quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Liberdade Confinada.

A privação da nossa liberdade deverá fazer-nos recordar o quanto devemos estar gratos pela a usufruirmos. Mas aquilo que assumimos como adquirido rapidamente se esfuma. De facto, nada deve ser dado como garantido. A última vez que aqui escrevi estava muito longe de pensar que seriamos obrigados a recolher-nos nas nossas grutas. Tudo aquilo que dávamos como adquirido foi-nos retirado. E se pensarmos nas crianças, adolescentes e jovens adultos, esses estão a ser castrados socialmente. Foram presos e não fizeram mal a ninguém, Claro que é tudo por um bem maior, por um bem colectivo. Mas não é disso que se trata este texto. Esta pandemia vai muito para além do vírus bruto, parafraseando um amigo realizador do Reino dos Algarves, está delapidar-nos social e economicamente. O balde de água fria ainda está longe de nos acordar deste marasmo a que estamos sujeitos. E o que dizer do desastre ambiental. São milhões de luvas, máscaras, batas, plásticos, EPIS, seringas... Um desastre que ninguém ainda se lembrou muito de explorar. No nosso pequeno mundo julgo que metade dos restaurantes, um dos pilares básicos da nossa frágil e primitiva economia, ficarão por abrir. Diversão nocturna extinta. Músicos, actores etc a dedicarem-se à plantação de batatas. A crise instalada não é só sanitária. Estamos a viver História. Eu dispensava esta parte da História. A última pandemia a sério de que me recordo foi a Pneumónica da qual ainda me recordo das minhas avós, nascidas em 1900 e 1901, me falarem. Eram aos milhares de mortos. Da mesma forma que começou acabou. Um vírus parvo. Este não sei será assim tão parvo. Não me apetece escrever mais. Estou a ouvir um vinil de Slipknot. Be Safe.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

A Bonsai.

Deixei tudo como estava. Tudo. Dei duas ou três voltas às chaves. Desci no elevador. Corri o mais depressa que consegui e arremessei-as para o fundo do Tejo, que serpenteava sob os meu olhar. Todos os meus objectos coleccionados ao longo dos anos. Os livros. Os discos. Os filmes. Bugigangas que fui trazendo das viagens por essa mundo fora. Deixei tudo para trás. Enclausurei-os como se de peças preciosas se tratassem. Vim-me embora deixando a cama por fazer. A Bonsai, foda-se, que me esqueci da Bonsai. Os cactos, a palmeira e a fikus. Todos entregues ao seu destino. Como eu. 

Dei duas ou três voltas às chaves. Desci as escadas como se não existisse um elevador neste prédio merdoso. Dei de caras com um velho de roupão e chinelos de quarto, fumando à entrada do prédio. Pela pose deve ter sido operacional da PIDE. Se fosse alemão GESTAPO. Se tivesse um nariz como o meu MOSSAD.  Mandei-o foder mais à Bonsai. Troquei-a por um Tamagochi. 

À medida que caminhava, de mochila às costas azul cueca, a ideia da porta a bater e de toda uma vida enclausurada devolviam-me à melancolia daquele Tejo ondulante sob o meu olhar. Deixei tudo como estava. As cerejas em putrefacção no frigorífico. As garrafas licorosas. Os ímans. A porra do garrafão encostado às gavetas num ângulo perfeito com o Meireles

O pó acumulou-se em tudo o que deixei para trás. A pouco e pouco o musgo e a vegetação foram invadido aquele que outrora foi um lar. 

Quando se condena algo ao desuso as trevas invadem-no sem piedade.

Dei duas ou três voltas às chaves enquanto caminha por esse mundo fora. 

Dei duas ou três voltas ao Mundo numa fuga incessante da infelicidade que sempre me encontra. 

Como a morte munida da sua foice. É tudo uma questão de tempo.


domingo, 3 de junho de 2018

Personagens

Estão sempre a surgir novas personagens que desconhecia. Quando achava que o enredo da história estaria mais do que dissecado, eis que me são apresentadas mais personagens. Uma e outra, vão surgindo e confrontando-nos com a essência da história. Uma espécie de thriller onde a maldade e a manipulação surgem sob a forma de um cordeirinho felpudo. Surgem sempre novas personagens interligadas por um linhagem que teima em envolver a minha existência com a obscuridade da mentira e da omissão. 

Os filmes que vão surgindo na minha mente não são mais do que documentários de tudo o que vai acontecendo. 

Obrigo-me a mim mesmo a ir bebendo o veneno que já neguei vezes e vezes sem conta. De facto há filmes dos quais não gostaria de fazer parte. 

Pergunto-me como posso ser ludibriado tantas e tantas vezes.

 A evidência de que há flores que não se cheiram já me dilacerou tantas vezes a alma. Estupidamente tenho continuado a enfiar o nariz entre as pétalas da maldade. 

Há pessoas, que continuando a viver no passado, não lhes ocorre que vão fodendo o presente dos outros. 

Pena não ter ardido tudo de uma só vez.

