quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Estradas Escorregadias
As estradas escorregadias que percorro espelham a minha alma. Flutuo na neblina vespertina que caí sobre as pedras luzidias da calçada. Cruzo-me com dois indigentes que me observam. De ar andrajoso percorrem-me das botas sujas ao barrete com a bola castanha. Identificam-se comigo. E eu com eles. Escondem estórias que ninguém ousa perguntar. Perguntam-me qual a minha graça. Finjo não entender a língua deles. Afasto-me num passo apressado. Tento alcançar um beco escuro para me esconder. A lua esconde-se momentaneamente atrás das nuvens cinzentas que começam a chorar. Encosto-me à parede pintada de musgo. Transformo-me momentaneamente em cal acizentada e fico ali camuflado. Ao longe observo aquele casal de indigentes, que sem saberem, são por mim observados. Virei o tabuleiro. As peças espalham-se à minha frente e encaixam na perfeição. Deslizo as mãos pelo chão e procuro a terra húmida. Esfrego os olhos deliberadamente. Cego momentaneamente e nego-me perante a realidade que insiste em conspurcar-me a alma. Nego-me perante as evidências que me atormentam. Observo ao longe o casal, agora mais turvo. Comunicam entre eles algo ininteligível. Consegui que não me vissem. E no entanto, mesmo desfocados, vou observando a sua relação. Tentam encontrar-me sem sucesso. Embora eu os tenho encontrado, embora eu conheça todas as suas vivências. Ao longe flutuo e disseco tudo o que me rodeia. Olho para aquele casal de indigentes, sem me aperceber que o verdadeiro perigo se encontrava ali, ao meu lado. Num ápice, sinto um líquido quente e espesso escorrer-me peito abaixo. A dor lancinante impede-me de respirar. Todo aquele tempo focado em pormenores que me distraíam, quando todo o perigo se encontrava de uma forma aparentemente pacífica e dissimulada à minha frente. Olho para baixo e vejo o cabo brilhante do punhal que me atravessa o coração. Olho de frente para aquele que me colheu a vida. Com os olhos turvos apercebo-me das suas feições que guardarei na memória que se dilacera naquele beco escuro, de paredes cizentas, onde a cal cinzenta se confunde com o meu ser. De limites mal definidos as lágrimas escorrem-me por entre as páginas do musgo salgado. Fecho os olhos e deixo-me flutuar pela neblina que se abate sobre a estrada escorregadia. O casal de indigentes percorre as pedras cinzentas da calçada. O meu assassino esconde-se novamente no beco cinzento, iluminado agora pelos raios que se projectam da torre metálica que tocando o céu se ri da minha dança aleatória naquela neblina tão característica desta cidade.
segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
domingo, 24 de dezembro de 2017
Of Stars and Memories
Olho para o céu e deixo-me envolver pelos milhões de estrelas que sobre mim se projectam. Uma pequeníssima parte consigo observar. Tudo o resto está para além da inteligência humana. Olho para o céu e observo estrelas aparentemente vivas. Algumas provavelmente já nem existem. E no entanto a sua luz continua a percorrer o universo até chegar ao meu nervo óptico. Mesmo depois da sua morte há milhões de anos. Olhamos para as estrelas como se fossem uma realidade presente. Nada mais falso. Ao olharmos para as estrelas, olhamos para o passado. É uma verdadeira máquina do tempo. Não obstante, a luz das estrelas mortas, do passado, acabam por ofuscar as estrelas vivas, que ainda existem. Devemos olhar para o passado, para com ele aprender. Mas devemos também cortar com os seus elos. O passado assenta na memória humana, que é tão somente a mais falaciosa das capacidades intelectuais que possuímos. O passado é isso mesmo, passado. Não devemos deixar nunca que o mesmo se projecte no presente. Esse sim, deve ser vivido. Podem ficar as memórias, os bons momentos, os maus momentos, mas se queremos viver em Paz, o passado deve ficar enterrado para sempre. Ou invés, deixa de ser passado e passa a ser presente. Merry Fucking Christmas. Bem hajam.
