Olho para as batatas fritas Ti-Ti de lado. Os empregados com pronúncia do leste são simpáticos. Hoje não me atrevi a pedir factura. Queria era pirar-me dali o quanto antes. Não porque alguém quisesse trocar o fiat punto pardacento do lado pelo meu, mas estava a definhar com vontade comer. Não fome. Vontade de comer, como passo a vida a insistir aos meus miúdos. Estou enjoado. Não devia ter comido um frango inteiro sozinho. Bebo um ristretto e fumo um cigarro. Entretanto dou os parabéns a uma grande amiga. Daquelas que passamos meses sem nos encontrar mas quando nos vemos parece que foi ontem. Todos nós temos sensações semelhantes. Amanhã vamos matar saudades e reunir a malta no ao Rubro do campo pequeno. Acendi um cigarro e afundei-me no sofá a ver umas das minhas séries fetiche - Californication. Revi o episódio das macacadas e auto-asfixia erótica. Lindo. Olho para o relógio de parede. São 22:50. Foda-se, tenho que lhe mudar a pilha. Tenho sono mas para variar não me consigo ir deitar. Fico sempre com a sensação que é uma perda de tempo. Esta necessidade biológica básica de dormir põe-me louco. Não quero. Mas acabo por ir invariavelmente cheio de sono de manhã. Vale-me o Diogo Beja Show na Antena 3 para me despertar. Resolvi ouvir o último disco dos The Strokes. E à medida que estas palavras fluem recordo-me da última vez que ouvi Strokes. Estava sentado, também num dia chuvoso e deprimente, no comboio a caminho de Salzburgo com origem em Munique. O meu pensamento fluia onde costuma fluir quando estou sozinho. Vou-me imiscuir de o descrever. Não vale a pena. Cheguei a salzburgo ainda cedo. Cidade interessante. Almocei nesse dia num café giríssimo recomendado pela Lonely Planet. Não me recordo o nome. Era frequentado por universitários. Na realidade por universitárias. Fui devorado com os olhos. De facto a diferença torna-se um desejo. Não há nada como ir para um sítio onde abundam louros de olhos azuis para nos sentirmos desejados, enquanto passamos despercebidos na nossa terra. Resolvi tomar as gotas e desci à terra. Sou somente mais um ser banal que quando morrer não deixará marcas na humanidade. Thats Life.
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