Já várias vezes me debrucei sobre o egoísmo. E em última instância é o egoísmo que impera. Tudo passa pelo umbigo de quem se está nas tintas para os outros. Só interessa o próprio, mesmo que se avance num tanque de guerra disfarçado de carro hippie. Claro, que nem lhes ocorre que fazem o que quer que seja de errado. Acham sempre que os outros é que estão errados. Desde que as suas próprias necessidades estejam satisfeitas nada mais interessa.

No entanto, uma pessoa pode ser enganada duas ou três vezes, a partir daí chama-se estupidez.



quinta-feira, 3 de maio de 2018

Grande Muro.

Encontrei o Grande Muro. Após anos de pesquisa bibliográfica consegui definir as coordenadas. Demorei cerca de um ano e meio até me confrontar com o Grande Muro. Não era nem bonito nem feio. Nem velho nem novo. Era um muro igual a outros tantos com as suas brechas, com os seus pedaços de estuque podres e enrugados. Dois ou três graffitis de mau gosto decoravam as suas paredes. Chamava-se de Grande Muro mas não nos enchia a vista. O Grande Muro não passava de duas palavras. Na realidade não era nem Grande nem Muro. Era simplesmente um amontoado de calhaus que para ali estavam. Um marketing desolador de uma estrutura que nem sequer estava bem construída. Imaginei-o perfeito e imaculado. Gradualmente inteirei-me da sua natureza tosca e inacabada. Auto-intitulado de Grande Muro, quando a definição que melhor lhe assentava seria de Grande Fiasco. E pensar que demorei um ano de pesquisa bibliográfica para conseguir definir as coordenadas da desilusão. 




terça-feira, 1 de maio de 2018

Dark Shadows

Acabo de fechar a porta. Sinto os olhos inchados. A cabeça vagueia. Olho em redor e envolvo-me nas sombras que me asfixiam. Don´t overthink  digo para mim mesmo. É mais forte que eu. Não suporto sentir areia nos olhos. Ouço Alt-J. A noite cai enquanto espero. Espero sempre de mais. Dou sempre mais do que recebo. Sempre foi assim. Fico amargurado pela injustiça. Não quero ser um Calimero. Mas não me sinto mais do que um actor secundário. Qual quê? Um figurante. Passo despercebido na multidão de pessoas que vagueiam na Via de Corso. Sou um figurante em mais um filme desta antiga Roma. (draft on friday).

O fim-de-semana foi pacífico e envolvente. Senti-me anestesiado perante o que aí vinha. Não posso meter a cabeça na areia. Não posso tapar o Sol com a peneira. Estive em paz. Estivemos em paz. Como se não nos tratássemos das mesmas pessoas.

Ontem, véspera de feriado, namorámos, passeámos, rimos, estivemos em comunhão aparente. Aparente digo eu. Tapo o Sol com a peneira. Enfio a cabeça na areia.

Hoje, dia do trabalhador. O pequeno-almoço, o último pequeno almoço, de papas de aveia e abacaxi por mim cortado. O ciclo de vida teve o seu final. Tudo tem. Tirei a cabeça da areia. Confrontei-me com a ficção que fui vivendo. That´s all Folks.


