sábado, 24 de março de 2012
Deep Inside.
O dia está cinzento e chuvoso. Gosto. Vejo o mar ao fundo pela minha janela enquanto escrevo estas palavras. Adoro a vista deste sitio só meu. Ouço Snow Patrol e revejo-me. Há poucas pessoas a marcarem-me, mas essas quando existem têm-me para a vida. Detesto injustiças, falsidades, falsos moralismos, favoritismos, petulâncias, arrogâncias, sentimentos de superioridade, sentimentos de inferioridade, artimanhas e o diabo a quatro. Cada vez mais esses sentimentos negativos rodeiam-me trazendo-me a náusea. Olho para as pessoas e vejo-as transparentes sem sequer conseguirem disfarçar tudo aquilo que as faz cheirar mal. E cheiram muito mal. Este ambiente derrotista que se instalou no país parece trazer ao de cima tudo aquilo que as pessoas têm de mau. Cada vez menos se faz algo sem objectivos calculistas pré-definidos, somente para proveitos próprios. O médico em cima do burro a caminhar por esses montes fora não existe. Morreu... A sua alma corroída se olhasse de frente para aquilo que parte da classe médica se transformou. É triste. No outro dia, uma aluna minha disse-me que iria para fora realizar o seu internato complementar. A principal razão é que a classe médica a desiludiu em Portugal. De facto, é triste, mas em parte é verdade. As inúmeras vezes que ouvimos colegas a denegrirem a imagem dos seus pares só porque sim, é de facto impressionante... Raras vezes a crítica se prende a vida profissional. O mais frequente é a dissecação da vida pessoal dos outros, quando na maioria das vezes o rol de atrocidades que se diz são de tal forma falsos que só com metoclopramida se consegue ouvir essas conversas. Mas de facto, e sem querer generalizar, a classe médica está pejada de pessoas, que embora tecnicamente competentes - nem todas - aliás a impunidade que existe no nosso país é outra coisa linda de se ver - , são mal formadas de raiz. Não têm nem cultura nem educação mas julgam-se. E acreditem que se julgam mesmo. O desprestigio que desde ha uns anos para ca tem vindo a poluir a minha classe profissional, em parte é culpa nossa. Porque, eu também - incógnito - já fui tratado por colegas como se de lixo se tratasse. E de facto, isso acontece mais vezes do que seria admissível. Não conseguimos ter empatia por todas as pessoas, antes de sermos médicos, somos pessoas, mas nunca na minha vida profissional, por mais desagradável que eu achasse alguém, a tratei de forma menos polida. Temos muito a aprender.
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