segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

domingo, 30 de dezembro de 2012

I´m sexy. I´m the silence.

Poesia de uma morte anunciada

É difícil escrever em poesia. Hoje tento mas não consigo. Noutros tempos com maior facilidade as rimas saiam-me naturalmente. Já não consigo. Isso entristece-me. As palavras eram usadas como plasticina, moldava-as a meu belo prazer. Perdi vocabulário e imaginação. Tornei-me num ser obtuso e fechado. Quero-me libertar através das palavras e sinto-me incapaz. Chego ao ponto de pensar na ortografia. Não faltará muito para dar erros. Será a escrita uma manifestação da vida. Da minha vida pequenina e sem sentido. Antes sentava-me e conseguia descrever sentimentos, emoções e vivências. Hoje envolto em negrume as palavras, frases e nexo desapareceram. Tento, mas sou incapaz. Quando penso que volto a cantar sentimentos a imaginação esfuma-se. Perdi qualidades, perdi inteligência, perdi sensibilidade. Aos poucos transformo-me numa pedra suja de arestas irregulares. Não sirvo para nada. Talvez pisa-papéis. Quero escrever e não tenho tema, não tenho alma. Fico com falta de ar, a cabeça pesada, o olhar estupidificado em frente ao espelho, transformo-me em areia sem que os outros dêem conta. Quero escrever, mas tudo o que daqui flui é abstruso, sem sentido, de vago significado. Estou em declínio. Perco interesse por tudo. Não tenho objectivos, não tenho agilidade, estou indolente perante tudo e tudo se torna rotina. Quando o dinheiro acabar não sei o que faça. Talvez deambular, ir com o Circo por essa Europa fora. Preciso de estímulos. Aqui fechado em 4 paredes, rodeado de livros que já não sei ler e de músicas que já não sei ouvir, murcho. Alguém que me regue. O amor é o alimento da alma. Preciso de amar. Preciso de dar. Preciso de entrega, da minha e da tua. Ninguém. Tento escrever em poesia mas sai-me prosa de fraca qualidade. Envelheço e perco-me no meu próprio ser. Não encontro a porta da rua. Visto as meias desemparelhadas, as boxers ao contrário, os sapatos trocados, os botões da camisa abotoados de forma errónea. Estou senil. Vejo as fotografias de outrora aqui e ali espalhadas e não reconheço as pessoas, os lugares onde gostaria de estar, porque não me recordo. Esqueço-me de tudo. Coloco post-its pelos locais onde vou percorrendo com setas para encontrar o caminho de volta. Se algum engraçado os rouba desgraça-me que não chego a destino certo. E tudo porque no meu íntimo perdi o amor. E ninguém vive sem amor. Quando este desaparece a vida deixa de ter significado. Desaparecem a família, os amigos, os conhecidos porque a falta de amor cega. Deixamos de ver as pessoas à nossa volta. Tornamos-nos em seres petrificados, de arestas sujas, que de nada servem. Nem para fazer parte de uma calçada portuguesa. Não nos encaixamos.  Quero escrever em poesia e não consigo. Tento recordar a minha idade. Não consigo. Mas sinto-me com 90 anos. Mais. Conheço pessoas com 90 anos com vida mais produtiva que a minha. Mais amada. Chega-se a um ponto em que deixamos de usar relógio e calendário. Ultimamente tenho-me esquecido do relógio de pulso. Será um prenúncio de morte. É difícil escrever em poesia. Não consigo enquanto o amor não voltar verdadeiramente a abraçar-me.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Fear of Death

