A solidão é a força motriz do pensamento romântico. Quando estamos sozinhos sem alternativa as nossas memórias fluem para locais inesperados e distantes. Esquecemos-nos de comer. A tristeza alimenta-nos o espírito. O corpo definha numa convulsão emocional. Os espelhos espalhados não reflectem o corpo que já não parece nosso. Como se de uma feira popular se tratasse. Os espelhos são ondulados e deformam tudo o que deles se aproxima. As janelas abertas ondulam os cortinados inexistentes destes quartos vazios. Sentimos as correntes de ar como chicotes. O lixo acumula-se. A caixa do correio idem. O caos instala-se. Os pratos vazios empilhados. As revistas dobradas sem ordem. Os cinzeiros transbordam. O café acaba sem que se dê conta. A solidão mantêm-nos acordados durante a noite. A almofada que cai e ninguém a apanha. Escreve-se sobre a solidão como se ela merecesse alguma consideração. Talvez para algumas pessoas a solidão seja um modo de vida. Não para mim. Sempre tive necessidade de chegar a casa e não encontra-la vazia. Os telefones e as redes sociais não matam as saudades. Sobretudo se as chamadas não atendidas se forem acumulando e os registos sejam os mesmo de há um ano. As memória coloridas metamorfoseiam-se em rasgos B&W. O bolor acumula-se lentamente nas paredes testemunhas do amor que aqui já se sentiu. Não mais. Tudo morre à nossa volta quando não existe amor. As plantas com a terra seca entram em colapso. O lado negro da força tudo invade. A solidão é escura e oportunista. Surge quando menos se espera. Cada vez mais compreendo os workaholics. Não há nada mais triste do que as relações que nos são impostas. Colegas de trabalho, da faculdade, amigos circunstanciais. As relações impostas não são puras. Recordo-me sempre dos tempos da escola. Haviam aqueles amigos que pareciam para a vida. Quando se mudava de turma, de escola, de ambiente, desapareciam da nossa vida como se nunca tivessem existido. Raras excepções existiram. O mesmo se passa com as relações. Fico sempre surpreendido como pessoas com quem compartilhamos as nossas vidas, os nossos anseios, as nossas alegrias, tristezas, viagens, pessoas como quem fizemos amor, com quem nos entregamos verdadeiramente na nossa intimidade, desaparecem como se nunca tivessem existido. Há sempre a falácia de que as memórias mantêm as pessoas vivas. Mas nada é mais falível do que as memórias. Tantos momentos recordados que se calhar não foram bem assim. Ninguém sabe. Mesmo momentos vividos a dois, cada um tem a sua interpretação, as suas cores, sons e sabores guardados. A solidão traz-nos segredos que só nós conhecemos. Na solidão surgem os medos, os anseios e as falsas esperanças. A solidão é diferente de estar só. A solidão é imposta, estar só é uma opção.
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
domingo, 27 de outubro de 2013
Fucking Jet Lag
Estou acordado desde as 5 da manhã. Este clima nocturno de insónia têm-me acompanhado toda a semana. To much coffee perhaps. Só podia ter agravado com a porra da mudança da hora. E de facto agravou. Daqui umas horas estou a trabalhar. Entretanto, passeio-me pela casa. Vejo um episódio de Californication e recordo-me que me esqueci de jantar ontem. À medida que se envelhece a necessidade de sono vai diminuindo. Paralelamente às nossas actividades cognitivas. Já li, já fumei, já bebi mais café, ouço Nick Cave e espero ansiosamente pela hora do duche. A colecção de Swatch espera pelo acerto da hora. Theres no need to forgive. A pouco e pouco vou acertando os ponteiros à medida que os dias forem passando. Devia estar habituado ao Jet Lag. Afinal todas as semanas é como se viajasse para o outro lado do mundo. Só quem trabalha verdadeiramente durante a noite me compreenderá. E não me refiro a estar sentado a um computador ou em actividade intelectual. Trabalhar a sério, com os sentidos todos alerta. E de facto a maioria das criaturas resolve nascer de noite, por muito que nós tentemos viciar a natureza. E mesmo, que com um bocado de sorte, não sejamos chamados a meio da noite para resolver qualquer emergência obstétrica o nosso cérebro está meio-adormecido. Descanso com um olho aberto e outro fechado. O day-after é invariavelmente caracterizado por dormir enquanto as pessoas normais vão trabalhar e os miúdos vão para a escola. Cada vez mais me convenço que não há nada que nos foda mais a mona do que passar por esta tortura semana após semana. Devia ter enveredado pelo caminho artístico. Podia ter sido músico. Afinal o meu gosto pela arte é imensurável. Agora já é tarde. Resta-me ir apreciando o que os outros fazem para meu deleite. São 6:37. Já não vale de todo a pena tentar adormecer. Infelizmente o café onde costumo tomar o pequeno-almoço ainda está fechado. Acho mesmo que nem sequer abre. Domingo é mesmo dia de futebol. Lá para o meio-dia talvez as pessoas comecem a entrar para comer os seus tremoços e beber a suas cervejas geladas. Olho pela janela e está tudo branco. O nevoeiro caiu sobre Lisboa. E não me apetece sair de casa.
