terça-feira, 6 de setembro de 2011

Regresso

Sou uma criança num corpo de homem. Sou um ser perdido que teima em não se encontrar. Olho à minha volta e nada disto é meu. Não sei quem sou. O que sou. Sinto-me uma pequena criança num corpo de um homem. Há hiatos no meu crescimento. Há memórias que é como se não existissem. Largo a mão do meu pai e perco-me num areal infinito. Num momento tenho os meus bonecos, carrinhos e bolas coloridas... De repente sou um homem, um pai, responsável por pessoas, por filhos... E não sei como aqui vim parar, quem me trouxe, quem me fez crescer sem que eu desse por isso. De facto sou uma criança em corpo de homem. Olho-me ao espelho e não me vejo adulto. Insisto em não largar os meus rasgos de infantilidade. Gosto de bonecos, de brinquedos, de meias coloridas, de banda desenhada, de música, desenhos animados, gosto que me alimentem, que me penteiem, que me mimem como só a uma criança se mima. Sou uma criança em corpo de homem que teima em não sair deste invólucro onde me colocaram sem que eu pedisse. De repente sou pai quando ainda precisava que me guiassem pela mão. Fecho os olhos e recordo todos os momentos que perdi. Tenho saudades dos meus passeios com a minha mãe por essa Lisboa fora. Tenho saudades de alimentar os pombos na Praça da Figueira. Tenho saudades do Pai Natal e do trenó em frente à pastelaria Suiça. E de repente sou pai. Sou adulto. E não quero. Quero continuar na inocência da infância perdida. O único momento das nossas Vidas em que não há maldade. Em que não encontramos maldade. Onde tudo é puro e cristalino. Onde as pessoas não se magoam nem se atropelam para serem os machos alfa. Ouço uma música em repeat porque gosto da sonoridade, porque traduzem os sentimentos que me invandem. "I feel alone". E não quero.