Conversávamos enquanto o comboio deslizava pela noite fora. Os vagões-cama sempre me intrigaram. Conversamos quando deviamos ter feito amor. Seria uma experiência. Optamos pelo decoro e pela moral não fosse o diabo tecê-las e alguém entrar de repente como em Marrocos naqueles comboios fantasmagóricos deserto fora. Recordei o susto que apanhamos com aqueles polícias todos de metralhadora a passearem-se no comboio escuro. Essa noite estava fria. Tu disfarçaste-te de muçulmana e eu dormia com um olho aberto e outro fechado. Mas nessa noite rumo a Budapeste conversamos a noite toda. Ou pelo menos assim o sonhei. A última experiência de comboio na Polónia não tinha sido fantástica. Viajamos praticamente 3h em pé de Berlin até Gdansk. Não me recordo se fizemos amor em Gdansk. Mas também não é relevante para o caso. De todas as viagens em que nos entregamos um ao outro verdadeiramente recordo El Calafate na Patagónia depois de termos trocado aquela camarata hiperlotada por um quarto mais ou menos decente e aí fomos um só. Na Patagónia não andamos de comboio. Na realidade nem sei se existe algum. Existirá? E depois há a Madeira, Londres, Amsterdão, Roma... Ahhh Roma... que saudades, Berlin, Varsóvia, Cracóvia, Budapeste, Fes, Marrakeche, Casablanca e o deserto do Sahara onde a comunhão espiritual entre nós atingiu o sublime... Recordo o silêncio e o céu estrelado como nunca havera visto e o cheiro a erva que se disseminava daqueles espanhóis que passaram a noite a fumar "porros". E depois conversávamos horas a fio sem que eu desviasse o olhar do teu. E Sevilla quando fomos dado como mortos. Que saudades dessas loucuras saudáveis. Descarrilámos...
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