sábado, 26 de outubro de 2013
World´s Greatest DAD
Correu bem o jantar. É sempre um prazer estar rodeado, mais do que colegas, por amigos. Alguém definiu as nossas conversas como surreais. E são-no de facto. Acho que os médicos de outros especialidades ficam sempre algo perturbados quando se sentam à mesa com ginecologistas. Talvez com urologistas seja semelhante. Porém, sem tanta piada. Bebemos um vinho fantástico, que agora não me ocorre o nome, do Douro. Eu habitualmente, sem ser grande conhecedor, aprecio vinhos Alentejanos. Se forem estrangeiros, no mínimo Bordeaux. Mas este era de facto fabuloso. Foi-nos recomendado por alguém que diz que não bebe. Excepto este vinho. A noite ficou-se pelo jantar. Regressei a casa quase às duas da manhã e com vontade de aterrar na cama. Não passei do sofá. As vezes em que eu durmo no sofá são quase tantas como as que durmo na cama. Contando com as noites que pernoito fora, no Hospital bem entendido, passam-se noites em que a minha almofada não me reconhece. Tenho tido algumas insónias, pouco habituais, nos últimos dias. Mas na noite anterior teria dormido umas 3-4 horas no máximo e passei o dia a trabalhar. A resistência humana tem limites. Não consigo entender os workaholics. Morre-se e pronto. E depois, o que ficou, os jantares por fazer, as risadas por dar, as quecas por mandar, os concertos por ouvir, os cigarros por fumar, as viagens por fazer, os filmes por ver, os livros por ler, as músicas por desfrutar e por aí adiante.
Apesar de este fim-de-semana os miúdos estarem com a mãe, vou buscá-los para ir a festa de anos da filhota de uma das minhas melhores amigas. One of the reasons that i am the world´s greatest DAD. Cada minuto com os meus filhos é um minuto ímpar e inesquecível na minha vida. Mesmo quando me zango com eles. Rapidamente me desarmam. São umas criaturas adoráveis. Espero que se transformem em adultos igualmente bem-formados e sobretudo melhores do que eu. É para isso que serve a educação, para que os nossos filhos nos suplantem em tudo. Afinal alguém vai ter que pagar a minha reforma, já que o estado...
PS: Texto acompanhado do revivalismo Punk dos Clash.