sábado, 9 de dezembro de 2017
A Praia
Caminho por entre milhares de grãos de areia. São pensamentos que me invadem e envolvem a cada passo que dou. Sento-me e deslizo as mãos na areia macia e quente que contrasta com... Aglomero cada grão, pensamento, num castelo imaginário que dia após dia vou construindo. Aprisiono-me perante as paredes voláteis de medo alimentado pelas evidências que deixo para trás. Enfio a cabeça na areia e deixo-me envolver pelos milhares de grãos de areia quentes e macios que me anestesiam. Resisto ao sono profundo em que me encontro. Quero muito acordar e devolver a maça envenenada que alguém deixou em cima da mesa de pedra bordeaux. Acredito em cada grão de areia que é projectado pelas cordas vocais como se de música se tratasse. Cada nota, cada ritmo, cada timbre e eu envolvido na melancolia de tudo aquilo em que quero acreditar. Caminho pela praia com o medo de ser sempre a última caminhada.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
OTEP "Ghost Flowers"
Ghost Flower in my Mind. Im Loosing my Soul. I waked up in the middle of Nowhere. Im driving through the Strawberries Fields Forever.
domingo, 5 de novembro de 2017
Forgiveness
Os períodos de reflexão têm sido uma constante no meu pensamento. Salvo nos períodos de meditação em que esvazio a mente até ao vazio. São momentos essenciais para a minha sanidade e reequilibrio mental. Uma espécie de tábua rasa emocional. Após pensamentos mais conturbados e gritos de desespero, eis que reflicto acerca da capacidade de desculpar alguém. A capacidade de perdoar alguém que nos fez mal é essencial para a nossa condição humana. E, em última instância, só nos pode tornar mais felizes. Perdoar implica uma compreensão e uma empatia de que nem todos usufruímos. Mas também isso se treina. É possível perdoar mesmo situações que consideremos muito graves. Não obstante, tal só é possível se quem pede perdão seja capaz, ele próprio, de ser empático e transparente. O acto humano, de perdoar e ser perdoado é algo que nos distingue e que nos aproxima dos outros. Devemos perdoar quem não nos é indiferente. Mesmo situações graves podem ser perdoadas. Mas esse acto implica que devemos estar na presença do todo. Não podem ficar pontas soltas. As pessoas merecem ser perdoadas se assumirem os seus erros e tenham uma compreensão das suas consequências.
No entanto, o acto de perdoar não significa esquecer ou tapar o Sol com a peneira. O acto de perdoar deverá navegar paralelamente ao que despoletou determinada situação. A única forma de quem perdoa e de quem é perdoado se aproximarem e não voltarem a vivenciar situações fomentadoras de mágoa é assumirem de frente as memórias e não as esquecer. O acto de perdoar e ser perdoado implica a não repetição do que motivou a discórdia. Happy Sunday.
sábado, 4 de novembro de 2017
Tanti Auguri Principessa
E hoje, especialmente hoje, acordo de manhã e beijo-te na boca. Sinto o doce sabor dos teus lábios. Abraço-te com aquela intensidade que só nós dois sentimos. Sinto o calor do teu corpo a pulsar na minha pele. Olho-te os olhos rasgados e perco-me. Como sempre. O teu olhar sempre me desarmou. Fico sem palavras. O amor que por ti sinto é infinito. Somos dois seres em uníssono. Duas almas que dançam. "Sou medo do teu medo". "Sou sangue do teu sangue." Acordo de manhã e beijo-te na boca. Hoje é um dia especial. O teu dia. Ficamos uns minutos em admiração mútua. Levanto-me de repente e vou buscar o teu presente. Aquele relógio verde marinho que cobiçaste num dos nossos passeios. Hoje o dia será especial, como todos aqueles que vivemos até hoje. O dia lá fora está meio cinzento. Sinto-me em comunhão total. Peço-te para despachares, e tu sem perceberes. Quis-te fazer uma surpresa e consegui. Temos pouco mais de uma hora para apanharmos o avião. Pela hora do almoço quero estar em Florença. Ao meio dia quero-te beijar a admirar a ponte Vecchio. Levamos pouca bagagem. Na segunda-feira, mais tardar, estaremos de volta. Escondi os bilhetes bem escondidos. Nunca desconfiaste de nada. Nem do relógio. Quero este dia seja especial. Já o programei há quase dois meses. Tudo marcado, avião, um hotel de charme, e o itinerário bem construído no meu ser. Comprei o guia da Lonely Planet em pdf para que não desconfiasses de nada. Adoro surpresas. E sobretudo, fazer surpresas. Hoje o dia é especial e escrevo-o para o imortalizar. Até segunda-feira, entretanto, irei banhar-me em amor e paixão.
sexta-feira, 3 de novembro de 2017
Por favor, só mais um bocadinho de Gengibre.