sexta-feira, 30 de março de 2018

Fight Club

Que melhor que uma sexta-feira santa para ingressar no Fight Club. Acordei por volta das 6:30 am. É impressionante como nos dias feriados continuamos com os padrões avassaladores que nos são impostos nos dias de trabalho. Sobretudo em horários contratura como estes. Acordei angustiado em posição fetal, numa atitude defensiva perante o mundo que me rodeia. Levantei-me, bebi dois ou três cafés e regressei à cama. Levantei-me, fumei dois ou três cigarros e regressei à cama. Levantei-me, fui à casa de banho e regressei à cama.  Não conseguia parar quieto. A angústia invadia-me todos os capilares e colocava o meu pensamento em numa ebulição incontrolável. Que melhor dia para finalmente ingressar no Fight Club. Levantei-me definitivamente, desci a correr os três andares das escadas de madeira podre. Abri a porta envelhecida de madeira verde perfurada pelos pequenos raios de sol que iluminavam fracamente o hall mal-cheiroso daquele prédio da rua poço dos negros. Peguei na minha bicicleta enferrujada e deslizei colina abaixo ao encontro da morada que recebi por sms de um número obscuro. Poucas pessoas andavam na rua. E aquelas que andavam tiveram uma noite difícil. Por pouco escorregava na pintura de vomitado que decorava a calçada decrépita. Encontrado o meu destino bati a porta e esperei 4 minutos até que finalmente alguém se dignou a responder. Expliquei-lhe a estória do sms. Seguiu-se uma pausa desconfortável. Queria muito ingressar no Fight Club. Mandaram-se subir e aguardar à porta. Não apreciei. Enviaram-me um sms que não pedi. Pedi informações que me foram facultadas. Mandaram-me subir e agora tratam-me como um cão sarnento, sem dignidade para esperar no hall de entrada que fosse. Queria muito entrar no Fight Club mas há limites para a agressão. Quando finalmente alguém se dignou a abrir apareceu-me um indivíduo moreno, de fraca estatura, com um sorriso pepsodêntico que denotava o profissionalismo do técnico de próteses dentárias que lhe havia adornado aquela boquinha pequenina de lábios finos. Sempre odiei lábios finos. Claro que, e várias vezes disse, generalizar é um ode à estupidez humana, mas nunca conheci ninguém de lábios finos que fosse de confiança ou valesse a pena ser das minhas relações. Normalmente são fuinhas. Olhei-o de alto a baixo e algo no ser me irritou. Talvez o facto de me ter recebido de roupão e de pantufas. Apeteceu-me esmurrá-lo. Talvez esse seja o objectivo do Fight Club. Perguntou-me se tinha sido recomendado por alguém. Respondi-lhe que não, que tinha recebido um sms. Então lamentava imenso mas não poderia passar da porta de entrada. Não era digno de ingressar no Fight Club. Era um Club exclusivo e que só depois de recomendado e passado pelo crivo moral por onde se rege o regulamento poderia ter acesso ao processo de iniciação, que envolvia aventais, sacrifício de animais vadios e sodomia intelectual. Apeteceu-me novamente esmurrá-lo. Quem era aquele ser pequenino para se arrogar de fazer parte do Fight Club e vir com exigências processuais. Ri-me nas fuças do indivíduo não sem antes lhe responder "Fuck You Very Much". Era o que mais faltava ser enxovalhado por aquele pequeno réptil peçonhento. Desci as escadas novamente e regressei à rua. Tinha chuvido e o Sol agora reflectia-se no piso escorregadio que se iluminava a cada passo meu. Ao meu lado a bicicleta enferrujada. Entrei na Leitaria da Lapa e deleitei-me com um belo abatanado e crumble de maçã. Chegaste entretanto e contei-te a minha estória da manhã. Sorriste e simplesmente me disseste que no Fight Club não entra quem quer, só quem é convidado. E que se calhar não te acharam digno de fazeres parte de tão exclusivo clube. Fervi novamente. Levantei-me e fui à casa de banho antes de voltar para a cama.










terça-feira, 20 de março de 2018

Running Away.

Para terminar o Inverno voltei aos meus treinos de corrida habituais. Nunca os devia ter parado. Sempre foram momentos importantes para mim. Meditação e exercício fisico em simultâneo. Corro, como sempre, junto ao Tejo. Adoro. Aquele caminho pertence-me. Cada passada que dou é um ode a libertação do pensamento.

 Observo atentamente quem comigo se cruza.

O ambiente ribeirinho entre o à margem, onde habitualmente deixo a La Maquina estacionada, e a ponte 25 de Abril é prazeiroso. Tornou-se um dos locais favoritos para os Lisboetas, de Lisboa Ocidental, correrem. Isso, e as pazadas de turistas, que em grupo, nos dificultam a marcha. Têm graça.

Adoro passar junto ao MAAT. Um exemplo de arquitectura que me prende o olhar. As ondas das suas linhas misturam-se com o horizonte, numa cumplicidade impar. Ai, a cumplicidade.

Aproveito os finais do dia para ali correr ou deslizar de longboard.

O rio espelhado reflecte-se no olhar e transporta-me para um paraíso de cores e paz. As cores violáceos do Céu beijando o Atlântico, ao fundo, só recortadas pelo padrão dos descobrimentos, são um postal ilustrado desta Lisboa que eu amo. Adoro estes lugares comuns.

A pouco e pouco reencontro a paz perdida. Tem altos e baixos. É aos bochechos.

No meio da meditação, em que consigo habilmente esvaziar o pensamento, surgem-me ocasionalmente imagens que guardo com carinho.

 No fundo, tenho que acreditar que quem perde mais não sou eu.

Apesar de frequentemente, sentir que me passam ao lado, numa velocidade desenfreada. Não posso acelerar. Tenho que me poupar. Não quero enfartar no final da corrida.

 Nos fins-de-semana, gosto das manhãs para a corridinha higiénica.

Como o gato gosta de filhoses, também eu sempre apreciei correr, desde miúdo. Talvez traduza a minha busca incessante por algo que nunca se revela. Talvez a minha fuga. Talvez. Talvez. Talvez.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Takotsub Cardiomyopathy - "Broken-Heart" Syndrome

