Há sensivelmente um ano passeava-me por Varsóvia. Passeávamos. Foi a nossa última viagem a dois. A nossa última comunhão. O que nos procurámos a igreja onde jaze o coração de Chopin. Encontrámos. O que nós gostámos do museu de Chopin. Ainda guardas o teu cartão? O meu continua arrumado na mala azul de rodas desgastadas. É curioso como Chopin está presente em alguns momentos marcantes da nossa vida. Bem, não tão marcantes assim. Na realidade os momentos deixam de ser marcantes quando os esquecemos. E tu provavelmente já o fizeste. Ouço os nocturnos de Chopin da Maria João Pires. Não comprei no museu porque não fazia sentido. Conversámos sobre isso. Encontrei hoje uma belíssima edição da deutschgramophone e não pensei duas vezes. Nesse dia chovia a potes e nós sem chapéu. Recordo o teu cabelo liso e escorrido. Recordo-me do abraço terno que demos para nos mantermos quentes. Nesse dia nada mais interessava a não ser a nossa cumplicidade. Esta amorosa. Nesse dia comemos aquele fantástico apfelstrudel naquela casa de chá deslumbrante. Como nós nos amávamos. Como compartilhávamos cada momento. Como bastava um olhar para nos entendermos. Chopin esteve e está presente nas nossas vidas. Pelo menos na minha, já que me traz à memória ternas recordações. Á medida que ouço esta melodia terna e envolvente recordo o Pianista de Roman Polansky. Estava uma tarde de inverno fria e cinzenta e debaixo das mantas laranja e castanha emocionámos-nos ouvindo Chopin teclado pelas mãos magras e cinzentas do pianista. Adoro Chopin e as recordações que brotam a cada minuto na minha mente. De facto, um homem é um conjunto de experiências irrepetíveis. E como eu as guardo com saudade.
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