A minha vontade de cozinhar continua no limiar do elemento nulo. Era algo que me dava prazer, preparar as refeições, sobretudo os jantares. A Bimby continua em alegre hibernação. Voltei aos velhos hábitos de comer fora quase diariamente. Ou então não comer de todo. Mas hoje, saído das actividades laborais lá me dirigi ao sushi de um centro comercial aqui por perto. Sem grande apetite, não exagerei no pedido, excepto no gengibre. E dei por mim a rir sozinho com essa frase que se tornou o ex-libris das idas ao Sushi. Chegávamos a pedir duas e três vezes gengibre. Os senhores com um sorriso nos lábios e seguramente com pensamentos ofensivos lá o traziam. Enfim, reais ou não, há momentos que ficam guardados.
De agora em diante, só escritas positivas. É sorrir e acenar amigos. Sorrir e Acenar.
quinta-feira, 2 de novembro de 2017
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
A Cegueira do Amor ou Dança com Escorpiões
O amor tolda-nos a visão e a capacidade de avaliarmos adequadamente por quem nos apaixonamos. Vemos as virtudes que queremos e eliminamos da nossa mente os defeitos que sempre existiram. Acabamos por vezes por perdoar manifestações de personalidades tóxicas que em qualquer outra circunstância nos afastaria. É por essa razão que somos racionais a dar conselhos, mas ineficazes quando vivenciamos o amor. O amor cega-nos. O amor acaba por ser um sentimento perigoso porque nos despe. O amor é ambivalente. É a melhor experiência que um ser humano pode vivenciar, podendo ser simultaneamente o maior atentado a que estamos sujeitos. E só depende do ser por quem nos apaixonamos. É uma roleta russa. Podemos ter a felicidade de amarmos alguém puro que nos ama, ou pelo contrário, nos apaixonarmos por quem nunca nos deveríamos ter cruzado. E tudo porque não nos sabemos defender, ficamos cegos perante o amor. Acabamos por amar pessoas que não existem verdadeiramente. Os chamados lobos em pele de cordeiro. E isso é aleatório. Só nos apercebemos verdadeiramente se estivermos atentos e quando as máscaras começam a cair. E mesmo assim, com a nossa visão turva, demoramos algum tempo em assumirmos que a pessoa com quem dividimos a nossa vida, a nossa existência, a nossa cama, na realidade não existe. Acabamos por constatar que dormimos com o inimigo. Dependendo da inteligência emocional de cada um podemos demorar mais ou menos tempos a confrontarmos-nos com as evidências. Mas elas acabam por surgir. E, de facto, há pessoas cujo o invólucro é de uma correcção irrepreensível, no entanto com almas podres e doentias, com a insensibilidade suficiente para nos fazer acreditar no amor enquanto as suas vivências assentam em mentiras, omissões e dissimulações. E perante a cegueira do amor, acabamos por acreditar na reciprocidade, sem que nos apercebamos que estamos a ser usados. Por mais incrível que pareça, há mais pessoas assim do que parece, os psicopatas, homens ou mulheres que andam por aí. Há imensos estudos acerca deste género humano. São seres profundamente egoístas, no entanto sedutores, que mentem sem problemas, e mesmo quando apanhados nas suas mentiras, conseguem frequentemente desconstruir a mentira com base noutras mentiras. A consciência do mal que fazem pura e simplesmente não existe. São seres frios, calculistas e muito perigosos, porque aparentam tudo menos o lixo tóxico que na realidade são. Na verdade são pessoas muito doentes, que recusam qualquer tipo de cura, porque nem sequer têm consciência do que são. São as últimas pessoas por quem nos devíamos apaixonar. Mas acontece com frequência, porque são predadores emocionais, e aproximam-se frequentemente de pessoas puras e bem formadas, de forma a poderem sugar a sua essência. Este género de ser só se descarta quando é confrontado verdadeiramente por alguém que demonstra maior vitalidade. O que nem sempre acontece. Há pessoas que passam a vida inteira a ser usadas e abusadas por este tipo de parasitas humanos.
Habitualmente são seres sociais com amigos superficiais que nunca chegam a conhecer a sua essência obscura. Escondem-se debaixo das pedras e perante a sua família apresentam-se com se de boas pessoas se tratassem.