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
when the time stops
Chego a casa cansado de um dia de intensa labuta. Sai de casa na manhã ainda escura e no meio de intenso nevoeiro. Os miúdos ficaram no colégio. Regresso a casa quase às 22h sem eles. Pelo meio 200 km e umas quases duas dúzias de ecografias e consultas feitas. Dark Thursdays. Todas as semanas a mesma rotina. Passei por uma churrasqueira obscura na Buraca que tem os melhores frangos com piri-piri que conheço. As pessoas na fila olham-me de lado enquanto estaciono. Talvez não seja habitual. Corro o risco de ser assaltado em troca de um belo frango assado. A preguiça impede-me de cozinhar. Trago arroz de cantina como acompanhamento. Olho para as batatas fritas Ti-Ti de lado. Os empregados com pronúncia do leste são simpáticos. Hoje não me atrevi a pedir factura. Queria era pirar-me dali o quanto antes. Não porque alguém quisesse trocar o fiat punto pardacento do lado pelo meu, mas estava a definhar com vontade comer. Não fome. Vontade de comer, como passo a vida a insistir aos meus miúdos. Estou enjoado. Não devia ter comido um frango inteiro sozinho. Bebo um ristretto e fumo um cigarro. Entretanto dou os parabéns a uma grande amiga. Daquelas que passamos meses sem nos encontrar mas quando nos vemos parece que foi ontem. Todos nós temos sensações semelhantes. Amanhã vamos matar saudades e reunir a malta no ao Rubro do campo pequeno. Acendi um cigarro e afundei-me no sofá a ver umas das minhas séries fetiche - Californication. Revi o episódio das macacadas e auto-asfixia erótica. Lindo. Olho para o relógio de parede. São 22:50. Foda-se, tenho que lhe mudar a pilha. Tenho sono mas para variar não me consigo ir deitar. Fico sempre com a sensação que é uma perda de tempo. Esta necessidade biológica básica de dormir põe-me louco. Não quero. Mas acabo por ir invariavelmente cheio de sono de manhã. Vale-me o Diogo Beja Show na Antena 3 para me despertar. Resolvi ouvir o último disco dos The Strokes. E à medida que estas palavras fluem recordo-me da última vez que ouvi Strokes. Estava sentado, também num dia chuvoso e deprimente, no comboio a caminho de Salzburgo com origem em Munique. O meu pensamento fluia onde costuma fluir quando estou sozinho. Vou-me imiscuir de o descrever. Não vale a pena. Cheguei a salzburgo ainda cedo. Cidade interessante. Almocei nesse dia num café giríssimo recomendado pela Lonely Planet. Não me recordo o nome. Era frequentado por universitários. Na realidade por universitárias. Fui devorado com os olhos. De facto a diferença torna-se um desejo. Não há nada como ir para um sítio onde abundam louros de olhos azuis para nos sentirmos desejados, enquanto passamos despercebidos na nossa terra. Resolvi tomar as gotas e desci à terra. Sou somente mais um ser banal que quando morrer não deixará marcas na humanidade. Thats Life.
domingo, 20 de outubro de 2013
turn on the radars
Há um dia em que após o limbo ligamos novamente os radares. Inesperadamente começamos a observar o mundo que nos rodeia. Reparamos em pormenores antes despercebidos. Damos por nós a não desligar quando isso era rotina. Olhamos e começamos novamente a desejar. Há um dia em que as nuvens carregadas se afastam e sentimos trocas de olhares, trocas de afectos. É sempre imprevisível a sua ocorrência. Passaram-se meses de dor e saudade. Os conselhos dados implicavam sempre reactivar os radares, os olhares, desaparecer desse mundo autista que parecia o único existente. Acabou-se a anestesia. Costuma acontecer na primavera. A mim aconteceu-me hoje. Coincidência. Talvez não. O mês de Outubro sempre foi um mês de viragem nos caminhos tortuosos da minha vida. Liguei novamente os radares e tento encontrar o meu caminho onde podes ou não estar. Mas paulatinamente vão-se desvanecendo as memórias impostas. Talvez reaprenda a amar.
sexta-feira, 18 de outubro de 2013
I like...
Música. Punk. Electrônica. Clássica. Heavy Metal. Alternativa. Rock. Ópera. Acústica. Fado. Gelados. Morango. Côco. A ideia não foi minha. Livros. Muitos. Filmes. Fotografia. B&W. Objectivas. Macros. Portraits. Conduzir. Se for a chover tanto melhor. Mais música. Conduzir a ouvir música. Meditação. Candeeiros de lava. Séries. X-Files. Seinfeld. Californication. Game of Thrones. Family Guy. Ficção científica. Matrix. Star wars. Pipocas doces. Salgadas. Coca-Cola. Apple. Ipod. Iphone. Ipad. IMac. MacBook. Tudo. Água. Vinho tinto. Weissbier. Marlboro. Gold de preferência. Todos os outros me arranham a garganta. Perfumes. Black XS. A-Men. Batman. X-Men. Marvel. Salomon. Onitsuka Tiger. Mercedes-Benz. Popular Science. Viajar. Viajar. Viajar. Lonely Planet. Amar. Viver. Sonhar. Tudo or resto são bens materiais.
terça-feira, 8 de outubro de 2013
Obsession. Obsession. Obsession. Obsession.
