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Não sei porque escrevo se sei que não lês. Fico prostrado perante os pensamentos que teimam em não me abandonar. Quero-me levantar mas as pernas dobram-se como galhos secos ressequidos pela tristeza que me assola. Os rios secam perante o teu sorriso que a mim já não se dirige. Sinto a tua voz fugir do outro lado da linha. As tuas palavras esfumam-se nas emoções que se perderam. Rasgo-me perante o teu ser e tu nem sequer sabes quem sou. Não sei se alguma vez saberás. Ou se alguma vez quiseste realmente saber. Lavo a cara com ácido e cego perante as leituras que não quero ver. Flutuo até ao teu ser e vejo-te a preto e branco como o amor deve ser fotografado. As distâncias assolam-me e perseguem-me. Os cadáveres caiem à minha volta e só tu interessas. Pinto o mundo a preto e branco e percebo que estás do outro lado do espelho. Faço-te adeus e ofereço-te um sorriso que me devolves como se emoções em ti só existissem em mundos paralelos onde não me insiro. Insiste em pôr-me numa caixinha da qual me quero libertar. Recordo-me dos inúmeros livros de páginas brancas onde quis recriar a história caustica deste mundo podre que nos envolve. Somos duas peças do mesmo puzzle mas não saímos da prateleira onde teimosamente nos quiseram castigar. Liberto-me e flutuo lado a lado ao pé de ti. As leituras são cegas mas quero me leias como eu desejo interiorizar-te. Não sei porque escrevo se sei que nunca lês. Lavo a cara com ácido e percorro os teus pensamentos sem que dês conta. A clarividência transporta-me para os teus mundos paralelos que quero unificar. Abro os olhos e não vejo e num último esgar de dor canto o meu amor por ti.
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