Não é todos os dias que escrevo duas páginas neste blog. Na realidade prende-se com o meu estado de espírito. De dia para dia a dor aumenta e as saudades apertam. Questiono-me como tenho resistido ao prazer artificial de um cigarro. Provavelmente sou mais forte do que quero crer. Mas não suficientemente forte para me impedir de chorar todas as noites. Não suficientemente forte para conseguir ultrapassar que nunca mais nos iremos cruzar nesta vida terrena. Da mesma forma inesperada que entraste na minha vida, saíste para lugar incerto. Tento diabolizar-te numa vã esperança que me ajude a esquecer-te. Tento pintar-te de negro como se fosse possível deixar-te de amar, como se fosse um simples interruptor. Tento ser frio e distante como tu comigo foste, mas a minha mente navega ao teu encontro todas as noites. Por mais estúpido que me sinta é em ti que penso. Mesmo sabendo que me esfumei no ar. Quero acreditar que só não me ligas porque és demasiado orgulhosa para assumires perante mim todos os erros que nos colocaram nas antípodas um do outro. É o meu ego a falar. É a minha negação perante o teu esquecimento assim que deixaste as chaves de casa na caixa do correio. É talvez menos doloroso... Preferimos muitas vezes não olhar para a realidade quando nos é demasiado incómoda. Negamo-nos perante as evidencias.
No fim-de-semana voltei as corridas junto ao Tejo. A cada passada imaginava-te de repente no meu caminho. A cada passada as lágrimas escorreram-me pela face, misturadas com a chuva que se fazia sentir. Quando passei junto ao MAAT vi-te sentada na escadaria. Lias um livro. Fiquei ao longe a recordar o quanto te amo e o quanto preciso de te esquecer. A loucura apodera-se de mim. Ninguém aguenta um amor não correspondido desta forma. E existe, de facto, uma cardiomiopatia descrita -Takotsub Cardiomyopathy ou Broken-Heart Syndrome - em que o coração sofre fisicamente. Tenho acordado todas as noite com palpitações e pré-cordialgia. Passo as noites a sonhar contigo. Por muito que me custe preciso que também o esquecimento invada as minhas, nossas memórias, mas não consigo. Preciso de romper com este ciclo que me destrói diariamente. Sei que estas palavras que aqui vou escrevendo me aliviam a dor, mas dou por mim a pensar que também elas se tornam um ciclo vicioso que necessito impreterivelmente de romper. Talvez seja esta a última vez que escrevo verdadeiramente sobre nós, sobre mim, sobre ti. E vou adormecer querendo acreditar que afinal me amas como me disseste amar e que só por orgulho desapareceste para sempre da minha vida. É-me mais fácil. Só isso.






 

O Não-Escritor

Estou longe de ser escritor. Aliás, seria uma presunção minha. A minha escrita está longe de ser perfeita, se é que existem escritas perfeitas. Considero-me assim um não-escritor. Escrevo, no entanto, com alguma irregularidade neste blog já há uns anitos. É uma escrita carregada de dor e angústia na maioria das vezes. E só por isso me recuso a ingerir algum tipo de psicofármaco que pudesse aliviar o meu sofrimento. Os inibidores da recaptação da serotonina são também inibidores do desenvolvimento da criatividade. O meu sofrimento só existe porque vivo a vida e os amores intensamente. E sobretudo as rupturas que intempestivamente me vão assolando à medida que envelheço. Confesso que me dou em demasia ao amor. Atiro-me de cabeça. E, não raras vezes, bato com eles no fundo da piscina. Alguém uma vez me disse que as mulheres gostam de bad boys, sempre achei um disparate, mas quando olho à minha volta verifico que muitas vezes, quanto mais distante são os homens mais algumas mulheres os bajulam e correm atrás deles como animais domésticos amestrados. É horrível este pensamento e esta constatação, mas só isso pode explicar o porquê de alguém que rompe uma relação com um enérgumeno que alegadamente a traiu decide manter o contacto mesmo quando a vida deveria ter continuado com outra pessoa. Só um exemplo de quão estúpido pode ser o ser humano, seja homem ou mulher, neste caso, mulher. Mas muitos mais exemplos poderia referir. Grande parte da mulheres deixam-se envolver pelos bad boys. E nós os escuteiros acabamos por ser violentados na nossa dádiva. De facto, um escuteiro é um idiota que se veste como uma criança, ou uma criança que se veste como um idiota. O pior mesmo é um escuteiro adulto com a síndrome do Peter Pan. Está o caldo entornado e é meio-caminho andando para ser estropiado nos seus sentimentos.
Mas voltando à questão da escrita, ela é tão somente um tubo de escape, uma forma de ir libertando a dor sob a forma de prosa. Claro, que no meu caso, apesar de publicamente o escrever num blog, o anonimato sob a forma de Mao Mao dá uma ajudinha à libertação intelectual e emocional. Não obstante, alguns amigos sabem da existência deste blogue e leem-no ocasionalmente. Também eles sabem que nem tudo o que escrevo se deve ler à letra. Porque sou um não-escritor e não domino a arte das palavras.
E de facto, este blogue torna-se cansativo porque muitas das vezes se resume na libertação da merda onde estou metido. E de facto, mais uma vez, i´m in deep shit. Perdi toda a esperança da felicidade e sobretudo porque parece que cometo muitos erros de casting. A minha tendência para me aproximar de quem me acaba por fazer mal é gigantesca. Mesmo afirmando o Amor. Bullshit, as pessoas quando amam verdadeiramente lutam contra tudo e contra todos. Inclusivé contra os seus próprios comportamentos escatológicos. Quem ama cuida. Quem ama não vira as costas. O grande problema, é que se usam palavras nobres como "amo-te" de uma forma leviana. Quando existe amor não há lugar para orgulho besta. E se insistirmos em mantê-lo então não passamos desses estatuto. 

