sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Bodeguita del Medio

Ouço o "Brothers in Arms" dos Dire Straits em repetitivo. Olho para a estante e vejo ao longe os arquivos verdes da felicidade que já tive. Por vezes ponho em causa tudo o que já senti e não consigo vislumbrar um sentido para minha vida presente. As situações sucedem-se sem que eu dê conta. Na realidade não consigo ter objectivos bem definidos para tudo o que quero da vida. Quando se está no liceu anseia-se um curso e esforçamos-nos para tirar a melhor média possível. Depois surge o final da licenciatura sem que tivéssemos crescido o suficiente por dentro. A especialidade desejada ocorre-nos fruto de muito esforço... E depois o vazio. Já fiz muitas coisas em muito pouco tempo, mas na realidade sinto-me perdido no tempo. Os grandes objectivos desapareceram, quando o objectivo maior da felicidade esfuma-se nas rotinas em que perdemos o controlo. No atitude disfórica sinto-me distante de todos e de tudo. Não consigo perceber muito bem o que por cá ando a fazer. Tenho a perfeita noção que vivi demasiado intensamente em escasso tempo. Aos 33 anos já tenho dois filhos, um divórcio, uma carreira promissora, faço o que quero, quando quero... e no entanto, sinto-me completamente perdido neste mundo artificial que me rodeia. Na realidade não consigo entregar-me a ninguém, nem a mim mesmo. Raramente escrevo na primeira pessoa, mas hoje é o dia em que me apetece libertar um pouco a minha alma. Estas escritas são públicas e despudoradas, as íntimas, que já hoje escrevi guardo-as a sete chaves no meu Apple. Como já disse estive a rever os dossiers verdes da felicidade. Uma felicidade momentânea e curta mas que consigo recordar no brilho dos nossos olhos pelas ruas de Habana. Na realidade não se trata de personificar a pessoa que comigo viveu essa aventura, na realidade acredito que podia ter vivido a mesma felicidade com alguém em que eu tivesse projectado o mesmo ideal de mulher que construí na minha cabeça. Essa personagem fictícia que não existe para além dos meus neurónios temo que nunca mais renascerá... Sinto que nunca mais irei conseguir amar verdadeiramente. O muro de pedra gelada que construí à minha volta é demasiado alto para que consigas derreter com o teu calor. Não sei porque escrevo nem o que escrevo, na realidade as minhas palavras fluem quase directamente através das falanges automáticas. Na realidade quero flutuar 2 ou 3 segundos antes de me desfazer em mil pedaços no chão asfaltado a 15 andares da mesa onde escrevo estas palavras. Acendo um incenso de ópio e deixo-me levar pelo seu odor. Adormeço e acordo a sonhar com a musicalidade do teu olhar doce e terno... 

1 comentário:

  1. Estou doente, não posso sair de casa nem fazer muitas outras coisas... Vim à net matar o tempo, nem gosto muito de navegar na net! Mais uma vez vim parar ao teu blog, gosto do que escreves... Mas hoje assustei-me, senti medo ao ler a última coisa que aqui escreveste... Medo porque acho que percebi que os sentimentos se perpetuam, o que sinto hoje mesmo (e que já senti tantas outras vezes) vou voltar a sentir daqui a 10, 20, 30 anos... E não sei se quero! Ao ler as linhas que escreveste li o que tenho vontade de escrever, com pequeninas diferenças... A música que oiço repetidamente é a mais non sense dos últmos tempos (Viva la Vida!), em 24 anos sei que simplesmente não vivi, no entanto fiz e faço muitas coisas que os outros acham fantásticas, abaixo desta mesa só tenho 1 andar... De resto, grande merda, "escreveste-me" na perfeição, até na vontade de encontrar o teu olhar doce e terno... Tenho medo, não saber de mim é a pior das perdas, não sei se quero...

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