Estou sentado ao computador a pensar no abstracto. O candeeiro de lava pulsa bolinhas vermelhas que me desviam o olhar. Penso neste ano que passou. Tive momentos de enorme alegria mas o balanço este ano é muito negativo. As rupturas são sempre negativas especialmente quando ocorrem com as pessoas amadas. 2012 foi de facto, para mim, um ano infeliz. O contraste com 2010 é brutal. Um foi de união, de procura, de partilha... 2012 foi de disrupção, de fuga, de separação. As reflexões realizo-as frequentemente, mas olhar para trás neste marco artificial que é o final de ano é sempre um bom exercício. De repente surgiu-me um imenso medo da morte, da minha morte. Não são temas que pensemos muitas vezes ou morreríamos muito antes de realmente morrermos. Mas dei por mim a pensar nas pessoas que deixarei para trás, dos momentos não vividos, das palavras não proferidas, dos objectivos pessoais e profissionais qua ainda não atingi. É angustiante pensar num blackout total. Na quantidade de coisas que irei perder. As cores da vida. A luz, a música, a cumplicidade com os filhos, com os amigos, com a família, contigo... será. Tenho medo. Tenho medo da minha morte e das pessoas de quem gosto. Todos os dias morrem pessoas. Todos os dias um universo inteiro de vivências se apaga. Será que realmente não passamos disto. E não passamos. Somos energia que se esgota. Daqui a uns anos ninguém se lembrará de nós. Ficam alguns nomes marcados na humanidade, mas mesmo esses daqui a 1 milhão de anos ninguém recordará. Tudo isto é estranho. A vida, a morte... a sua passagem. Foi algo que nunca pensei muito e hoje dei por mim a martirizar-me como se não passasse desta noite. Como se fosse uma despedida... E se eu morro quando tenho os meus filhos comigo. Que pensamento tristemente doentio. Vou respirar fundo e sair daqui...

Surprise


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Closer

De facto sou um melómano. Gosto de todos os géneros musicais, embora não goste de tudo o que se faz dentro de todos os géneros musicais. Mas não consigo conceber a minha vida sem banda sonora. E no entanto conseguia bem viver a preto e branco. Aliás, tudo fica bonito a preto e branco. A música que se segue é da responsabilidade de uns senhores que lamento imenso já se separaram e nunca tive oportunidade de os ver ao vivo. Foda-se.

Better Than This

Nunca se está bem e é-se dificilmente compreendido. O amor traz sofrimento e é pernicioso. Tomei algumas decisões muito antes daquela madrugada. Para ti não, a dúvida metódica paira no ar. Para ti tu serás sempre a minha segunda opção. E quanto a isso não consigo argumentar. Não se podem mudar pensamentos quando as raízes estão profundas no íntimo da mente. A cegueira cortical é o pior dos inimigos do amor. E contra esta ele é impotente. A surdez cortical é o outro par. Podem-se proferir muitas palavras ou poucas palavras, bonitas ou feias, mas quando elas não são ouvidas de nada servem. É um contrasenso quando aquilo que se escreve às vezes não parece sentido. Ou o que se sente fica perdido entre as sinapses antes conseguir chegar ao papel. De um momento para outro o desequilíbrio brota novamente. Surgem as velhas acusações, os velhos medos, as velhas ameaças, os velhos, as velhas... enfim tudo o que corroí por dentro. Quando tudo não passam de artifícios para negar sentimentos. De facto we can be better than this só que às vezes não parece querermos. Chega-se a um ponto em que tudo é valorizado menos o mais importante. Valorizam-se locais, idiomas, amigos, conhecidos, uns hipócritas, outros não, pormenores, generalidades, quando aquilo que se nos apresenta de uma forma nua, não dissimulada, transparente - o amor - é posto em causa, porque sim. Porque quando estamos habituados à maldade tudo o que é puro nos parece bom demais. Só pode ser mentira. Será que no estado em que estamos será possível esvaziar o coração de sentimentos negativos e aceitarmos o outro tal como ele é e não como nós esperamos que ele seja. Este ano de 2012 está de facto a chegar ao fim e o balanço não o consigo fazer. Foi um ano de profundas tristezas e quando parece que 2013 pode ser diferente o gémeo mau tenta apoderar-se daquilo que o rodeia.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Quando a Ficha Cai.