domingo, 18 de março de 2018

Ao encontro do Amor

Fiz centenas de kilómetros para ir ao teu encontro. Não importava. Nada mais importava. Faria muitos mais. Conheci-te de forma inesperada. Desenhei no meu espírito que seria para toda a eternidade. Ao fim do dia ansiava por te ter nos meus braços. Ansiava por sentir o cheiro da tua pele. A textura dos teus lábios. Ansiava perder-me no teu olhar rasgado. Tudo era secundário. Passei um ano a correr de um lado para o outro só para contigo estar. Um par de horas. E no fim do dia aquilo que contava era somente o amor em que eu piamente acreditava. Era sempre um esforço a despedida matutina. Não queria sair. Queria-te ter ao meu lado. De facto quando existe paixão tudo o resto é relativo. Ficamos cegos perante o amor. E eu fiquei. Talvez a dor da minha frustração só se deva ao amor desmesurado que por ti sentia. Confrontar-me com... Foram setas envenenadas que me trespassaram enquanto de braços abertos corria para te abraçar. Ajoelhei-me perante a evidência de nunca te ter tido verdadeiramente. Revejo com vil tristeza a eloquência do meu amor desmesurado. Na realidade não me correspondeste na mesma amplitude. Embora também tu tenhas mudado a tua vida por uma paixão em que querias acreditar,  as tuas atitudes foram antagónicas com as palavras que ias proferindo. Foste-me perdendo a pouco e pouco. E eu a ti. Nada mais me prendia aqui. Podia ter, simplesmente, sido desertor e fugir para Paris afirmando a minha natureza burguesa. Não quis. Embarquei no dia seguinte para combater numa luta em que não acreditava, na esperança de ser abatido. Nada mais importava. Não pensei que se pudesse morrer de amor. Fechei os olhos e deixei o nome marcado ao lado de milhares de nomes que morreram sem razão de ser. A última imagem que de ti guardo, olhavas para mim naquele cafézito adormecido durante um século, que encontrámos por acaso. Podia ter sido tudo tão diferente.

sábado, 17 de março de 2018

A Inexistencia do Ser.

Ficamos a flutuar sem nos conseguirmos tocar mutuamente. A imponderabilidade do ser impele-nos nessa dança infinita como duas penas que lentamente rodopiam sem nunca se aproximar. Ficamos a flutuar sempre a uma distancia de segurança, como se de dois magnetos com cargas opostas nos tratássemos. Por mais esforço que fizessemos nunca conseguimos aproximar verdadeiramente as almas. Ficamos a flutuar num limbo, no interior daquela nave cinzenta que orbitava em torno de Vénus, o meu planeta. Demasiadas conjunturas negativas nessa viagem quântica que nos fez permanecer com os olhares cruzados. Nunca permitiste que olhasse para dentro do teu ser. Incomodava-te, eu sei. Rapidamente desviavas o olhar como se eu me pudesse aperceber da complexidade da tua essência que comigo nunca compartilhaste. O teu pensamento ficou retido algures num passado não muito distante. Quiseste viajar comigo, mas o teu intimo nunca se soltou das amarras prisioneiras. Não me apercebi imediatamente que não passei de uma distracção, de um fait diver, que de alguma forma te poderia fazer avançar nessa vida irregular que insistes em levar. Encontraste-me desprovido de qualquer defesa. Propus-te uma viagem interplanetária que aceitaste sem hesitação. De alguma forma querias fugir de algo que nunca soube muito bem o quê. Mas esgueiravas-te sempre que possível para o rádio e lançavas-te em onda média ao alcance do teu passado. Diariamente, antes que o Sol meu pudesse queimar numa fracção de segundos e me desintegrasse, vestia o escanfandro hermético para sair da nave. Era necessário verificar a existência de brechas que pusessem em causa a frágil segurança do nosso casulo. Não esperavas dois segundos que eu saísse para te enfiares na sala de comunicações e te apoderasses do rádio para te dirigires ao passado que teimosamente trazias para o nosso presente, sem que eu o soubesse. Nunca te deste verdadeiramente porque alguém já te tinha. Fizeste-me voar contigo para tão longe quando na realidade nunca quiseste sair verdadeiramente da Terra. Usaste-me para uma fuga incompleta do teu ser. Sem saber, fui alvo de uma chacota crónica. Fui objecto do ridículo de alguém. E esse vírus foi-se disseminando até ao ponto de não passar de uma triste piada levada a cabo por ti, pela tua família e pelos teus amigos.
Hoje, após me ter apercebido que todo o mal do universo, do teu universo, me invadiu e me conduziu ao caminho das trevas decidi que era um excelente dia para morrer. Olhei pela última vez para o copo de Sal que colocaste atrás da porta que dá acesso ao exterior e me dou conta que te reges pelos princípios pagãos de La Baphomet. Desenhaste-a atrás do alçapão de aço sem que eu nunca tivesse percebido. Vesti o escafandro hermético e lentamente flutuei ao longo da nave. Atrasei-me precisamente 44 segundos, os suficientes para que assim que os raios de Sol incidissem directamente no meu frágil corpo o despedaçassem numa dispersão de moléculas, átomos e partículas sub-atómicas. Deixei o meu pensamento perdido para sempre na escuridão desse vácuo universal. Mas libertei-me da maldade que disfarçaste de amor. Libertei-me do egoísmo que disfarçaste de entrega. Libertei-me da hipocrisia que disfarçaste de sinceridade. Desintegrei-me, mas libertei-me de todo o veneno que expelias e me intoxicava. Nunca cheguei a identificar verdadeiramente o ponto de viragem do teu pensamento. Mas algo trazido das profundezas do universo te contaminou quando nos cruzamos com o cometa Halley. Algo de muito pernicioso invadiu a tua essência e te levou para os caminhos da obscuridão. Ou então só tornou visível algo que sempre foste. Nunca saberei. Hoje está um excelente dia para morrer. Dispo o escafandro e deixo-me invadir pelo calor extremo que numa fracção de milissegundos me abraça e num prazer momentâneo me lança para a Inexistência do Ser.






