segunda-feira, 2 de abril de 2012

1/2 orange

Nada a acrescentar. Fico só neste quarto escuro e penso. Flutuo mas as paredes impedem-me. Não me liberto. Fico preso a este amor errante. Respiro fundo e oculto-me nos negros lençóis que me asfixiam. Perco-me e não me encontro nestas quatro paredes. Ligo o alarme que me fixa deste lado do mundo. O meu mundo. Que está mais triste a partir de hoje. Mais um bocadinho morreu. Incompreendido. Inesperado. Esse túmulo que guarda as tuas, nossas memórias. Esse túnel, esse tubo onde só duas ou três memórias perduram. Tudo é negro quando queremos fechar os olhos. Tudo é ruído quando não queremos ouvir. Tudo é profundamente cinzento quando não nos encontramos. Quanto mais encontrar os outros. Desperdiçamos mais uma vida. E no entanto nascemos inteiros e inteiros ficamos. Custe o que custar. Chore-se o que se chorar. Nada e ninguém é eterno. Mas as memórias são. Enquanto eu viver viverás dentro de mim. E isso nunca me poderás roubar. Nada a acrescentar. Até ao meu regresso. Noutro mundo, noutro local, noutro tempo. Inspiro profundamente pela última vez o cheiro que a tua pele emana. Guardo-a em mim para todo o sempre.

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