Estou de saída de banco e por isso mais sensível. É um facto, as saídas de banco são sempre fenómenos de hipersensibilidade, tal como as ressacas. Não obstante aquilo que achamos que é simples e que não nos faz mossa não é bem assim. Quando caiem as defesas as lágrimas vêem atrás. Cheguei a casa, vazia, fria e longe do calor humano que tanto anseio. Os pássaros a única companhia viva nesta véspera de Natal. Passei pela casa dos meus filhotes para lhes dar um beijinho e lhes desejar Feliz Natal. A seguir passei pelo supermercado para comprar algo que se coma. As famílias felizes de fato de treino passeavam-se entre as últimas compras. Eu fiquei-me por um polvo a lagareiro, arroz de pato, 4 sonhos gigantes e uma embalagem de Ben&Jerry´s. E claro está o néctar divino. Que se foda, gastei uma fortuna num Cartuxa para beber sozinho. Deprimente eu sei, pode ser que tenha um efeito hipnótico e me faça adormecer cedo até amanhã de manhã quando todo este inferno natalício tiver passado. Estive a embrulhar os presentes com que vou presentear a minha família. Livros e música, aquilo que mais prazer me dá oferecer e também receber. Esqueçam os perfumes e os pullovers de losangos. Se me querem ver feliz tentem descobrir os meus gostos literários e musicais. O meu Olive debitava The Strokes enquanto os olhos se humedeciam, porque de facto caiu-me a ficha. Posso fingir que não estou triste e sozinho, posso fingir que é um dia como aos outros, mas na realidade sinto-me um farrapo. É nestas alturas que uma pessoa põem questão a nossa própria existência. Se existem amigos, familiares, colegas, se somos queridos ou se a nossa morte passaria em vão após duas ou três palavras de apreço aos mais próximos. Os meus pêsames, sem muito mais a dizer. Doí-me a axila direita, enfiei na cabeça que se calhar tenho mesmo um tumor do pulmão fruto de anos e anos de estupidez. E não deixo de fumar. É inteligente, sobretudo quando vindo de um médico. Quando se chega a um ponto em que a rotina se resume a casa-trabalho-casa devemos repensar a nossa existência. Não podia deixar de escrever. O meu escape, a minha libertação prende-se com estas palavras que poucas pessoas lêem ou apreciarão. Caiu-me a ficha, como já me caiu outras vezes. Mas esta é realmente a primeira vez que passo a consoada sozinho num prédio vazio onde as pessoas foram para santa terrinha em comunhão com as suas famílias. Antes tivesse estado de banco. Aí pelo menos era obrigado a conviver. Com sorte ainda me divertia com os choros dos recém-nascidos neste dia que comemorámos sempre ter a certeza do porquê. Também comprei um presente para ti. Não te vou dar. Mas tenho-o, embora seja teu. Mas isso nunca mais saberás. Hoje caiu-me a ficha e as lágrimas escorrem-me. Acho que vou abrir a garrafa de vinho antes do jantar. 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Lonely Christmas