Its all about Love.







"Nunca te diminuas para caberes no mundo de alguém. Se não houver espaço para ti, não insistas. Quem te quiser de verdade na sua vida, fará tudo para que tu caibas, de forma inteira, sem que tu precises de te diminuir."

quarta-feira, 14 de março de 2018

Hábitos

O amor e as relações entre as pessoas trazem-nos hábitos. A sua ausência custa-nos imenso a ultrapassar. A negação do amor e o abandono dos hábitos são farpas na nossa alma. Os hábitos e rotinas de casal são essenciais para a união das pessoas... quando são verdadeiramente sinceros e não forçados.

Desde que comecei a trabalhar nas obras sempre me habituei com a sua visita ao fim do dia. Raramente passava das 19h, quando ela vinha e me trazia umas minis e uma sandes de coirato. Os meus camaradas de ofício sempre se metiam comigo. "Olha, lá vem o controlo." Aquela pausazinha antes de terminar o turno era uma injecção de serenidade no meu espírito. Quando ela se atrasava um bocadinho já eu andava desconcentrado e sentia que era melhor parar, ou a parede ficaria torta para todo o sempre. E quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita, já dizia a minha avó Zulmira.

Queria acreditar que ela o fazia com muito carinho. Do topo do andaime a 9 andares de altura via o autocarro amarelo da Carris contornar a curva. Observava-a bamboleante com o cesto de verga que compramos num fim-de-semana na Nazaré. Assim que a via, descia o elevador de metal luzidio para ir ao encontro do amor da minha vida. Ficávamos por ali, entre betoneiras e montes de areia a conversar e a comer o farnel. Era um hábito de pouca dura, mas essencial para a nossa felicidade. Habitualmente a seguir ela passava pela casa da Fernanda, amiga de longa data, que fazia de tudo para nos separar. Queria-a só para ela para pôr e dispôr da sua companhia. Uma velhaca essa Fernanda. Não gostava dela nem com molho de tomate.

Hoje fiquei a olhar o infinito à espera de a ver a sair do autocarro. Não aconteceu. As lágrimas escorreram-me pela face e percebi que há hábitos que traduzem o amor. E esses fazem-nos muita falta.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Clonagem

Concordavamos em tudo. Desde que a conheci nunca houve uma simples contrariedade da minha parte. Nem da parte dela. Tinhamos a relação perfeita. Nunca uma simples discussão invadiu o nosso espaço, a nossa vida. Em comunhão as nossas opiniões eram fotocópias. Na cor das paredes, na música que ouvíamos, nos filmes que víamos, nos livros que liamos, nas coisas que comprávamos para a casa. Era impressionante como em tudo concordávamos. As opiniões acerca dos outros eram as mesmas. Quando algum de nós mudava de canal, parecia sempre que tinhamos lido o pensamento um do outro. Até nos destinos de férias nunca houve um desentendimento. Era a perfeição em forma de relação. Nunca um tom de voz mais exaltado ou uma resposta menos simpática saiu das nossas bocas. Era a relação perfeita. Olhei-me ao espelho e percebi tudo. De repente o canto rachado estendeu-se num ápice desfazendo-o em mil pedaços. E voltei à realidade. Não existem relações perfeitas. E se existirem não são relações. Como não existem pessoas perfeitas. Chega a ser assustador pensar nisso. Seria quase como comer diariamente sem tempero. A ausência de cheiro, de sabor, de tudo o que dá intensidade à vida é essencial para o nosso equilíbrio. Seria como viver com um clone. Um enfado. Mas existem relações assim. E que acabam. Porquê? Porque a a monotomia assim o determina. A vida é para se viver com intensidade. Ou estaríamos já mortos antes mesmo de nos finarmos. 







