As memórias somos nós. As memórias são os bocadinhos bons e maus que nos constroem, que nos fazem ser assim. As memórias, embora distorcidas desde o primeiro momento mantêm vivos aqueles que já morreram, aqueles que fizeram parte das nossas vidas, aqueles que nos cruzaram e bem ou mal nos deixaram marcas para sempre. As memórias ficam connosco até à nossa morte. Pode-se desistir das relações, das pessoas, das profissões, dos hobbies, podemos deixar um livro inacabado, um disco por ouvir até ao fim, mas as memórias, por mais que queiramos acompanham-nos e surgem quando menos se espera. As memórias trazem-nos sorrisos aos lábios, lágrimas aos olhos, apertos no coração, põe-nos a falar sozinho quando estamos parados no trânsito. As memórias são assim infinitas embora mutáveis. À medida que vamos envelhecendo estás vão-se tornando cinzentos, esfumadas, pouco precisas, com menos cor, mas estão sempre lá. As minhas memórias sépia.
Hoje o meu filho pediu-me para lhe imprimir umas fotografias de animais para um projecto da escola. Estivemos os dois à procura de animais exóticos, pelo menos para nós europeus, fotografados por mim. Abri a pasta da viagem à Patagónia. A viagem da minha vida e surgiram-me as memórias dos momentos mais pacíficos e ternos que tive até ao momento. Recordei cada momento, cada flash, cada esgar, cada sorriso com carinho e saudade. Essas boas memórias ficaram-me para sempre. Fazem parte de mim. Essas nunca poderão ser roubadas e distorcidas. Mesmo as outras memórias, cinzentas, de tristeza e mágoa, posteriores, nunca as poderão ocultar. Tomamos opções, umas mais forçadas do que outras, a minha foi chegar à conclusão da impossibilidade de manter uma chama viva que se teima em apagar. Mas nas minhas memórias essa chama viveu, esteve presente, deu-me momentos de paz e imensa felicidade. Nessas memórias fui amado e amei. Nessas memórias visuais, mas também olfactivas e tácteis fui feliz. E isso é o que realmente importa. Porque quando menos se espera elas surgem. E ninguém as poderá tirar.