domingo, 12 de abril de 2009

L´amour

(Lepidoptera, vulgo Borboleta; captada nas lezírias de Santarém a 12/04/2009)

A saudade é uma palavra portuguesa. Talvez nós, pela carga genética enclausurada ao longo de gerações de descobrimentos e descobridores conseguimos ter saudades daqueles de quem amamos. Os outros chamam-lhe nostalgia... Para nós é saudade. E cantamo-la como ninguém. Eu tenho saudades de pessoas que já partiram e de pessoas que ainda não partiram mas é como se já tivessem partido. Tenho saudades das emoções que já senti e daquelas que precocemente morreram sem que tivesse tido tempo para as sentir de verdade. Mas a saudade existe. Penso em ti como penso em mim e deixo-me flutuar ao longo daquilo que não vivemos. Se calhar porque não poderíamos ter vivido. Mas fica a saudade de um morte anunciada. Entristeço-me quando penso em ti, pela forma como conduziste as nossas curtas intersecções de vidas cruzadas num ponto num lugar. Acendo um cigarro, que é coisa que já não fazia há uns meses e deleito-me perante a minha cobardia e quebra na força de vontade. Mas às vezes é tão difícil resistir às coisas boas da vida... Mesmo que contra tudo e contra todos. Mesmo que contra a nossa saúde. Nunca te cheguei a ler como gostaria e quando te leio as tuas palavras a mim já não se dirigem. Se é que alguma vez se dirigiram. Fazem-se opções, outras vezes são nos impostas. Sempre gostei de sentir nostalgia, de escrever com os olhos inchados, de sentir as agruras dos amores não correspondidos escorrerem pela face abaixo, deixando as almofadas de veludo castanhas marcadas pelo sofrimento do amor que é maior do que nós. Amamos sem nunca sabermos realmente amar. Chorarmos sem nunca realmente sabermos chorar. Usamos as palavras e a música como uma chave para a porta da eternidade. E num ápice tudo desaparece e ficamos no escuro, envolvidos pelo bréu... Como pelo bréu ficamos envolvidos. Quero voltar atrás mas não consigo. Quero apreender o amor, mas este não se ensina nos livros. Quero voltar aquele cinema e não olhar para ti. Quero voltar aquele café e não te fintar os olhos. Quero voltar aquela casa decorada nos anos 70 com alcatifas sujas e os candeeiros de luzes cintilantes e não te recordar... Quero tudo no mundo menos aquilo que alguma vez já tive.

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