domingo, 11 de março de 2018

Abnegatio Felix

A tempestade Félix passou por aqui. Não deixa de ser irónico nomear uma tempestade com um nome latim que significa feliz, sortudo e bem-aventurado. Acordei a meio da noite com a chuva e o vento fustigando-me as janelas. O quarto estava quente, mas acordei com frio. E pensei que também eu já fui feliz. Recordo-me que há uns anos atrás era um ser verdadeiramente feliz e equilibrado. Sentia-me bem por onde andava e sentia que as pessoas, não todas felizmente, gostavam de mim. Mas o tempo foi passando e fruto de vários episódios uns ácidos outros cáusticos, o fim é o mesmo, a minha auto-percepção foi ter perdido a felicidade, abandonado hábitos prazeirosos, transformando-me lentamente num velho que acabará os seus dias solitário e esquecido até ser notícia de jornal - "foi encontrado morto há 3 meses na sua residência sem que ninguém tenha dado conta". Perdi verdadeiramente a felicidade. Quero muito reencontra-la, mas continuo numa espiral que atingiu o seu limiar quando me confrontei com uma relação que não existia, uma não-relação. Abri os olhos e percebi-me como um ser estranho, porque alguém assim o construía. Abri os olhos e senti a humilhação invadir-me o corpo. Percebi que sem cumplicidade, honestidade e transparência não pode existir Amor. Podemos querer chama-lo de Amor, mas sem estes pilares não existe de facto. Será outra coisa qualquer que não Amor.

Nunca consegui viver em hipocrisia. Provavelmente fruto dos valores que me foram transmitidos ao longo da vida. Nem viver em hipocrisia nem aceitar a hipocrisia dos outros. Não consigo disfarçar... Sou de facto um ser transparente.

Como num luto patológico continua tudo igual. Os roupeiros vazios, as gavetas em vácuo, o livro na cabeceira na mesma posição. Tudo numa esperança vã de que o tempo volte atrás e os erros não tivessem existido. 

A tempestade Félix passou por aqui e não me levou as mágoas infligidas. Porque o nome Félix então?

sexta-feira, 9 de março de 2018

Dou-me por inteiro.





As palavras são voláteis. Dispersam-se como o fumo do cigarro que em espiral tinge o tecto de cinzento. As palavras confortam ou magoam. As palavras nada são quando confrontadas com os actos. Esses sim, tradutores da essência de um ser. Podemos dizer o que quisermos, mas os nossos actos são o espelho da alma. Lemos cartas antigas ou mensagens velhas e apercebemo-nos de como as palavras por vezes são fúteis. Quando me dou, dou-me por inteiro. E tudo assenta verdadeiramente na cumplicidade dos actos, não das palavras.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Last Touch


O último toque ocorreu à hora do almoço num restaurante merdoso perto de casa. Almoçamos como se nada fosse, como se não estivéssemos à beira do precipício. Eu comia o clássico bitoque enquanto a tua sopinha caseira, pasme-se, fumegava. Conversámos à pressa porque tinhas hora de entrada. Eu tinha a tarde livre. Quis fotografar o nosso entrelaçar de mãos, como se no meu íntimo já soubesse que seria a última vez que sentia o calor da tua pele. Perguntei-te qual o significado do anel que ainda tinhas. Respondeste-me que era o mesmo de sempre. Fez-me recordar quando te ofereci. Quando decidimos casar tendo a lua por testemunha. Estava um dia chuvoso. Sabia que, apesar da aparente normalidade, os nossos caminhos tinham-se cruzado e continuado. As nossas mãos entrelaçadas num nevoeiro cinzento espelhavam o definitivo da despedida. No caminho para casa recordei todos os bons momentos que passámos juntos. Senti o cheiro da tua pele, a textura carnuda dos teus lábios, o toque suave da tua pele. As despedidas são em si mesmo uma tortura saudosista. Decidimos, primeiro eu, depois tu, depois só tu, que apesar do amor já nada havia a fazer por nós. Eu discordei. Tu não. Tenho sempre imensa dificuldade em desligar-me. Sobretudo quando o amor paira no ar. Mas há decisões que, depois de tomadas, não se podem contrariar. Claro que o futuro é uma incógnita. A vida dá voltas inimagináveis. Às vezes, só após um terramoto surge a reconstrução. Outras vezes não, ficando os prédios devolutos a apodrecer na noite polar. É eterna a luta pelo equilíbrio. A confrontação com a nossa própria frustração, ainda que num exercício literário, é sempre um farpa que nos atravessa alma. Quero recordar-nos com paixão. Quero esquecer todos os momentos em que não eras tu que me magoavas. Não quero ser teu amigo depois de ter sido teu companheiro. O amor tem tudo ou nada. Não há meio termo. Ou as pessoas se dão por inteiro ou nada tem sentido. Sem cumplicidade total não há amor. Não pode haver. E muito menos amizade depois de ter sido existido paixão. Ou então nunca houve verdadeiramente. Escorrem-me as lágrimas e adormeço...Zzzzzzzz. Até Sempre. Entretanto releio a Casa Dos Budas Ditosos. 

