terça-feira, 25 de setembro de 2012

Lisbon Alien

Fui ao Chiado. A minha zona favorita de Lisboa. O tempo estava cinzento e a rua repleta de pessoas deambulando. Comprei a Photo e mais um livro sobre o holocausto. Dirige-me ao Fábulas na esperança de te encontrar. Chovia. As mesas ocupadas não davam sinais de libertação. Ao fundo dois rapazes sentados. Aproximei-me e perguntei s podia compartilhar a mesa. Algo habitual em todo o mundo. Nunca fiquei à espera que vagasse um lugar em nenhum lado do globo se duas pessoas ocupam uma mesa de quatro. Parece lógico, mas não em Portugal. Disseram-me sim com desdém. Um deles com um sorrisinho estúpido nos lábios denotava admiração e reprova. Ignorei a sua ignóbil presença. Pedi um café, acompanhado por um pequeno cubo de bolo de chocolate, acendi um cigarro e desfolhei a minha Photo. Sempre na esperança de te encontrar. Sempre na esperança de levantar o pescoço e ver-te a caminhar entre as cadeiras amarelas. Desfolhei a Photo e paguei. 1€ e 20 cêntimos. Foi concerteza o cubinho de bolo de chocolate o inflaccionador. Paguei com 2€ e deixei lá o troco. Às vezes é preciso demonstrar aos outros que também é possível dar. Um lugar desocupado não é assim algo de tão especial. Fiquei a pensar se aqueles rapazes mentecaptos não se teriam abotoado com a gorja. Fumei outro cigarro pelo caminho. As mulheres hoje estavam especialmente bonitas. E no entanto eu procurava-te. Sem sucesso como habitualmente. Passei pela gelataria e deu-me vontade de comer o clássico morango e côco. O teu clássico. Procurei-te em todos os bancos e sofás vermelhos na esperança de te ver deliciada escorrendo pingos escarlates desenhando os teus lábios carnudos. Procurei-te sabendo que não te iria encontrar. Nunca te encontro. Vim-me embora. Chovia. O trânsito caótico deixou-me aprisionado quase  uma hora para fazer a rua da escola politécnica. Ouvi Keane. Eu que nem gostava muito. Encontrei o casal sussurando palavras amorosas encostados à ombreira de uma porta apodrecida. Li-lhes os lábios. Amavam-se. Procurei-te, podias ser tu. No meu íntimo desejo-te ver-te finalmente nos braços de outro homem. Para me libertar de ti. Vomitar-me-ei. Mas libertar-me-ei de ti para todo o sempre. Não eras. Em sentido contrário vinha uma miúda numa vespa preta com bancos castanhos claros de camurça. Chorava. Pude perceber que para além da chuva chorava. Procurei-te mas não eras tu. Tu nunca chorarias por mim. Não se chora alguém que se esqueceu. É como se nunca tivesse existido na tua vida. E no entanto eu procuro-te. E não te encontro. Fui ao Chiado. A minha zona favorita de Lisboa. Como se não pertencesse ali flutuo e desapareço. 

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