O dia em que eu fui esquecido adivinhava-se quente, luminoso e veraneante. Já fui esquecido há mais tempo, mas só hoje me confrontei com essa dura realidade. Desta vez não fui eu a esquecer, fui sim o alvo do esquecimento. Dói mais. Talvez seja importante sentirmos a dor que já infligimos. No entanto, todas as vezes que esqueci deveu-se ao facto de as memórias não serem dignas de arquivamento. Hoje (talvez ontem) fui esquecido. As memórias afinal não perduram. É uma mentira, como tantas outras. Deitei fora a garrafa de Moet&Chandon que tinha guardada no frigorífico para alguma ocasião especial nossa. Para a próxima será Ruinart ou Perignon. Não obstante, não morro de amores por Champagne. Hoje fui esquecido e podes comemorar sozinha. Ou talvez não. Vi na televisão um campeonato de golfe em Marrakeche. Recordei os bons momentos que lá vivemos. Os jantares no Terrasse des Epices em que nos perdíamos nos olhos um do outro. Mas isso foi antes de me teres esquecido. Foi antes de eu ter entrado na tua indiferença. Deitei-me tarde, muito tarde. Encontrei alguém que me perguntou por ti. Não sabia o que responder. Não foi preciso. A mensagem foi captada brilhantemente. Era suposto. Morri verdadeiramente para ti. Não física, porque eventualmente ainda te irás cruzar comigo, mas emocionalmente. Mata-se alguém quando dela nos esquecemos. Deixa de existir no nosso espírito, na nossa mente. Transformaste-me num John Doe espiritual. Hoje hibernei. Passei o dia em casa. Adormecido. Num silêncio inocente. No meu sofrimento único e que não transpareço cá para fora.
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