quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Prioridades
Estou sentado na cama de um quarto de Hotel. Abro a janela e sinto os 5 graus nocturnos que envolvem Barcelona. Regresso a esta cidade donde sinto nunca ter partido. As razões que aqui me prendem são mais que muitas. Já aqui vivi momentos inesquecíveis... O meu filho Francisco é a prova viva. Ouço o "Oceano Pacífico" via WEB à medida que escrevo estas palavras. Elas fluem numa tentativa de aliviar o meu espírito envolto em arrependimento. Há momentos na vida de uma pessoa em que tudo parece desabar à nossa volta. Ocorrem-me quando sinto que me passo para o outro lado do razoável e trespasso os limites que a mim mesmo imponho. Cada vez mais considero que as crianças nunca se portam mal. Nós é que temos mais ou menos tolerância. Sinto-me destroçado por dentro. Zanguei-me com a minha filha Mafalda por uma asneira que ela fez... Isso não é dramático, faz parte do processo educacional zangarmos-nos com os nossos filhos. A forma como o fazemos é que pode ser mais ou menos adequada. Seja como fôr, cada vez que me zango com os meus filhos fico com um peso na consciência que me gela o coração. Ela compreendeu que tinha errado. Pediu-me desculpas, que imediatamente aceitei, mas mais importante do que pedir desculpas é uma criança perceber porque é que está a pedir desculpas - e ela soube exactamente onde tinha errado. Escrevo estas palavras porque hoje quando falei com os meus nenucos ao telefone senti na vozinha da Mafalda uma tristeza inconsolável, só comparável com a tristeza inconsolável que eu também sinto... E isso faz-me pensar nas prioridades que coloco na minha vida e em tudo o que eu gostaria de mudar no meu relacionamento com os outros... Porque, em última instância, tudo se resume no nosso relacionamento com os outros. De um momento para outro uma pessoa parte para o desconhecido e ficam enciclopédias de coisas por dizer, por fazer, por mudar, por sentir... e tudo deixa de fazer sentido. Vou voltar para a minha cama... ou melhor para a cama do Hotel quando na realidade queria era estar numa tenda beduína no meio do Sahara... é assim que me sinto, perdido numa imensidão de areia gelada nocturna onde os escorpiões andam a minha volta à espera do momento oportuno... E no entanto também eu errei... E por isso me arrependo.
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