Saio de casa à tua procura. Deixo as chaves do carro em casa. Propositadamente. As nuvens baixas observam-me. Sinto um frio agradável na face. Acendo um cigarro. Não consigo distinguir os vultos que me contornam... WTF. Sem grande pachorra para a petulância daqueles que não sabem escrever mas tentam-no. Wannabes. E assim interrompo este texto. Saio de casa à procura todos os dias. Com ou sem advérbios de modo. Quando vou na estrada e vejo um carro prateado igual ao teu dou comigo a tentar relembrar a tua matrícula. Não vejo muito bem ao longe. Todas as miúdas giras de cabelo comprido sentadas ao volante podem corresponder à tua pessoa. Mas não são. Desilusões em cima de desilusões. Não mais te encontrei. Quando saio à noite com os amigos maço-os com o meu discurso repetitivo. A sensação de que um dia irei encontrar-te acompanhada não me abandona. E vejo-me nesse dia de facto a vomitar-me todo sem me conseguir controlar. Com ou sem álcool. Com um bocado de sorte vomito-te os sapatos. Nada que não me tivesses feito em pleno Príncipe Real. Nessa altura ainda me amavas. Estavas péssima nessa noite. Quem manda beber sangria rasca no bar dos Erasmus. Pus-te os dedos à boca para purgares a toxicidade que acumulaste no estômago. Só duas pessoas até hoje tiveram esse previlégio. Um dos meus melhores amigos que nos tempos de Coimbra exagerou na queima. Recorda esse dia fatídico em que em 1997 também o purguei em frente ao Banco de Portugal na baixa de Coimbra. Sujou-me a capa e batina toda. Desgraça. De facto o tempo vai passando e vamos mantendo as nossas memórias bem vivas dentro de nós. Distorcidas como todas as memórias. Nada de aquilo que aqui descrevo se terá passado exactamente assim. Mas é assim que hoje recordo. Vivemos todos numa amálgama de cogumelos mágicos e space cakes. Nada é o que parece. As luzes, as cores, os sons, os momentos, as conversas, os pensamentos. Tudo é distorcido. Nada é verdadeiramente real. Nem eu saio de casa à tua procura. Mas todos os dias te procuro em vão. Hoje é o aniversário do Lux. Até tinha vontade de ir. Não me privo de sair por não ter companhia. Mas prefiro ter companhia. Não tomei as deligências necessárias para sair hoje. Amanhã fortuitamente não trabalho. Era ouro sobre azul. Mas também nada me faz muito sentido. Até nas borgas a rotina se instalou. Inicia-se um jantar aqui e ali. O café buenos aires é sempre uma boa opção. Como sempre 1/2 bife argentino e bebo sangria de espumante. Depois vou invariavelmente ao bairro. Bebo sempre uns copos de vinho a 5€ naquela enoteca da qual nunca recordo o nome. As donas giras e simpáticas. Passo sempre pelo Purex a caminho do Cais do Sodré. Antes ia ao Roterdão mas agora está fechado para remodelação. E depois Lux. Outras vezes o caminho leva-me até ao incógnito. Não gosto de variar na noite. Detesto aqueles sítios comerciais tipo meninos do rio. Abomino. Em tempos ia ao BBC. Nunca mais lá pus os pés. Não me dizem nada aquelas pessoas. Na realidade a noite já não me diz muito. Gosto de sair na esperança de te reencontrar. Sei que isso não vai acontecer. Ou quando acontecer vou-me vomitar porque virás acompanhada. E eu não vou aguentar. A minha obsessão mantêm-se de tal forma que dificilmente escrevo doutras coisas. De tal forma que já nem as pessoas aguentam vir a este blog ler o que quer que seja. Prometo que vou escrever sobre outros temas. Prometo. Vou tentar. Como vou tentar esquecer-te.
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