Há medida que vamos envelhecendo também os hábitos e vivências se vão modificando. Os dados nunca são adquiridos. Existem coisas que pensávamos impensáveis há uns anos e que se transformam em duras realidades mais tarde. É um dia como os outros já me responderam. Então porque é que nos juntamos todos à volta de uma mesa e pelo menos uma vez por ano sentimos que existe família e união. Este ano por vicissitudes da vida vai mesmo ser um dia igual aos demais. Tenho alguma esperança que dê algum filme de Natal na noite da consoada que me preencha a solidão e as saudades daqueles que este ano não a podem comigo passar. Não me posso esquecer de comprar jantar um dia antes ou corro o risco de, para além de sozinho, passar fome. Cozinhar não vai ser opção. O silêncio da casa arranjarei maneira de o violar. Tenho os pássaros para fazer barulho. Este ano não vou ver o Nighmare before Christmas que todos os anos nos tem acompanhado no Natal. Naturalmente não fiz árvore. Para quê? Para a ver cintilar em milhares de cores durante a noite. Para isso tomo LSD e esqueço que o mundo não acabou. Quando era criança o Natal era inviolável. Era o dia em que de manhã encontrava as prendas na base da árvore de Natal e me prendia de pijama, roupão e pantufas quase todo o dia. No prédio era habitual encontrarmos-nos uns com os outros e mostrarmos os novos brinquedos. Não obstante o Natal foi desaparecendo à medida que as avós, tias e tios foram morrendo. Depois surgem os divórcios e os filhos a serem distribuídos como se trabalhassem por turnos. A seguir acabam as relações que nunca tiveram verdadeiramente tempo para amadurecer. De repente o Natal está tão disfuncional como o modelo de família que já não existe. Este ano confronto-me com uma consoada completamente sozinho. Poderia eventualmente ir para a casa dos meus primos mas confesso que não me apetece. Não me apetece forçar sentimentos quando na realidade o que me faz sentido é estar com os meus filhos, com os meus pais, irmã e sobrinha. Não sendo possível vou beber uma garrafa de Moet&Chandon e ouvir Faith no Moore até de madrugada. O Natal do ano passado já tinha sido um pouco estranho. Apesar de ter a casa cheia apercebi-me meses mais tarde que tinha sido o início do fim. Talvez por insensibilidade minha em não entender algumas das coisas que nunca me disseste. Ou então não passou de mais uma das tuas mil e uma desculpas que na tua mente constrois. Ou então mais uma construção tua que tão habilmente usas para justificar actos e decisões. Mas enfim, sem me estender por questões paralelas, as vidas somos nós que as construimos com base nas nossas opções. De facto enviaste-me um sms com essa mensagem e eu concordo plenamente. As atitudes e aquilo que colhemos posteriormente só dependem das opções que tomámos. Eu este ano passo o Natal com os meus pássaros. Tu um dia poderás olhar para trás e perceber o erro que tomaste perante as tuas opções. Ou não. Despeço. Merry Fucking Christmas.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

The End of the World

Bullshit. Uma vez tem piada. Agora a toda a hora na rádio, televisão, jornais e revistas já enjoa. Dentro de um par de horas estou a comemorar o fim-do-mundo a ouvir Moonspell, Bizarra Locomotiva e a ouvir Metal até que me doam os ouvidos. O fim-do-mundo que não há meio de chegar começa num restaurante merdoso lá para os lados do Cais do Sodré rodeado de velhos amigos há mais de 20 anos. Assim, espero mesmo que não chegue. Não quero ir para o além rodeado de homens. Não obstante o fim-do-mundo acontece diariamente sempre que alguém morre. And you never know when that shit will happen. Podia entrar pela tristeza das relações que terminam e as memórias e como fico todo muito triste... mas sinceramente estou farto desse discurso e a vida continua, com ou sem mundo, com ou sem ti. E por assim dizer cheguei ao limite. The End, Finito, Acabadissimo... Foi muito giro enquanto durou e agora fartei-me de rastejar. Estou-me a cagar. Hasta Siempre. Beijinhos e Abraços.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Enough Injustice

