quarta-feira, 13 de março de 2013

Hoje fui feliz (parte III)

O inesperado é a especiaria da vida. As situações inesperadas são aquelas que nos marcam. Algumas só são inesperadas porque temos uma visão selectiva. Quando não queremos ver o inevitável a acontecer sentimo-lo como inesperado. E, sejam ou não, a forma como sentimos as coisas é que tem verdadeira importância. O inesperado pode-nos tornar mais alegres, ou por outro lado deprimidos. O que é a paixão se não uma situação inesperada. Quando alguém de repente entra nas nossas vidas e não conseguimos mais desviar o olhar, nem o pensamento, que sabor tão bom. A sensação de paixão é viciante, prende-nos como se de uma droga se tratasse. Não pensamos, não comemos, queremos despachar tudo a correr para estar com a pessoa que limbicamente nos enclausurou. E quando, por circunstâncias da vida, a pessoa por quem nos apaixonamos se ausenta para o estrangeiro, é de uma pessoa ficar doida. Já vivi essa experiência e de facto a cabeça persegue-a até ao outro lado do mundo. Sensações semelhantes só sem têm quando as paixões de Verão, nas cidades sazonais do Algarve - por exemplo, terminam abruptamente porque as pessoas vão cada uma para a sua cidade de origem. Semelhante também quando se vai estudar para outra cidade. Não há nada de mais sádico de que uma separação no auge da paixão. É uma prova, um exercício de resistência. A paixão é de facto uma doença. Nas antípodas estão as separações, as rupturas, as mortes físicas ou não. São sempre inesperadas. Há separações pacíficas, isto é, pelo menos para uma das pessoas. De facto, alguém pôr termo a uma relação deixa invariavelmente o outro na merda. Isto é, ou as pessoas chegam por comum acordo que a relação se esgotou ou então alguém fica na merda. E na maioria das vezes nem nos ocorre ou por egoísmo ou por pura ignorância. Sei que já fiz sofrer e também já sofri. Na realidade ainda sofro. Mas não será isso um condimento importante da vida. Os sentimentos radicais é que nos dão alento para a criatividade. O que seria da escrita, da música, da pintura, da fotografia se as pessoas estivessem todas adormecidas num estado semi-zen. E de facto todos somos assim, todos nós temos as nossas histórias com mais ou menos alegria, com mais ou menos tristeza. Mas só conseguimos ser felizes se tivermos o termo de comparação contrário. E eu hoje fui feliz novamente, só que não soube. Aliás, actualmente nunca sei.

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