Temos muito dificuldade em defendermos-nos deste tipo de pessoas. São seres intrinsecamente maus e que nos enganam com uma doçura que nos anestesia. Frequentemente só nos apercebemos depois de nos afastarmos emocionalmente, após a rotura de uma relação. Que na realidade, é a melhor coisa que pode acontecer a quem tem o azar de se apaixonar por um psicopata. Naturalmente, que para o próprio, desprovido de sentimentos, foi só um episódio que passou até procurarem e encontrarem a vítima seguinte.
Há um fábula oriental que conta a história de um escorpião que querendo passar um rio, pede a uma tartaruga que o leve no seu dorso. Após muita sedução, acabou por convencer a tartaruga. A meio do rio, o escorpião levanta o rabo, picando a tartaruga com o seu veneno tóxico. A tartaruga à beira da morte pergunta-lhe porque fizeste isto?, sabendo que eu ao morrer acabo por te levar comigo para o fundo do rio e tu próprio morrerás, ao que o escorpião respondeu que não pôde evitar porque era a natureza dele.
Infelizmente, fruto do azar, acabamos por encontrar pessoas deste género, que podendo ter tudo acabam por destruir o ser que dizem amar.
Na vida, acabamos frequentemente a dançar com escorpiões. Sei que é difícil, mas quando tal acontece, o melhor é fugir. Os escorpiões nunca irão, nem querem, mudar a sua natureza.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
domingo, 29 de outubro de 2017
Ensaio sobre a Cumplicidade.
Após quatro de pausa determinei-me a escrever novamente nestas páginas. Naturalmente que durante este período nunca suspendi a escrita. Este blogue é o paradigma de que tudo é imortal. Não existem fins. E, quando menos se espera, renasce-se das cinzas. Como já tinha referido, pensei em iniciar outro blogue. Mas confesso que tive preguiça. E na realidade o que interessa é o conteúdos das palavras que por aqui se vão debitando. Não estou certo acerca da assiduidade com que irei escrevendo. Nem se irei dar continuidade ao momento. Mas, agora, é só o que se me apraz. Apetece-me escrever.
E reflicto sobre a cumplicidade entre dois seres humanos. O que é isso da cumplicidade? Será que ela existe? Será que é possível existir?
Penso que sim, mas só depende da sintonia e do comprimento de onda que se compartilham. A cumplicidade implica um desnudamento total entre dois seres. Implica sinceridade, honestidade e transparência, como se de dois gémeos siameses se tratasse. A cumplicidade implica a comunicação não verbal. Em última instância, quase leitura de pensamento. Quando dois seres são cúmplices não há lugar para sentimentos negativos. A cumplicidade corresponde à união total e absoluta entre dois seres, uma fusão.
Todas as pessoas que conheço que se amam verdadeiramente e para todo o sempre tem esse elemento em comum: a cumplicidade. Quando ela existe, e quando dois seres sentem que é genuína, as relações são infinitas.
É difícil chegar a este ponto de união, e, muito provavelmente, pouquíssimas pessoas neste mundo o conseguirão. A maioria nunca. E porquê?
Para que tal aconteça, será necessário que duas pessoas totalmente puras se encontrem neste mundo aleatório. O que se torna uma roleta russa. Cada vez mais impera o egoísmo, o prazer fácil e a promoção da superficialidade. As pessoas preferem viver num mundo de fantasia onde as aparências são mais importantes do que a profundidade das relações. Colocam-se como prioridades e mantêm-se relações com base naquilo que é supérfluo. Na realidade nunca será uma verdadeira relação. Partilham-se vidas com estranhos, sem que disso haja consciência. Um verdadeiro Matrix.
A relação perfeita assenta na cumplicidade. O amor puro depende da cumplicidade. E essa é a única forma de relacionamento imortal.
Infelizmente, a sociedade actual vai perdendo a noção da ética, do respeito pelo próximo, do amor próprio e isso acaba por se reflectir no comportamento humano.
No entanto, a Vida é uma aprendizagem, e estou consciente que a cumplicidade pode ser desenvolvida se dois seres assim o desejarem. Mas para isso, é condição sine qua non, que os dois sejam bem formados e com personalidades irrepreensíveis. Não pode haver lugar à obscuridade.
A cumplicidade é, talvez, o último reduto daquilo que ambicionamos numa relação eterna.
sábado, 28 de outubro de 2017
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