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Estradas Escorregadias

As estradas escorregadias que percorro espelham a minha alma. Flutuo na neblina vespertina que caí sobre as pedras luzidias da calçada. Cruzo-me com dois indigentes que me observam. De ar andrajoso percorrem-me das botas sujas ao barrete com a bola castanha. Identificam-se comigo. E eu com eles. Escondem estórias que ninguém ousa perguntar. Perguntam-me qual a minha graça. Finjo não entender a língua deles. Afasto-me num passo apressado. Tento alcançar um beco escuro para me esconder. A lua esconde-se momentaneamente atrás das nuvens cinzentas que começam a chorar. Encosto-me à parede pintada de musgo. Transformo-me momentaneamente em cal acizentada e fico ali camuflado. Ao longe observo aquele casal de indigentes, que sem saberem, são por mim observados. Virei o tabuleiro. As peças espalham-se à minha frente e encaixam na perfeição. Deslizo as mãos pelo chão e procuro a terra húmida. Esfrego os olhos deliberadamente. Cego momentaneamente e nego-me perante a realidade que insiste em conspurcar-me a alma. Nego-me perante as evidências que me atormentam. Observo ao longe o casal, agora mais turvo. Comunicam entre eles algo ininteligível. Consegui que não me vissem. E no entanto, mesmo desfocados, vou observando a sua relação. Tentam encontrar-me sem sucesso. Embora eu os tenho encontrado, embora eu conheça todas as suas vivências. Ao longe flutuo e disseco tudo o que me rodeia. Olho para aquele casal de indigentes, sem me aperceber que o verdadeiro perigo se encontrava ali, ao meu lado. Num ápice, sinto um líquido quente e espesso escorrer-me peito abaixo. A dor lancinante impede-me de respirar. Todo aquele tempo focado em pormenores que me distraíam, quando todo o perigo se encontrava de uma forma aparentemente pacífica e dissimulada à minha frente. Olho para baixo e vejo o cabo brilhante do punhal que me atravessa o coração. Olho de frente para aquele que me colheu a vida. Com os olhos turvos apercebo-me das suas feições que guardarei na memória que se dilacera naquele beco escuro, de paredes cizentas, onde a cal cinzenta se confunde com o meu ser. De limites mal definidos as lágrimas escorrem-me por entre as páginas do musgo salgado. Fecho os olhos e deixo-me flutuar pela neblina que se abate sobre a estrada escorregadia. O casal de indigentes percorre as pedras cinzentas da calçada. O meu assassino esconde-se novamente no beco cinzento, iluminado agora pelos raios que se projectam da torre metálica que tocando o céu se ri da minha dança aleatória naquela neblina tão característica desta cidade. 

domingo, 24 de dezembro de 2017

Of Stars and Memories

Olho para o céu e deixo-me envolver pelos milhões de estrelas que sobre mim se projectam. Uma pequeníssima parte consigo observar. Tudo o resto está para além da inteligência humana. Olho para o céu e observo estrelas aparentemente vivas. Algumas provavelmente já nem existem. E no entanto a sua luz continua a percorrer o universo até chegar ao meu nervo óptico. Mesmo depois da sua morte há milhões de anos. Olhamos para as estrelas como se fossem uma realidade presente. Nada mais falso. Ao olharmos para as estrelas, olhamos para o passado. É uma verdadeira máquina do tempo. Não obstante, a luz das estrelas mortas, do passado, acabam por ofuscar as estrelas vivas, que ainda existem. Devemos olhar para o passado, para com ele aprender. Mas devemos também cortar com os seus elos. O passado assenta na memória humana, que é tão somente a mais falaciosa das capacidades intelectuais que possuímos. O passado é isso mesmo, passado. Não devemos deixar nunca que o mesmo se projecte no presente. Esse sim, deve ser vivido. Podem ficar as memórias, os bons momentos, os maus momentos, mas se queremos viver em Paz, o passado deve ficar enterrado para sempre. Ou invés, deixa de ser passado e passa a ser presente. Merry Fucking Christmas. Bem hajam.


sábado, 9 de dezembro de 2017

A Praia

Caminho por entre milhares de grãos de areia. São pensamentos que me invadem e envolvem a cada passo que dou. Sento-me e deslizo as mãos na areia macia e quente que contrasta com... Aglomero cada grão, pensamento, num castelo imaginário que dia após dia vou construindo. Aprisiono-me perante as paredes voláteis de medo alimentado pelas evidências que deixo para trás.  Enfio a cabeça na areia e deixo-me envolver pelos milhares de grãos de areia quentes e macios que me anestesiam. Resisto ao sono profundo em que me encontro. Quero muito acordar e devolver a maça envenenada que alguém deixou em cima da mesa de pedra bordeaux. Acredito em cada grão de areia que é projectado pelas cordas vocais como se de música se tratasse. Cada nota, cada ritmo, cada timbre e eu envolvido na melancolia de tudo aquilo em que quero acreditar. Caminho pela praia com o medo de ser sempre a última caminhada. 

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

OTEP "Ghost Flowers"







Ghost Flower in my Mind. Im Loosing my Soul. I waked up in the middle of Nowhere. Im driving through the Strawberries Fields Forever.