Sinto muito. É um sentimento com o qual não consigo confrontar-me. O de injustiça. Já muito pensei sobre a forma como reajo as injustiças. Não só às que recaiem sobre mim mas também sobre as que recaiem sobre pessoas que eu estimo, que eu amo. O sentimento de injustiça revela o pior que há no ser humano. Fico perturbado da mesma maneira quando alguém é beneficiado só porque sim, porque tem os contactos e os genes certos, como por alguém que é prejudicado, atacado, acusado por algo que não cometeu. A injustiça podes-nos atacar em todas as vertentes da nossa vida. No trabalho, no amor, nas relações familiares, de amizade, na política. É pedra basilar do ciúme, da hipocrisia, da sacanice. Tenho tido, ultimamente, alguns exemplos de injustiça dos quais foi alvo, mas também pessoas que eu estimo. E isso entristece-me muito e confronta-me com a podridão em que a humanidade se transformou. Ou então sempre foi. Mesmo as pessoas que eu conheço que tem jogo de cintura e parecem viver felizes é só uma questão de tempo até estoirarem. A única forma de combatermos as injustiças é sermos correctos connosco e com os outros. Porque todos nós mais cedo ou mais tarde também as cometemos. Essa é a verdadeira razão de me opôr verdadeiramente á pena de morte. Quando se comete uma injustiça já é tarde de mais. No amor a injustiça assenta no ciúme cego e no egoísmo e aí não há volta a dar. Chega-se a um ponto em que temos que desistir. Um amigo meu disse-me ontem no final de um telefonema "não desistas" "não desistas". Estava desligado de qualquer contexto mas teve piada. Hoje chego á conclusão que desisto de ti porque tu desististe de mim. E não aceito mais voltas de face. Sempre que tenho tentado fugir tentas-me prender, mas no minuto seguinte me desprezares com base nas tuas injustiças. Hoje desisti. Lamento amigo mas não vou seguir o teu conselho.

domingo, 16 de dezembro de 2012

sad sad sad

hoje acordei triste. na realidade deitei-me triste e acordei no mesmo estado em que me deitara. o tempo está cinzento e chuvoso e isso também não ajuda. mas sinto-me melancólico, deprimido e triste. sinto-me longe de tudo e todos, inclusivé de mim próprio. estou pensativo e em insegurança. este estado de insatisfação leva-me à tristeza. se me perguntarem do que me queixo. pois de facto não sei, mas sinto-me perdido. não tenho aquilo que anseio... sinto-me a envelhecer e sem vislumbres. instabilidade é o que me domina. estou triste e ansioso. apetece-me chorar e não consigo. perco tempo com futilidades e não me organizo como devia. os dias e as noites vão-se sucedendo sem ordem aparente. estas épocas do ano em que a fraternidade e o equilíbrio dever-me-iam trazer paz e é precisamente o contrário. confrontam-me com o meu próprio insucesso nas relações. apetece-me um cigarro e um chá com companhia. e não tenho ou pelo menos não procuro. e isso porque estou triste e melancólico, talvez a precisar de uma boa noite de sono. 

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

camuflagem

És linda como eu te recordo enamorada,
princesa mourisca que desapareceste na madrugada.
Perdi-me no escuro do teu cabelo,
No nevoeiro do teu olhar,
Partiste sem me levar.
Adormeço no duro chão do sofrimento,
que me dilacera a alma,
rasgando-me o coração que já não tolera,
As lágrimas de sangue escorrem-me,
humedecendo o solo que piso,
afundo-me nestas areias movediças
ao teu encontro.
E não te encontro.
Camuflada no teu ser,
envolta em mil teias flutuantes,
os tijolos nessa parede pintada que criaste,
e a minha alma dançante neste lado da escuridão.

