Acordei com a estranha sensação de viver no passado. Olho á volta e tudo está disposto como se o passado fosse o meu presente caminhando para o futuro. Viver no passado como se de senilidade se tratasse. As mesmas recordações, as mesmas fotos nas molduras, os mesmo objectos, sem que nada tivesse sido mudado. Viver no passado pode ser agradável se o mesmo o foi. Não se envelhece vivendo no passado. Os relógios não avançam. Os calendários estáticos pararam quando fechaste a porta. Acordei, coloquei dois pratos na mesa, sentei-me depois de te beijar e conversei contigo. Combinamos ir ler o "expresso" para "à margem". Como no passado. Discutiamos onde o almoço de Sábado nos levaria hoje. Talvez ir visitar o teu pai. Segui um conselho e liguei-te como no passado. Não atendeste nem respondeste às minhas SMS porque embora eu esteja no passado tu avançaste para o presente. Desfazamo-nos do tempo. Tu continuaste a tua Vida e eu estático congelei num tempo onde o meu pensamento te visita diariamente. Sinto a demência a envolver-me só conseguindo ter acesso às memórias onde tu fazias parte da minha Vida. Essas memórias sinto-as como se de uma realidade se tratasse. É uma das vantagens de se ter Alzheimer. A segunda vantagem é a abolição total do pensamento. Deixamos de ser felizes é certo, mas também deixamos de sofrer. Na realidade deixamos de ser pessoas muito tempo antes do comando do coração falhar. Vivo no passado e sou feliz num filme contínuo.
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