domingo, 7 de outubro de 2007

marmelos



- Estou cansado de descascar marmelos para fazer marmelada.
- Raios partam tantos marmelos.
- Para fazer marmelada.

Tudo o resto é supérfluo. Todos os sentimentos mais íntimos e puros são diluíveis em calda de marmelo. O doce artificial que nos faz sorrir. Compreendo a dificuldade que se tem em ouvir sentimentos. É transversal a nossa tendência humana para fugir aquilo que por alguma razão nos incomoda. Seja entre relações pais/filhos/irmãos/namorados/amigos, o que quer que seja. Estamos numa sociedade onde tudo se artificializa. Os sentimentos estão à cabeça. Mesmo com muito treino psicanalítico não nos conseguimos entender uns aos outros. E tudo porque cada vez se conversa menos. Envolvemos-nos em doce de marmelo (marmelada) na vã esperança que cristalize e nos afaste, com odor adocicado envolvente, dos sentimentos. Estamos cada vez mais sozinhos no mundo mas doces por fora. Quando na realidade há um turbilhão de coisas que deveriam ser ditas e feitas e nunca chegamos a ter tempo. Tanto por se dizer. Desde sempre. Mas quando se tenta surgem os fait-divers. Os marmelos.

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