sábado, 8 de dezembro de 2012

i have been waiting for so long

Acordo de manhã cedo. Vestido e deitado no sofá. Adormeci ao som de Arcade Fire. Manipulei os meus sonhos e viajei um ano antes, aos saltos, a comer pó, adormecendo no carro, sujo mas com a alma pura e cristalina. Acordei quente, ruborizado, a suar, vitima do meu aquecedor por esquecimento ligado. Lá fora o nevoeiro denso envolvia-me na torre que habito como se voasse por entre as nuvens do teu esquecimento. Acordei sem saber onde estava. Pestanejei várias vezes até me confrontar mais uma vez com a solidão que me invade. Estou á espera, sempre á espera que digas algo, que aceites os meus convites, que tomes iniciativas, que..., que..., que... . Castigas-me por um crime que não cometi. Cada dia, hora, minuto que passam é sentido por mim com um verdadeira punição. Acenas-me com um doce que no minuto seguinte se esfuma em mil e um odores de açucar perfumado. Prendes-me e eu deixo-me prender. Não estás presente nem queres estar mas mantens-me manietado. Sabes que o fazes e sabes que é injusto. Não se pode amar indefinitivamente alguém que não o quer. Não se pode obrigar alguém a esperar eternamente por algo que poderá nunca voltar a acontecer. Despedes-te com um beijo nos lábios, com um olhar doce, com um esgar, porque sabes que têm cola. E depois volta tudo ao mesmo. Tudo aquilo que te queixavas, que não tinha tempo para ti, é em ti que eu o sinto. Quero voltar a amar. Quero quero quero. Preciso de me libertar de ti e não consigo. A ultima vez que nos vimos, que falamos, que nos beijamos, disse-te que não podia parar a minha vida à tua espera. Espero por ti há demasiado tempo sem sequer ter uma sombra de esperança, um acto de carinho, uma mensagem calorosa. Pedes-me e eu faço, talvez por isso seja tão frequentemente abusado na minha existência. É-me difícil dizer não. Não obstante é essencial que o faça, porque na realidade quando faço algo que intimamente não quero as marcas ficam, as pessoas passam de amigos a agressores. Tantos anos de grupanálise e continuo sem me saber defender dos outros. Quero sair daqui. Amanhã apanho o voo para Tóquio e liberto-me de tudo isto que me incomoda. Vai-me custar abandonar amigos, família, colegas e sobretudo tu. Mas chega-se a um ponto de exaustão, de remar contra a corrente, de voar contra o vento, de gritar no vácuo... O reconhecimento é o alimento da alma e neste campo sinto-me em inanição há demasiado tempo. Esgotei o meu tempo. Lamento. Foi um risco que correste, que corremos, que correste... Não aguento mais este sofrimento que me preenche os minutos em que comigo não estás.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Cloud Atlas

Tudo está ligado. No passado, presente e futuro tudo se interliga. As nossas acções têm sempre repercursões. Estas não se esgotam no nosso tempo. Adorei o filme. Também em mim esta filme marca uma fronteira daquilo que foi passado, do presente e do futuro. Tornou-se claro que nunca lá estarás. Esgotaram-se as expectativas. O intervalo marcou o teu entendimento fantasioso e injusto da nossa existência. É sempre possível culpabilizar alguém pelos nossos próprios comportamentos, passados, presentes ou futuros. Chegam-se a pontos sem retorno. Há limites que atingidos marcam as nossas próprias roturas. Há sempre um momentos antes e depois. Querias-me numa redoma de vidro, isolado, manietado e de língua amputada. Querias-me numa redoma enquanto estavas e sempre estiveste do lado de fora. Tudo está ligado e nós tivemos o nosso momento de ligação que se manterá ao longo de toda a eternidade. Mesmo após muitos anos, ao lado de quem o destino permitir, olharás para trás e recordarás este filme como o último momento que estivemos juntos. Recordarás o intervalo acinzentado que criaste no teu espírito. Lembrar-te-ás que mesmo não acreditando foste mais uma vez injusta. E estarás de alguma forma ligada a mim sabendo que tornaste impossível uma conexão com base em falsas premissas. Estaremos ligados ao longo do tempo. Talvez noutra era e noutro espaço sejamos felizes. Talvez a nossa relação se torne pura e cristalina como foi no início e perdure temporalmente como a Cloud Atlas Symphonia. Deito-me para trás e repouso com a mesma walter que dentro de segundos me implodirá a alma. Associo o meu momento de ruptura a este filme que estará sempre presente no meu espírito ligado a ti. Fumei um último cigarro enquanto te via passar. Descansou-me saber que foste em paz contigo mesma, embora os teus comportamentos sejam com base em realidades que só existem no teu pensamento. Penso que esse género de exercícios mentais só servem para nos desculparmos a nós mesmo quando não amamos. A paz que sinto é efémera. Assenta num assumir que existem pontos sem retorno. E tu passaste-os. Tudo está ligado. Mesmo que aparentemente não seja perceptivel.