sábado, 30 de janeiro de 2010
Quarto de Memórias
Deixei o quarto exactamente como estava no dia que te foste embora. Não fui capaz de mudar uma peça que fosse. Cada centímetro de parede é uma recordação tua. Sento-me na tua cadeira e deixo o pensamento flutuar oceano fora até ao teu encontro. Nunca pensei que o tempo fosse tão relativo e uma semana parecessem meses. Até nisso Einstein tinha razão. Fecho os olhos e vejo-te deitada no nosso sofá como se fosse ontem. Ponho o gira-discos a rodar e ouço as nossas músicas de vinil de outros tempos. Os nossos tempos. Ana Carolina e Seu Jorge. Gotham Project. Rita Red Shoes. Embalo os meus ouvidos na recordação da tua voz. Deixei o quarto exactamente como estava no dia em que te foste embora. Naquele dia em que não te consegui dizer adeus. Em que tantas palavras ficaram por dizer. No dia em que os meus olhos fugiam dos teus com receio de não controlar as lágrimas que sulcavam o meu rosto. A almofada continua no chão como nós a deixamos. O teu baptismo "da almofada que cai" faz-me sorrir. Visto o pijama luminoso que me ofereceste e deito-me ao teu lado. Não me sentes mas eu estou por aí. O quarto está exactamente como tu o deixaste no dia em que te foste embora. Os lápis de cor continuam espalhados pelo chão. Os desenhos que fizemos os dois. O céu pintado de azul. O Sol resplandecente que trespassa as árvores centenárias do nosso passeio polvilhado de misticismo. Os encontros não programados. As coincidências. Os pastelinhos de Belém. As fugas para comprar cigarros e beber café. Tudo fotografado a preto e branco porque é assim que se deve fotografar o amor. Deixei o quarto exactamente como estava no dia em que te foste embora. Não consegui mudar uma peça que fosse.
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SENTE-SE A SENSIBILIDADE DE UMA PAIXÃO A CADA FRASE NOS LEVANDO AO NOSSO INTERIOR EM BUSCA DESSAS MESMAS EMOÇÕES EM SITUAÇÕES SEMELHANTES.
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