A privação de sono, para além de inúmeras desvantagens, tem o dom de nos tornar hipersensíveis. Nisso os médicos e enfermeiros dão cartas a qualquer profissão. Mesmo quando conseguimos fechar os olhos umas horas mantemos sempre um estado subliminar de alerta que, em última instância, corresponde a estarmos acordados. Quando estes estados de privação de sono são regulares o resultado só poderá ter consequências imprevisíveis. A mente fica menos defensiva, mais frágil e pequenas coisas, pequenas memórias assumem proporções irreais. Seja como fôr, uma delas é a presença diária de pessoas que já desapareceram da nossa vida. Isto é repetitivo e redundante, mas é para isso que escrevo anonimamente (ou quase) num blog. Trata-se de um escape. Dou por mim a pensar em alguém de quem já nada sei. Dou por mim a recordar memórias e momentos que parecem já tão distantes. Dou por mim a pensar diariamente em alguém que já em mim não pensa. Podemos passar por várias relações na nossa vida. Existem umas que nunca nos abandonam verdadeiramente, por bons ou mais motivos. A sabedoria popular afirma que só se cura uma relação frustrada com outra. Nada mais errado. Só se cura uma paixão frustrada com outra paixão. Não estou é certo de nos apaixonarmos verdadeiramente mais do que 2 ou três vidas ao longo da vida. Assim, não há nada mais injusto do que partir para uma relação mais-ou-menos. Não há nada mais injusto do que compararmos outras pessoas aquelas que foram os nossos grandes amores, as nossas grandes paixões. É uma batalha perdida ad initio. Ninguém tem hipótese. E é injusto, mesmo que nunca cheguemos a verbalizar. Nunca pensei passar por isto. Nunca pensei estar fechado desta maneira. Estou condenado à extinção sentimental. Por muito que se racionalize não conseguimos controlar a mente, as saudades, as memórias. Na realidade chega a um ponto em que a própria mente se alimenta deste sofrimento, como se ele fosse essencial a subsistência de uma punição alicerçada em tristeza. Como se pagasse perpétuamente todos os erros e sofrimentos que já infligi. Quando mais tempo passa mais tenho vontade de ligar, de mandar um e-mail, um carta. Mas resisto, porque é importante termos consciência do Fim. E esse já foi definitivo e irreversível. Excepto na minha mente. Esta história que transcrevo não é só minha. Conheço outras semelhantes, de pessoas de quem eu amo verdadeiramente. E o sentimento é o mesmo. Não há um único dia em que o meu pensamento não navegue ao seu encontro, ainda que parcos minutos. Always on my mind. Against my heart.
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